quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Se é possível sentir saudades do futuro? Coisa mais natural. Se sentir saudade de alguma coisa é relembrar a falta que em nós faz o estarmos privados de um grande bem, então sentir saudades do futuro é sentir que andamos privados da verdadeira Beleza que ainda está aí para chegar. E se sentimos tanta saudade do futuro como do passado, pode muito bem ser que as saudades do futuro que sentimos não sejam mais que a memória dum passado de Beleza que houve e que perdemos, e que ainda havemos de recuperar se cumprirmos no futuro o que havia nesse passado que outrora foi.
não existem obras conjuntas, cada obra é um monumento à solidão e ao silêncio. É por isso que não há escritores, só estátuas solitárias que dedicam o seu tempo à escrita.
a mente não tem nenhum destino por onde vai: quanto mais livre e mais liberta ela está, mais ela voa e mais depressa ela chega onde quer chegar; na verdade a mente vai para onde quer e para onde lhe apetece quando assim lhe dá na asa, e ninguém alguma vez pôde alguma coisa contra isso, e muito menos hoje. Hoje temos todas estas maravilhas tecnológicas, a seu lado efémeras, e a seu lado incitantes à loucura desgarrada - devia dizer desagarrada - das palavras flutuantes que se querem bem amadas e levantes. Não há mais nada a fazer, apenas deixar andar e deixar correr pela estrada fora esses veios onde o nada em tudo mora, deixar correr pelos prados e pelas cidades que não há e deixar que tudo isso nos leve embora de volta ao paraíso que a maçã da Árvore apodreceu ou nunca existiu, o ouro que há nisso é o casamento do Adão ter sido o andar nu e o com chouriço fecundar a Eva em seu altar de pedra e cal e de mármore branca, sonhar com o que vinha e com o ia na dança do hoje, do ontem, do amanhã fundidos em ouro, sonhar com isso dormindo e acordar para o mundo novo.
se Pessoa vivesse no nosso tempo, com todos estes meios tecnológicos à sua disposição, em vez de ter criado 70 heterónimos teria criado 70 x 7

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

o passado já não volta

... o que fica é a memória

até o Agostinho já anda no YouTube



Conversas Vadias com Maria Elisa
parte 1




parte 2



só é pena não haver a terceira parte da primeira destas magníficas Conversas Vadias. A seu tempo, a seu tempo.

domingo, 27 de janeiro de 2008

temos a honra de apresentar


OS BANQUEIROS ANARQUISTAS

continuação do conto filosófico
de Fernando Pessoa
O Banqueiro Anarquista

brevemente numa publicação perto de si



a continuação do conto filosófico de Fernando Pessoa,
publicado na revista literária Contemporânea
e terminado em Lisboa, Janeiro de 1922
todo o autor ainda vivo tem uma coragem estóica: é preciso ter estômago para não se suicidar logo assim que se percebem as maquinações do mundo em que se vive.

sábado, 26 de janeiro de 2008

um curso universitário é um mal necessário para se poder fazer o que se quer.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

domingo, 13 de janeiro de 2008

como é possível alguém amar alguém que nos desagrada completamente pelo seu ser e pelo seu modo de vida? Não há nada de mais possível e provável na vida: cada um vê o seu mundo nos outros, ou o que há nos outros do seu mundo que lhe é próprio, e sempre alheio ao que é imundo, e portanto não mundo. Pode muito bem ser que alguém consiga ver de uma forma límpida e transparente, clara, esse que ama com aquilo que de melhor há nele no espelho de si. E pode muito bem ser que eu, que não sou ele, tenha essa capacidade escondida, ou pelo menos desconhecida, adormecida ou transfigurada naquilo que é próprio a mim. E daí decorre que cada um vê aquilo que ama, e acaba amando aquilo que vê, e somente isso, e pode muito bem ser que a realidade seja apenas um conjunto de todos os fragmentos que cada um vê como mundo, e como individual, uns grandes pedaços desse pequeno todo que não se divide, mas que, por ser grande e estar todo inteiro, e por nós sermos assim tão pequenos, mal se consegue abarcar todo apenas com um par de olhos e uma cabeça para os comandar.

envolvências

in my place

Coldplay.
distractions are the only reason I live about

sábado, 12 de janeiro de 2008

não há nenhuma preocupação de se ser coerente que seja superior à importância que há em deixar em todos os momentos de o ser para ser logo outra coisa qualquer.
a única forma de me manter mentalmente são é libertando-me de qualquer forma de pensamento são.

the reason why things are changing














até as mais pequenas e aparentemente inofensivas séries de adolescentes estão a começar a ter alguma profundidade, estão a começar a revelar os relevos que existem na vida de cada um de nós. Já não se trata da eterna luta entre famílias pobres e famílias ricas, entre amores impossíveis e casamentos encomendados: agora o que é importante é aquilo que mais nos toca, aquilo que está próximo de nós: a nossa família, os nossos amigos, as acções que tomamos na nossa vida e a forma como as consequências se repercutem ao longo de toda a rede social. O que é importante agora é a cultura, não é algo puramente material, os materiais já estão lá; o importante agora é algo que ultrapassa em larga escala, e de uma forma incomensurável, o material. É a evolução cultural e a expressão do potencial de cada um de nós.

Joan of Arcadia, RTP1, Saturdays

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

só há duas maneiras de saber:

a primeira, e mais demorada, é aquela que nos faz aprender com os nossos erros; mas é também morosa, requer um grande poder analítico, e é, na verdade, a mais demorada, e inatingível, porque apenas poderia ser concretizada após experimentar todas as combinações possíveis de tentativa/erro, que são infinitas...

a segunda, imediata, é aquela que faz aparecer na mente toda e qualquer ideia como quem tira um coelho da cartola: é a intuição. É um caminho extremamente traiçoeiro, completamente subjectivo, onde o poder de análise não vale de nada; é contudo o único caminho possível para se saber realmente o que há e o que não há. Podem os homens perder-se por mil caminhos analíticos, e construir diligentemente altares à inteligência e tecnologias cada vez mais cómodas e absurdas, mas não hão-de saber o que move o mundo se não se tornarem, de uma vez por todas, nisso mesmo, que é o imprevisível.
não é que esteja sempre diferente,
os outros é que estão sempre iguais...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

aforismos

vivo às vezes para esquecer que existo.

a maior arte que um homem pode cultivar é o evaporar-se sem deixar rasto.

a matéria existe para dar a conhecer ao espírito todos os caminhos que o separam ainda do Céu.

as vicissitudes da vida são comboios que chegam sempre quando menos esperamos à hora certa.

tudo o que vemos é uma representação do que somos.

o homem é a ponte que liga céu e terra.

ser homem é estar a caminho de alguma coisa, deixar de ser homem é atingir essa alguma e ser coisa nenhuma.

deus é o caminho que os homens inventaram para chegar ao seu centro.

tudo é uma cópia imperfeita daquilo que não pode ser enformado.

nada é novo, tudo é uma mistura daquilo que já existe.

domingo, 6 de janeiro de 2008

sábado, 5 de janeiro de 2008

modo absorvente

às vezes somos todos ouvidos,
outras vezes somos todos mãos.

longínquo e distante

ao recordar no presente o passado de outrora, e a criança que fomos em tempos, tão doce era esse aroma do brinquedo novo que nos compravam! Era a alegria da casa, e uma mão-cheia de aventuras. Tenho saudades desse tempo tão puro, tão despretensioso, tão à margem das ficções sociais, tão próprio, num mundo de maravilha e espanto, de puro espanto, e de descoberta. Quando crescemos querem meter-nos num fato apertado, com um cinto de pele de cobra esfolada, querem pôr-nos uma trela como uma gravata e dizer a que horas nos deitamos e a que horas nos levantamos. É tão bom deixar-se dormir pelo dia adentro, e ficar acordado a escutar a noite que cai lá fora. É tão bom voltar a ser criança e esquecer tudo o que não esteja à frente do nosso nariz em cada momento. É tão bom brincar e sujar a roupa toda e ter a mente noutro lugar quando a mãe nos dá um raspanete. Sinto saudades desse tempo, e tudo de repente parece triste. Se já conseguimos um dia ser tão felizes porque é que não conseguimos voltar a sê-lo?

cast some light and you'll be allright

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

COMO VIVER UMA VIDA GRANDE

Como poderemos nós viver uma vida grande? De tudo o que há na vida, que fazer? Não podemos fazer tudo porque é humanamente impossível. Uma só vida humana não chegaria. Então é forçoso que escolhamos aquilo que queremos fazer. Por outro lado, nem tudo está ao nosso alcance. O termos vindo à luz num local e num dado tempo, o nosso contexto histórico, limita a nossa acção àquilo que, nesse nosso contexto, podemos fazer. Mas mesmo isso é demasiado para uma só pessoa. Devemos, portanto, daquilo que existe ao nosso alcance, escolher o que mais nos agrada. Mas também isso pode ser demasiado para nós próprios. Devemos então procurar, de entre o que mais gostamos, aquilo que mais poder terá nesta vida para nos tornar livres, o mais livre possíveis, que é aquilo que mais nos estimula a imaginação. Mas neste mundo também precisamos de comer e beber, e portanto é preciso encontrar algo que nos permita obter alimento para o corpo. O melhor é optar por aquilo que, de entre o que mais estimula a nossa imaginação, é mais bem visto na nossa sociedade. O que for mais bem visto será aquilo que estará em maior desenvolvimento, e portanto que nos trará maiores descobertas, e também maiores alegrias. Saber viver é saber adaptar-se ao ambiente em que se nasce da melhor maneira: escutando-se primeiro e só depois procurando algo que melhor nos sirva neste mundo; mas sempre tendo em mente que não podemos pedir mais do que o que a terra nos dá.
A razão que faz as pessoas do nosso tempo gostar tanto de Álvaro de Campos é infinitamente estúpida. Primeiro, porque ele era um engenheiro naval, e portanto gostava das máquinas e dos maquinismos, e hoje já nem sequer sabemos viver sem eles, a televisão hoje é uma forma de dependência. Depois, porque ele fazia a exaltação eufórica das maravilhas capitalistas que nos rodeiam por todos os lados, e tantas vezes nos asfixiam. Para além disso, há a sempre presente crença vã numa evolução da sensibilidade que nunca chega a existir, um arrependimento de alguma coisa que se perdeu e já não volta, uma limitação de espírito que nos leva a ficar fechados nas nossas casas e a flagelar-nos com o chicote da saudade. O que havia de decadentista tornou-se decadente. O que havia de decadente, caiu. Não sei se já era assim no tempo de Álvaro de Campos, provavelmente o seria, não com esta intensidade de hoje, mas devia sê-lo. De facto, só hoje as pessoas começam a compreendê-lo - e ainda passarão muitos anos até compreenderem o verdadeiro significado de Caeiro. Mas as pessoas gostam dele porque acreditam que ele nos fez ver o lodo em que iríamos desembarcar. O ópio que não iríamos poder deixar de cheirar. As pessoas gostam dele porque não têm ideias próprias e pensam que não é possível fazer melhor do que aquilo que já está feito. E essas pessoas, as que pensam assim, estão tão mortas como morto está Campos.

Cast some light and you'll be allright