segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
quando encontro uma pessoa verdadeiramente interessante dou por mim a amá-la sem poder fazer qualquer coisa para evitá-lo. O estado do amoroso é algo verdadeiramente incontrolável e insaciável. O desejo erótico apodera-se de mim, e, levando-me até aos êxtases da loucura, impele-me à união com esse ser desconhecido e deslumbrante que me fascina por completo. Só nessas alturas é que o corpo acorda, a lembrar o espírito: a união é puramente mental, e enquanto tivermos este corpo viveremos sempre desassossegados na nossa solidão material. Só quando um dia pudermos ser deuses vivos, e sentir tudo de todas as maneiras; só quando pudermos ser e não ser, ao mesmo tempo, tudo quanto existe e não existe, conheceremos finalmente o nosso lugar no universo. Até lá vamos treinando duramente, e apesar das fronteiras do físico, essa união total: nunca se sabe quando poderemos atingir esse superior nível de consciência. Talvez não precisemos de muito para que se abram asas do interior de nós.
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4 comentários:
indeed
Percebo o que dizes e até me identifico contigo em alguns aspectos...
De qualquer forma, não me parece que a união exista em sentido absoluto ou que seja puramente mental...
É possível a simples união física, mas essa é a mais pontual de todas... E não tem cheiro, nem gosto, para lá do vulgar orgasmo...
Se encontro uma mulher, preciso de algo mais que um "par de tetas e de nalgas"..., certo... É que, quando no fim, se acende o cigarro, se só ficam "as tetas e as nalgas" a coisa não prestou, naturalmente...
Na união sexual, parece-me, há sempre algo para lá do físico (do orgasmo) e esse algo será, porventura, acender o cigarro no durante.
É essa a diferença entre erotismo e pornagrafia e a razão porque o primeiro é sempre o que nos dá mais gosto! Porque, ao fim e ao cabo, é o único que pode durar, de modo a formar o tal conceito de união de que falas, que não considero puro, repito...
Quando lidamos com alguém, procuramos poder ou amor. O primeiro é o cerne da pornografia e o segundo é o cerne do erotismo... Aliás, é interessante a virtude que define o amor: "alteridade"
Ou estarei a leste relativamente ao que tentas trasmitir?
Cumprimentos! :)
Não sei se me fiz entender ou se pequei por usar termos ordinários, que apenas usei para metaforizar...
Mas coloco-te uma questão:
A contemplação das formas e o desejo que essa contemplação impele não é, para ti, um processo físico?
É que, se não for, não há processos físicos e aí já estariamos a desentender-nos nos conceitos...
Sabes, para comunicar, é preciso perceber os conceitos alheios... São as tais coisas que às vezes se perdem na linguagem...
:)
O que é a união? Nada existe sem penetração, nada existe sem dar e receber. Estamos constantemente a penetrar nas vidas dos outros e a ser penetrados por elas. Se não houvesse ligação, seríamos máquinas vomitando óleo escuro. É pela ligação, é pelo vínculo, pelo significado que atribuímos às coisas que as coisas deixam de ser coisas e passam a ser parte de nós. Se existe algo como a união total, então esse algo não pode ser material - como disseste, e bem, aquilo que é material é perecível, e portanto não pode ser eterno. Portanto, se a união existir, ela tem forçosamente de ser mental, espiritual ou transcendente (o nome fica ao gosto do freguês). E aí está a diferença entre erotismo e pornografia. A pornografia é para o corpo aquilo que o erotismo é para a mente - e é bom não esquecer que erótico é o estado daquele que foi possuído por eros, ou o amor. Ora, é precisamente o amor que tem uma substância transcendente, ou mental. É um conceito. E, como tal, é puramente, exclusivamente mental. As várias formas de amar é que já são - em maior ou em menor grau - materiais. É preciso saber distinguir bem estes dois. Agora, tenho é sérias dúvidas quanto à necessidade de invocar "purezas" no que quer que seja... foi o nosso Wilde que disse que não existem livros morais ou imorais, apenas livros bem escritos e mal escritos. E é tudo. Quando lidamos com alguém, se de facto lidamos com essa pessoa, estamos primeiramente e acima de tudo a desenvolver uma ligação. Essa questão do poder ou é desejo sexual de dominador ou é defeito da personalidade que vive numa sociedade em que se inculca desde tenra idade a ideia de que temos de vencer os outros pela competição para triunfar na vida. Nada sabemos acerca do absoluto, só pequenas e pálidas deduções a partir do mundo material que tentamos compreender de forma lógica (seja ela racional ou não). Mas parece-me que não devemos afastar à partida a possibilidade de podermos, um dia - quem sabe se na eternidade - chegar à união total, à união com o universo.
Quanto à contemplação... temos que saber de que formas estamos a falar, não é? É que podemos falar das formas físicas, e essas só podemos apreender com os nossos sentidos, mas também podemos referir-nos às formas conceptuais, e a essas só a inteligência (intelecto) lhes chega. É verdade que podemos medir a concentração e a libertação de certas hormonas e neurotransmissores e correlacionar isso com alguns outros eventos, mas aí estamos meramente a um nível biológico. O amor, por exemplo, é algo muito mais abstracto, tem em conta a vertente psicológica - e até direi espiritual - do ser humano, e situa-se, portanto, a um nível superior. Quer isto dizer que existem mais factores em jogo, e que não podemos em momento algum querer explicar um evento psicológico e espiritual apenas com a biologia. Esse é um erro muito frequente, infelizmente. Temos de encontrar uma resposta que esteja no mesmo nível (psicológico, espiritual) da pergunta que fazemos. Claro que a componente biológica existe e tem influência, mas o importante é perceber que ela não explica tudo, é apenas uma das componentes. Mas mesmo a contemplação das formas físicas tem muito que se lhe diga... como é que a contemplação de um corpo, mesmo se apenas no papel, é capaz de provocar reacções fisiológicas tão intensas? É que isto deita por terra aquela coisa da atracção sexual ser baseada em feromonas e receptores e etc. E perceber o comportamento sexual é outra dor de cabeça: tem componente física, mas também psicológica, espiritual - depende daquilo que vivemos, da nossa identidade sexual, do nosso conceito de beleza, etc. etc. O importante é nunca tentar reduzir um assunto complexo a uma simplicidade que não existe.
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