A Onda (Dennis Gansel, 2009)
Eis a prova de como um filme alemão consegue em três tempos dar cabo de qualquer pseudo-intelectualice francesa. Um prodígio de lucidez, pleno de actualidade, entra pela nossa mente adentro e leva-nos até aos recantos mais sujos, mais subtis e mais sombrios da psique humana. Já fazia falta um filme assim - não só para meter o dedo na ferida alemã que ainda não sarou, mesmo depois do fim do horror nazi, mas também para mostrar a todos como é simples e fácil construir um regime ditatorial em que tudo aparentemente parece funcionar em pleno. A Onda é metafórica, ideológica; e até a presença da água ajuda à semiótica, lembrando sempre o saudoso Palombella Rossa do nosso Moretti. É nesta grande Onda que todos os dias nos tentam afogar, a Onda do Progresso e da Técnica, do Cientificismo e do Capitalismo. É esta a nova religião. E é também a prova de que o ser humano precisa desesperadamente de ideais para viver, de que só vive uma vida plena quando aplica a sua energia e a sua força na construção de um grande ideal. O nosso dever é fazer com que esses ideais sejam ideais realmente elevados: a liberdade total em tudo e para todos. Uma tropa bem mandada pode ganhar a guerra, mas o objectivo de toda a tropa é que a guerra acabe para ser cada um o que é à sua maneira e livre de uniformes.
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