domingo, 30 de agosto de 2009
Não foram raras as vezes que ouvi dizer que gostar de muitas coisas diferentes ao mesmo tempo pode ser muito mais prejudicial que benéfico a alguém. Que a pessoa que se deixa atrair assim não se consegue focar num só assunto, e, assim, não sabe que caminho tomar para chegar até à sua verdadeira vida. Não me parece que estejam certos. Por muitos que os nossos gostos possam ser, por muito que diferentes áreas nos atraiam, a realidade é sempre diferente e distinta dos nossos sonhos. E vai uma grande distância entre a ideia que nós fazemos daquilo que gostamos e os objectos em que essas ideias estão concretizadas. Assim, fácil será sempre que gostemos muito mais dos nossos sonhos que do concreto e áspero sabor da forma corporizada. Podemos gostar de cinema, ou de ver filmes; mas realizar um filme é tão distinto como produzi-lo, escrevê-lo, vivê-lo, criticá-lo. Gostar de ler é uma coisa, mas escrever romances - ou passar a vida a escrevê-los - é outra coisa bem diferente. Fazer aquilo que se gosta é um prazer natural; mas viver disso já é um problema bem maior e que envolve sobretudo o que em nós há de não-artístico. Direi que o difícil não é propriamente encontrar aquilo de que se gosta - toda a gente gosta de alguma coisa - , o difícil é encontrar um trabalho em que possamos aplicar toda a nossa energia numa tarefa que nos realize. A única resposta? Experiência. Temos de experimentar. Temos de passar por tudo o que exista e se relacione com aquilo de que mais gostamos. Não há outra maneira. Tentativa e erro, é a nossa vida. Não há outra maneira.
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