Goldfrapp - A&E
Vivemos para lá do mundo natural. A expressão cultural humana é um prolongamento artificial da natureza. Mas a cultura também é humanizante, e a produção cultural humana humaniza a natureza - isto é, estende para lá do mundo puramente natural da biologia. Os aglomerados humanos, as vilas e as cidades, são tudo formas de humanizar a natureza. Infelizmente, o que se verificou ao longo da história, e o que se continua a verificar, é que se humaniza tanto a natureza que a sua face fica irreconhecível, e tantas vezes destruída. A destruição da natureza durante o seu processo de humanização, ou aculturação ao que é humano, quebra o vínculo biológico que desde o início das espécies nos une ao mundo natural. O tempo deixa de ser cíclico e previsível, como é o da natureza, e passa a ser linear, com uma dinâmica caoticamente oscilante. Mas a verdade é que vivemos num mundo natural, e estamos e somos dominados - quer queiramos ou não - pela nossa natureza biológica, e pelos ciclos do planeta. Se o mais importante foi, em tempos, a imposição da existência à essência, agora parece que é no regresso à essência de cada coisa que está o futuro. Aceitar a nossa natureza biológica, aceitar todas as expressões da nossa natureza biológica com a mínima perturbação vinda do exterior, aceitar a vida e a morte como as voltas cíclicas de um movimento que não pode ser parado: eis a solução. Se a nossa existência é cíclica, então a ela havemos de retornar sempre.
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