sexta-feira, 14 de março de 2008

a literatura nasceu no preciso momento em que alguém se sentiu descontente com a vida neste mundo. Todo o escritor é um eremita da modernidade. O escritor recolhe-se do contacto com outras pessoas porque as despreza, ou então porque está profundamente descontente com elas. A literatura consiste num escape à realidade porque permite que a mente esteja voltada para si mesma; ela permite que a mente se dedique exclusivamente ao acto de criar, e à imaginação, que é a mãe da criação. Assim, todas as verdadeiras obras literárias são uma tentativa de elevação; uma elevação individual porque permitem ao escritor desprender-se das amarras históricas que o prendem com severidade; uma elevação colectiva porque, ao serem lidas por qualquer pessoa que as saiba entender, podem lançar a humanidade num outro nível de consciência que lhes permita também libertar-se das deformidades históricas - e sobretudo sociais - em que vivem. A função da literatura é, assim, libertar; e nós podemos ver isso analisando as várias obras que foram escritas ao longo da história: as que mais libertaram - as amarras da mente como as amarras do corpo - foram aquelas que maior agitação social causaram, exactamente porque eram as mais livres de deformidades, e que portanto mais entravam em conflito com as deformidades existentes.

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