quinta-feira, 1 de maio de 2008

Como cultivar a Ciência em Portugal?

1. Identificar quais os locais onde presentemente se faz Ciência e os cientistas que lá desenvolvem o seu trabalho. Qualquer medida que se tente implementar sem uma plena consciência da realidade científica de um país é uma medida sem fundamento. Uma vez conhecidas as condições que já existem, tomar medidas para fomentar essa que deve ser uma base de partida inicial: fundos para a manutenção das instituições que já existem, bolsas de investigação para cientistas já estabelecidos, instrução pós-graduada de cientistas.

2. Uma vez assegurado um pano de fundo de investigação científica que se consiga desenrolar segundo a sua própria dinâmica, é preciso avaliar qual a proporção de cientistas que sai duma universidade e não tem emprego onde desenvolver as suas actividades. O passo seguinte será então assegurar que a continuidade que foi assegurada dentro de apenas uma geração de cientistas pode transbordar para as próximas gerações de cientistas. Assim, o que é preciso é dar bolsas de investigação para que os novos cientistas possam começar, criar parcerias entre as universidades e as instituições, estabelecer programas para desenvolver teses de mestrado e doutoramento que sejam facilmente articuláveis entre essas diferentes instâncias. Por outro lado, a nível das instituições, é preciso pensar seriamente na reestruturação: primeiro começar pela reorganização do espaço que já existe, depois pela ampliação que for possível dos espaços que já existem; e havendo, assim, lugares disponíveis para serem ocupados, avançar com esses programas de intercâmbio universidade-instituição. A última hipótese a considerar será certamente a de se construirem laboratórios novos, e essa só é levada a cabo se a oferta não conseguir de forma alguma suportar a procura.

3. Finalmente, garantindo uma conservação do que já existe, é tempo de pensar em dar a informação necessária, e que seja relevante e construtiva, às novas gerações. O objectivo aqui não será atrair quem quer que seja para a investigação científica; o que se pretende é dar a conhecer o que existe, e as suas características, da forma mais livre e espontânea que nos for possível, para que todos aqueles que queiram - e aqui está o cerne de todo o sistema de ensino: a motivação em aprender - seguir uma carreira científica a possam seguir. Trata-se de instrução e não - e nunca! - educação.


Assim, porquê pôr tanta importância em modificar o actual sistema de ensino se as medidas que visam as gerações mais recentes não são a prioridade com que nos devemos ocupar em primeiro lugar? Há uma razão bastante simples e clara para isso: é que o sistema de educação não pára! Mesmo enquanto aqui falamos, centenas e centenas de jovens estão na escola a levar com a educação que prepararam para eles. Isto é, enquanto tentamos implementar essas primeiras medidas, de acordo com o que expusémos, os alunos vão continuar a ser educados à maneira antiga, com programas de qualidade duvidosa, e sendo obrigados a decorar dúzias de factos sem relação entre si. Portanto, porque não tentar pôr a motivação de cada um a seguir o seu próprio destino logo desde o início? Quem sabe se essas medidas não nos permitem chegar mais depressa à meta... Mas também nos deparamos com outro problema, que é o de saber por onde começar. Ainda assim, podemos também aqui seguir pelo caminho mais simples, que é por onde se deve realmente começar antes de tentar realizar os grandes ideais: uma medida muito simples que poderia pôr rapidamente o mundo a funcionar melhor pelas escolas era exactamente a elaboração de manuais escolares, com uma orientação pedagógica bem definida, em que os assuntos fossem apresentados o mais objectivamente possível numa perspectiva diacrónica, ou evolutiva - se se preferir assim chamar. Isto é, o que é preciso é dar relevo às situações e aos aspectos que foram realmente importantes ao longo da história ou da evolução do conhecimento de uma determinada área do saber. Esta medida terá certamente ainda de ser complementada com uma nova visão da aprendizagem que terá de ser transmitida aos futuros professores das novas gerações. Mas essa será a parte mais difícil do processo...

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