o poema da ceifeira
Ela canta, pobre ceifeira,/Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa,
e a sua voz, cheia/De alegre e anónima viuvez,//Ondula como um canto de ave/No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave/Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse/Mais razões pra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão!/O que em mim sente stá pensando.
Derrama no meu coração/A tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu!/Ter a tua alegre inconsciência,/E a consciência disso!
Ó céu!/Ó campo! Ó canção!
A ciência/Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai/Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
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