quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

História e Ciência

Como se fazem encantamentos rituais para desassombrar casas, a História devia servir para isso mesmo, para, estudando-a, nos desassombrarmos do passado naquilo que ele já teve de superado. História para que o passado se estenda a uma luz do presente e para que possamos construir um futuro que, lógico com o que esteve para trás dele, marque, no entanto, um avanço. Direi mesmo, marque um progresso. Mas em que sentido um progresso? No único sentido em que a palavra pode ser tomada, quando se trata da aventura humana: no sentido de que se pretende para o homem cada vez maior liberdade para poder ser o que é na essência; por outras palavras, cada vez mais direito de cumprir o que é seu dever, seu único dever; repetindo o que disse já, tanta vez, e direi sempre: o dever de ser santo.

O que nos interessaria sobretudo na História seria dar conteúdo actual, ou melhor, conteúdo eterno ao que acaba por aparecer como um empoeirado, como um arqueológico episódio do passado.

Mas se, excepcionalmente, nos não desprendemos da História, é através dela que a eternidade se nos revela...

O primeiro passo a dar é, porém, o da História. Ela é a nossa vida (...); o entendimento racional da História, nas suas origens, em todo o seu desenrolar e nos seus fins últimos, mostrará como toda ela vem, e em todas as suas características, de alguma vez ter suposto o homem que eram melhores os seus próprios planos do que os planos de Deus, de que era melhor mandar do que obedecer, de que, finalmente, valiam mais as suas pobres geometrias a três, quatro, cinco ou n dimensões do que a fundamental geometria divina, a geometria a dimensão alguma. (...) A História vai ser simples quando for entendida; o homem vai ser humilde quando entender a História; quando ela, para ser entendida, se tiver feito geometria.

De qualquer modo, se vai ser um grande caminho para a paz o de, pelo paciente esforço dos menos inteligentes ou pela fulgurante chegada dos mais inteligentes, se entender a História do mundo e por ela a nossa posição no dito mundo, e se vai a Paz consistir fundamentalmente em, pela clarificação geométrica da vida, voltarem ao Pai todos os seus filhos pródigos, a grande força de avanço, o grande motor deste passar dos povos não está verdadeiramente nos que se deslocam, mas nos que de alguma forma vão participando do movimento, para que não falte companhia aos que marcham, mas na realidade já há muito chegaram.

As Aproximações, Agostinho da Silva



Sem o saber, ou mesmo adivinhando-o, Agostinho da Silva lançou as bases do novo sistema pedagógico que virá para substituir todo o velho sistema pedagógico que vigora hoje no ensino da Ciência. Esse sistema será tão incomensuravelmente superior ao anterior que conseguirá fazer uma grande proeza: não só irá reformar a velha pedagogia para instruir uma nova no campo das ciências, mas ainda mais: irá dar, ao mesmo tempo, uma nova forma de olhar para a História numa perspectiva diacrónica e contextualizada das pessoas que a fizeram e da evolução das ideias dos homens; e tanto a História como a Ciência sairão fecundadas de tamanha arte.

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