Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde
c'est
l'impressioniste
Monet
4 comentários:
O pintor que era poeta ou o poeta que era pintor? =P bjinho
Cesário Verde é o pintor que era poeta. Basta ler uma poesia dele para ver isso: ele não fazia poesia, ele pintava quadros. Este poema é exemplar nesse aspecto, conseguimos visualizar com nitidez as matizes com que o pintor pinta o seu quadro impressionista. E olha que a fazer isso como ele não há muitos que o consigam.
Beijinho
De facto, a escrita parece um desenho feito com mão certeira. Traçado perfeito.
t
um perfeito traço impressionista. O poema é uma merenda para a imaginação!
abraço
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