na verdade é mais ao contrário: a história é o esforço que o homem faz para explicar o presente... e isso é imprescindível para sabermos quem somos hoje. O que somos hoje é a consequência daquilo que os nossos antepassados foram há muito tempo atrás. E depois há uma coisa mais importante ainda que isso, é que analisando a história e comparando-a com o presente podemos ver se estamos mais longe ou mais perto de atingir o ideal absoluto, vamos dizê-lo, da humanidade: a liberdade absoluta. De facto, parece que sim! Por outro lado, temos que ver outra coisa ainda: é que quase tudo na vida é história. Tudo o que vemos, o que lemos; isso tudo é história, tudo isso é uma memória que ficou gravada num presente que já é passado... a Arte não escapa a isso, e a Ciência muito menos. A Arte que hoje temos é o resultado de todas as dialécticas estéticas que para aí houve. A Ciência que nós temos hoje é o resultado de todas as experiências que foram feitas até hoje. O que interessa é que tanto a Arte como a Ciência se inserem num contexto histórico, e portanto são reflexos mais ou menos deflectidos de uma dada circunstância.
...acho que cada um de nós está a focar-se em perspectivas diferentes do conceito de história como ciência: a história até pode ser o esforço idílico de explicar o passado/presente e prever o futuro (?), mas na prática isso não acontece, porque se assim fosse o presente (esse conceito relativo) não seria uma repetição sob uma realidade moderna de muitos acontecimentos passados, e falo numa perspectiva socio-economica, e na tal busca do ideal (?); é claro que a realidade presente é a soma do passado (da "história" como conceito que se refere à memoria economica, social, filosofica,etc,etc) mas não da história como ciência. a "história" como ciência torna-se "infrutífera" porque ela mesmo esta condicionada ao momento presente, nos seus diferentes espectos quotidianos vigentes (sistema politico, economico, social, etc,etc)...tens razão em dizer que a arte e ciência se enquadra nas épocas "históricas", mas pouco admitem o mesmo na história...é por isso que acho que a história é a vaidade humana em tentar explicar o passado...aconselho-te o livro 1984 de George Orwell...
Precisamente. Aquilo que comecei por fazer foi explicar o que é que queria dizer quando escrevi este aforismo. O que estás a dizer é outra coisa. Ali, história significa a memória daquilo que passou; e é muito importante não confundir aquilo que realmente se passou com o modo como todas essas coisas foram registadas e apresentadas sob o nome de "história", aqui na tua acepção de ciência. Para clarificar as coisas vamos chamar a esse estudo sistemático e quase científico da história historiografia, que é como me parece que ele deve ser chamado. (Temos forçosamente de considerar que este estudo não é científico porque a ele escapa a objectividade matemática da ciência, como bem notaste. Toda a historiografia é subjectiva enquanto retrato daquilo que aconteceu porque é impossível eliminar a influência do observador na sua observação. Já a Ciência tem a matemática, que torna as coisas muito mais objectivas por causa dos números. Ainda podíamos pensar em matematizar a historiografia, mas parece-me que a cultura é algo complexo demais para poder ser matematizado, não é verdade? Além disso, já vimos com o teorema da incompletude do Gödel que provavelmente nem sequer a matemática é assim tão inexpugnável em termos de objectividade, e talvez ela só seja perfeitamente objectiva no domínio dos seus axiomas.) Portanto, Arte, Ciência e Historiografia todas estão dependentes do (condicionadas pelo) seu contexto histórico, e na verdade talvez tudo esteja mesmo dependente do contexto histórico, e arrisco-me a dizer que até a matemática. Por outro lado, não posso concordar que toda a historiografia seja infrutífera. O que me parece é que temos que ler muito bem várias fontes, sobretudo as fontes primárias, compreender o pensamento e o modo de vida de outras épocas, e só aí, já bem calejados nessas andanças, podemos atribuir maior ou menor verosimilhança às coisas que foram escritas (escritas ou, na verdade, feitas, porque também os monumentos e as pinturas são documentos históricos). O que torna a actividade do historiador muito mais difícil, mas mais objectiva. O que interessa, sobretudo, é compreender o pensamento da época, com o mínimo de expectativa ou influência da nossa parte. Se fizermos isso parece-me possível que consigamos interpretar melhor a evolução da história, e ver a história como um todo. Com certeza que a história está cheia de repetições, e podemos facilmente indicar maus exemplos; mas se calhar esses maus exemplo existiram exactamente devido a uma má interpretação daquilo que realmente aconteceu, ou da historiografia. O poder e as sensações mais mesquinhas podem cegar muito as pessoas, é aí que nos instalam uns big brothers para nos controlar. Indica isso que não houve evolução para melhor? Basta olhar para a tecnologia, para o conforto que nós hoje podemos ter! A informação nunca esteve tão dispersa e acessível a todos como agora, se formos comparar as diferentes épocas da história recente. (nalguns casos, diria que até dispersa demais...) Parece-me que isso é um grande bem. Se há vaidade ou não, depende de quem a faz!
Realmente gerou-se aqui uma bela discussão. Muito obrigado pelo teu contributo.
nesta história temos sempre duas possibilidades: achar que somos nós os autores das ideias que encontramos na nossa cabeça; ou, por outro lado, mantermo-nos sempre receptivos para que a nossa cabeça, como boa antena colectora de ideias, seja confortável o suficiente para que elas se amiguem de lá pousar. Pelo sim pelo não, vou mais por deixar a cabeça suficientemente livre e vazia de qualquer pensamento para que eles nunca se incomodem de lá parar para ganhar força e seguir adiante.
4 comentários:
...e eu que pensava que era a irreverência humana...continuo a ver a história como a vaidade humana em tentar explicar o passado...
na verdade é mais ao contrário: a história é o esforço que o homem faz para explicar o presente... e isso é imprescindível para sabermos quem somos hoje. O que somos hoje é a consequência daquilo que os nossos antepassados foram há muito tempo atrás. E depois há uma coisa mais importante ainda que isso, é que analisando a história e comparando-a com o presente podemos ver se estamos mais longe ou mais perto de atingir o ideal absoluto, vamos dizê-lo, da humanidade: a liberdade absoluta. De facto, parece que sim! Por outro lado, temos que ver outra coisa ainda: é que quase tudo na vida é história. Tudo o que vemos, o que lemos; isso tudo é história, tudo isso é uma memória que ficou gravada num presente que já é passado... a Arte não escapa a isso, e a Ciência muito menos. A Arte que hoje temos é o resultado de todas as dialécticas estéticas que para aí houve. A Ciência que nós temos hoje é o resultado de todas as experiências que foram feitas até hoje. O que interessa é que tanto a Arte como a Ciência se inserem num contexto histórico, e portanto são reflexos mais ou menos deflectidos de uma dada circunstância.
...acho que cada um de nós está a focar-se em perspectivas diferentes do conceito de história como ciência: a história até pode ser o esforço idílico de explicar o passado/presente e prever o futuro (?), mas na prática isso não acontece, porque se assim fosse o presente (esse conceito relativo) não seria uma repetição sob uma realidade moderna de muitos acontecimentos passados, e falo numa perspectiva socio-economica, e na tal busca do ideal (?); é claro que a realidade presente é a soma do passado (da "história" como conceito que se refere à memoria economica, social, filosofica,etc,etc) mas não da história como ciência. a "história" como ciência torna-se "infrutífera" porque ela mesmo esta condicionada ao momento presente, nos seus diferentes espectos quotidianos vigentes (sistema politico, economico, social, etc,etc)...tens razão em dizer que a arte e ciência se enquadra nas épocas "históricas", mas pouco admitem o mesmo na história...é por isso que acho que a história é a vaidade humana em tentar explicar o passado...aconselho-te o livro 1984 de George Orwell...
Precisamente. Aquilo que comecei por fazer foi explicar o que é que queria dizer quando escrevi este aforismo. O que estás a dizer é outra coisa. Ali, história significa a memória daquilo que passou; e é muito importante não confundir aquilo que realmente se passou com o modo como todas essas coisas foram registadas e apresentadas sob o nome de "história", aqui na tua acepção de ciência. Para clarificar as coisas vamos chamar a esse estudo sistemático e quase científico da história historiografia, que é como me parece que ele deve ser chamado. (Temos forçosamente de considerar que este estudo não é científico porque a ele escapa a objectividade matemática da ciência, como bem notaste. Toda a historiografia é subjectiva enquanto retrato daquilo que aconteceu porque é impossível eliminar a influência do observador na sua observação. Já a Ciência tem a matemática, que torna as coisas muito mais objectivas por causa dos números. Ainda podíamos pensar em matematizar a historiografia, mas parece-me que a cultura é algo complexo demais para poder ser matematizado, não é verdade? Além disso, já vimos com o teorema da incompletude do Gödel que provavelmente nem sequer a matemática é assim tão inexpugnável em termos de objectividade, e talvez ela só seja perfeitamente objectiva no domínio dos seus axiomas.)
Portanto, Arte, Ciência e Historiografia todas estão dependentes do (condicionadas pelo) seu contexto histórico, e na verdade talvez tudo esteja mesmo dependente do contexto histórico, e arrisco-me a dizer que até a matemática. Por outro lado, não posso concordar que toda a historiografia seja infrutífera. O que me parece é que temos que ler muito bem várias fontes, sobretudo as fontes primárias, compreender o pensamento e o modo de vida de outras épocas, e só aí, já bem calejados nessas andanças, podemos atribuir maior ou menor verosimilhança às coisas que foram escritas (escritas ou, na verdade, feitas, porque também os monumentos e as pinturas são documentos históricos). O que torna a actividade do historiador muito mais difícil, mas mais objectiva. O que interessa, sobretudo, é compreender o pensamento da época, com o mínimo de expectativa ou influência da nossa parte. Se fizermos isso parece-me possível que consigamos interpretar melhor a evolução da história, e ver a história como um todo. Com certeza que a história está cheia de repetições, e podemos facilmente indicar maus exemplos; mas se calhar esses maus exemplo existiram exactamente devido a uma má interpretação daquilo que realmente aconteceu, ou da historiografia. O poder e as sensações mais mesquinhas podem cegar muito as pessoas, é aí que nos instalam uns big brothers para nos controlar. Indica isso que não houve evolução para melhor? Basta olhar para a tecnologia, para o conforto que nós hoje podemos ter! A informação nunca esteve tão dispersa e acessível a todos como agora, se formos comparar as diferentes épocas da história recente. (nalguns casos, diria que até dispersa demais...) Parece-me que isso é um grande bem. Se há vaidade ou não, depende de quem a faz!
Realmente gerou-se aqui uma bela discussão. Muito obrigado pelo teu contributo.
Enviar um comentário