sábado, 4 de outubro de 2008
Porque é que o método para pôr o mundo verdadeiramente a funcionar só pode surgir num país à beira-mar plantado
Um país que tenha uma longa linha de costa apresenta várias características que fazem dele um sítio ideal para sonhar o mundo do futuro. De todas elas, porém, o facto de ter uma linha de costa onde a terra emerge do oceano é a mais importante. Ao olhar da praia o mar azul, rapidamente nos podemos aperceber de um fenómeno curioso: ao longe, pelo infinito, não se distingue o que é céu do que é mar. Portanto, se na proximidade da praia as vagas são facilmente destrinçadas do azul cristalino do céu, à medida que a distância aumenta, e o olhar se expande; à medida que o mar se acalma na profundidade da sua existência, sem esforço se eleva ele para o céu, ou este desce prontamente a fecundá-lo. Simbolicamente, significa isto que da composição física e finita do mar, esse caldo primordial e obscuro de onde tudo proveio, se pode chegar ao oiro que dança em cada partícula que faz do nosso céu o seu azul tão puro. Não existem barreiras a qualquer empresa humana que surja no espírito; e talvez tenha mesmo sido esse olhar para o infinito que desenvolveu o pensamento abstracto e imaginativo dos portugueses, inventores natos por excelência, e que tantas riquezas trouxe ao mundo que hoje amamos e conhecemos. As linhas que dividem o que são as vagas de o que o vento é fundem-se no horizonte amplo. Talvez seja por isso que aos portugueses é tão querido o jogo dos contrários que alegremente coexistem parindo paradoxos.
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