segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Os livros proporcionam um meio para a transmissão de ideias que não encontra comparação nas demais formas de expressão... Essas podem ser tão boas ou melhores em matéria de entretenimento, comoção ou provocação de reacção emotivas, mas a palavra impressa continua a ser o meio mais importante para a comunicação espiritual em que se baseia a nossa civilização.

um hino à liberdade no magnífico Os Sete Minutos, de Irving Wallace

domingo, 30 de agosto de 2009

parece-me que a virtude máxima que faz um grande escritor é a de saber mostrar, e ser capaz de pôr por palavras, aqueles aspectos mais recônditos da psique humana de que toda a gente já ouviu falar e que, ainda assim, persiste teimosamente em ignorar. Não é o tempo que faz um escritor ser grande aos olhos dos outros, é apenas a evolução da sociedade.
não há bons ou maus livros; há bons leitores e maus leitores.
um livro é interessante quando possui duas características. Primeiro, a mais importante, é partir de uma premissa interessante e original, de algo que marque a diferença e o cunho pessoal do seu autor. (é impossível não reparar na originalidade das ideias do Saramago, de passarolas voadoras até cegueiras colectivas e jangadas de pedra.) Depois, e a única razão válida para ler um livro até ao fim, é a imprevisibilidade da narrativa. Se conseguimos facilmente adivinhar o que vai acontecer em seguida, então não há nada que nos prenda à leitura de um livro. (o livro tem de saber cativar quem o lê.) Entre estas duas, e a uni-las, está a característica imprescindível - o livro tem de estar bem escrito.
Cada crítico fala sempre em seu próprio nome, e nunca em nome de mais alguém.
Escrever é, para mim, uma forma de me compreender.
Não foram raras as vezes que ouvi dizer que gostar de muitas coisas diferentes ao mesmo tempo pode ser muito mais prejudicial que benéfico a alguém. Que a pessoa que se deixa atrair assim não se consegue focar num só assunto, e, assim, não sabe que caminho tomar para chegar até à sua verdadeira vida. Não me parece que estejam certos. Por muitos que os nossos gostos possam ser, por muito que diferentes áreas nos atraiam, a realidade é sempre diferente e distinta dos nossos sonhos. E vai uma grande distância entre a ideia que nós fazemos daquilo que gostamos e os objectos em que essas ideias estão concretizadas. Assim, fácil será sempre que gostemos muito mais dos nossos sonhos que do concreto e áspero sabor da forma corporizada. Podemos gostar de cinema, ou de ver filmes; mas realizar um filme é tão distinto como produzi-lo, escrevê-lo, vivê-lo, criticá-lo. Gostar de ler é uma coisa, mas escrever romances - ou passar a vida a escrevê-los - é outra coisa bem diferente. Fazer aquilo que se gosta é um prazer natural; mas viver disso já é um problema bem maior e que envolve sobretudo o que em nós há de não-artístico. Direi que o difícil não é propriamente encontrar aquilo de que se gosta - toda a gente gosta de alguma coisa - , o difícil é encontrar um trabalho em que possamos aplicar toda a nossa energia numa tarefa que nos realize. A única resposta? Experiência. Temos de experimentar. Temos de passar por tudo o que exista e se relacione com aquilo de que mais gostamos. Não há outra maneira. Tentativa e erro, é a nossa vida. Não há outra maneira.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

5 vezes 70 x 7

Há já muito tempo que não via um programa na televisão que realmente fizesse pensar. E que fique bem claro: fazer boa comédia é muito mais difícil do que engendrar um dramalhão de fazer chorar as pedras da calçada. --->Ah, e pelo caminho também vamos ficando a saber o significado de alguns verbos portugueses que são realmente um primor. Para aperalvilhar as noites de seg. a sex.

i don't want cinema, i want LIFE

don't give me cinema, i want LIFE

don't give me cinema, give me LIFE

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

para cima!


Absolutamente extraordinário. Sempre lá em cima, sempre lá no alto; a mostrar que tudo o que é sólido se dissolve no ar, a mostrar que o sonho é tão leve que é capaz de transportar até a mais densa matéria. Os filmes que criticam o mundo em que vivemos são bons, e muito necessários nos tempos em que vivemos; mas os filmes que nos fazem sonhar são ainda mais necessários porque nos enchem de beleza, e nos inspiram a perpetuar essa beleza que sentimos. Todo o UP é um filme profundamente adulto (desenganem-se os que pensam que filmes de animação são filmes para crianças), profundamente consciente do mundo em que vivemos, dos problemas que todos nós temos, e da melhor maneira de os ultrapassarmos. E o melhor é que podemos fazer tudo isto a rir. O riso enquanto força terapêutica, tão fundado na caricatura (mais na caricatura do que no estereótipo, diria), é a forma mais simples de fazer passar facilmente mensagens duras e imagens cruas de aspectos da nossa realidade que apenas muito dificilmente seriam passados em dramas ou tragédias. Atrevo-me a dizer que a Pixar - justa herdeira do legado Disney - está a conseguir levar a magia Disney a um patamar novo, sem dúvida superior, e plenamente adaptado aos tempos de hoje. Assim se prova a força que o desenho animado tem - seja ele em papel ou em pixel.

o elixir da juventude

Então não é que o cartão jovem vai passar a valer até aos 30? Aplauda-se esta medida fantástica. Alegrem-se todos os super-25 e sub-30, vão passar a ser jovens! Finalmente, e depois de tanta alquimia barata, encontrou-se o verdadeiro elixir da juventude. O poder que um papel tem.

Mas esta medida é em muito assisada, e facilmente se percebe porquê. Apesar do que nos mostram nos Morangos com açúcar, os rapazolas que têm hoje 18 anos parecem ter antes 14 ou 15, e os que têm 21-22 (e, nalguns casos, até 23!) parecem não ter mais de 18, e isto na melhor das hipóteses. Por extensão matemática, é claro que quem chega aos 30 só pode (ainda) ser jovem. Trata-se não de mais uma burocracia, trata-se de ajustar à faixa etária a realidade do mundo em que hoje vivemos. A infantilização começa hoje bem cedo, com as novas creches pré-formatantes e com a televisão. Depois, prossegue pelos pais e pela escola, pela universidade e pelo trabalho.

Mas aplaude-se a medida. É bom ser jovem até aos 30, é bom continuar a ser jovem para além dos 30 e nunca entrar nesse mundo terrível dos adultos, dos horários e do trabalho sobrecarregante e mal pago. Bom, se formos a ver bem, se ser jovem significa ter estudado para ter um grau académico e não conseguir arranjar um emprego estável e compensatório (já nem digo estimulante!), viver em casa dos pais porque não se tem dinheiro para ter casa própria, ser pago a recibos verdes, fazer de equilibrista na corda-bamba da precariedade, aturar chefes chatos e incompetentes, ser olhado com desconfiança, e não nos darem ouvidos mesmo nas áreas em que somos especialistas, então compreende-se perfeitamente que agora a juventude se expanda até aos 30. E se a geração 1000€/mês continua assim, é bem possível que passemos a ser jovens até aos 40. Por mim, vou gozando de mais uns descontos até ser grande.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

detesto a maneira como os franceses conseguem encher de filosofia e palavras caras um assunto perfeitamente desinteressante, e fazer dele a coisa mais interessante do mundo. Só revela a sua falta de criatividade e o seu pretensiosismo.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Teoria da Comunicação ou Jornalismo?

Parece-me que faz muito pouco sentido tirar um curso de Jornalismo (não é Jornalismo, é Ciências da Comunicação*) para se poder ser jornalista. Ao jornalista não se pedem muitas coisas: tem de escrever em bom português e saber ser o mais claro possível, e tem de saber sintetizar e ser conciso - tem de ir direito à questão. Visto assim, até nem parece muito (aprender a ler, escrever e contar é um dos requisitos para o ensino secundário). O curso só pode ser eminentemente prático. Então o que falta? Falta aprender a estruturar as várias formas de notícia, como funcionam os meandros do Jornalismo e a organização das redacções. Ah, e - claro - a ter um sentido fortemente crítico, e especialmente no que toca a fontes. Dou razão a algo que ouvi do Baptista Bastos há muito tempo: alguém com um curso de História dava um bom jornalista (se repararem, todos os requisitos para ser um bom historiador - excepto os pormenores mais técnicos do jornalismo - são os requisitos para se ser um bom jornalista). Nunca é demais lembrar, e especialmente hoje em dia, que a importantíssima distinção entre fontes primárias e secundárias é algo que devia ser central a um jornalista. Mas vou ainda mais longe que o Baptista Bastos. Acho que qualquer pessoa com um 1º ciclo de Bolonha pode dar um óptimo jornalista, e explico porquê. Aos jornalistas é exigido que saibam tudo sobre a actualidade noticiável. Ora, este pedido é simplesmente idiota. Não é possível a alguém perceber tudo sobre todos os temas da nossa actualidade!! Para se ter um jornalismo de qualidade em que cada notícia apresenta a informação que é mais importante de cada situação, é preciso que quem a faz seja um especialista na matéria. Ora, só existem especialistas depois de haver uma especialização. Por essa razão é que um curso de Jornalismo (aqui sim, Jornalismo; nada de teorias da comunicação) bem estruturado teria de ser sempre um 2º ciclo de Bolonha. Apenas isso. Assim, pessoas que se especializam em Biologia, ou História, ou Economia, ou Filosofia, ou Política, ou Sociologia, ou Literatura, ou outra, num 1º ciclo de Bolonha, aprenderiam, se assim o entenderem, e em apenas dois anos (que chega perfeitamente para a aprendizagem), num 2º ciclo de Bolonha, a construir notícias e a escrever claro acerca da sua especialização.

NOTA:
Apesar de achar isto, não concordo que se acabe de vez com a teoria da comunicação. Simplesmente, o seu lugar no jornalismo é bastante restrito. Essas cadeiras de teoria da comunicação seriam facilmente repartidas entre departamentos de linguística, filosofia, sociologia e literatura. A cada coisa o seu lugar.



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*Note-se o que o cientificismo da nossa época fez às áreas do saber que não são - e é bom repetir aqui, não são - científicas: tudo aquilo que pôde ser feito para tornar algo que não é científico em algo que se aproxima do científico foi feito - colar o rótulo 'científico' em alguma coisa é mais de meio caminho andado para legitimar essa coisa sem se dar ao trabalho de dar uma justificação minimamente lógica para o fazer. Outra noção errada que esta nomenclatura arrasta é a noção de que as notícias podem ser objectivas. Não há uma só notícia que seja objectiva (uma notícia é uma perspectiva, uma selecção dos factos que são, para um dado jornalista, mais relevantes), e especialmente no mundo em que vivemos, tão sujeito a pressões sensacionalistas (quase sempre de base capitalista) e de poder/autoridade (quem manda no que sai no jornal é o grupo económico que o comprou). Na verdade, este nome tão científico para um curso de letras está de acordo com a concepção (errada, pois claro) de que ele tem de ser um curso de teoria da comunicação, e não de jornalismo.

O Objectivo do Cinema

Falar do objectivo do cinema é, antes de mais, achar que o cinema tem um objectivo. Nada de mais errado. O cinema não tem, nem pode ter, nenhum objectivo. O cinema é pura e simplesmente uma expressão da criatividade humana, e a criatividade humana não tem nenhum objectivo.

O homem é um ser criador por natureza, e portanto não pode viver sem criar. Há no homem um instinto natural para a criação, e essa criação é sempre a expressão do seu potencial individual. O objecto criado - seja ele qual for - procede sempre da sua criatividade (ela é a sua causa), mas não surge para um fim definido. Para que surge a ideia de um filme quando um filme não passa de uma ideia? Para nada. Não há qualquer utilidade que lhe possamos apresentar.

O homem tem prazer em criar coisas belas, o homem também tem prazer em contemplar essas coisas belas; mas isso em nada nos diz que uma obra tenha um objectivo, e que esse objectivo é o de dar prazer, ou servir a contemplação de alguém: isso é apenas uma consequência natural do processo criativo. É por isto que é tão difícil justificar a existência das artes numa sociedade doentiamente utilitarista e perversamente capitalista. E, contudo, é esta grande diferença que nos separa dos restantes animais.

Sendo o criar aquilo que de mais natural o homem tem, não é menos verdade que nem todos se podem entregar livremente ao processo artístico. Estamos longe de viver num mundo ideal. E todas essas imposições utilitárias, práticas, e capitalistas, acabam sempre por se sobrepôr. Não está certo. Mas é exactamente por todas essas imposições que o cinema deve ter um objectivo, uma utilidade.

É certo que o cinema tem, de algum modo, ter uma utilidade capitalista. Sem receita para investir - venha ela de onde vier - não há cinema nenhum. Mas é ainda mais importante que o cinema tenha um objectivo, uma finalidade prática, uma utilidade. Note-se que a existência de uma tal utilidade não rebaixa a importância do cinema, mas antes a eleva - porque esta passa a ter não uma, mas duas funções nobres. Qual deve ser então o objectivo ou a função do cinema?

É a existência de uma sociedade com estas características que faz com que o homem permaneça escravo do capitalismo, que o subjuga até ao suicídio da sua própria humanidade. Assim, o cinema não pode ter função mais elevada no mundo em que vivemos que ser orientado num tal sentido que a sua mensagem leve à destruição da sociedade capitalizante que temos. Só assim poderá o homem um dia criar em verdadeira liberdade.

Portanto, apesar do cinema não ter qualquer objectivo ou finalidade, enquanto vivermos no mundo em que vivemos, temos de injectar em cada obra, e da melhor maneira que lhe servir, um pendor anti-capitalizante, o triunfo da arte sobre o peso que esta terrível economia tem sobre nós. Só assim poderemos chegar a um mundo verdadeiramente livre.