quinta-feira, 29 de maio de 2008

A Quarta Dimensão

1. A quarta dimensão é o tempo.

2. Os seres humanos são seres tridimensionais.

3. A nova espécie de ser humano será aquela que se moverá nas quatro dimensões.

4. Será possível viajar nas quatro dimensões quando o homem for capaz de ver toda a história como um todo.

5. A memória, consciência de que o tempo existe e construção da realidade pela ordenação sequencial dos vários momentos que a compõem, é uma das mais importantes capacidades humanas, e é ela que temos de desenvolver para que possamos atingir novos níveis de consciência.

6. O Buda é aquele que conseguiu ver a história como um todo; como tal, vive já na quarta dimensão.

7. A transmutação alquímica é um método científico utilizado pelo homem para que tome consciência da quarta dimensão.

8. A transmutação alquímica do espírito, devido à própria natureza deste, é mais fácil de conseguir que a transmutação alquímica do corpo.

9. É possível supor que mesmo a transmutação alquímica do corpo seja possível, uma vez que o homem viva na quarta dimensão. Ele poderá viajar seu tempo histórico e adquirir todas as formas tridimensionais pelas quais passou e pelas quais haverá de passar, pois ele contempla toda a história: tudo aquilo que foi, tudo aquilo que é e tudo aquilo que alguma vez será.

terça-feira, 27 de maio de 2008

As caras dos enfezados. A cidade é um monte de enfermos, cada qual com a sua tara. Têm os olhos cavados, olhar mortiço e amorfo, tez pálida de quem vê o sol por uma frincha, temperamento nervoso de quem está a ser continuamente observado. As senhoras dirigem olhares de reprimenda para quem se descuida a pousar o olhar nos atributos que não têm, os senhores são graves e austeros como medricas flamejantes que lutam para impôr uma fachada. As crianças são as únicas que se aproveitam, e isto só é verdade para aquelas que não foram ainda tocadas pela televisão, esse néctar dos deuses moderno que anestesia tudo o que mexe. Se ainda não se tornaram birrentas e mimadas por culpa dos pais que não têm tempo para elas, ainda atiçam a brasa viva que brilha nos seus olhos. O mais incrível é que, assim como os adultos desviam quem para eles ousa olhar - quando não submetem ao observador um ar cínico de reprimenda - , até algumas crianças, as decerto mais maltratadas pelo mundo, lhes seguem o exemplo. Tristes e mortiços são os tempos da nossa ordem democrática que neutraliza quaisquer diferenças individuais que ressurjam do âmago de cada um. Safam-se uns poucos adolescentes (temos que usar este termo senão, dizem-nos os nossos sábios psicólogos, acometemos qualquer um a mil traumas insuperáveis e deformadores), adolescentes que, quando não inseguros ou nervosos ou instáveis nos caminhos desventurosos da sua saudável construção da personalidade, deixam de ligar às regras bacocas daquela coisa a que tão púdica e esterilizadamente resolveram chamar sociedade. São os sinais dos tempos que a nós nos cabe interpretar.
most of people explain some subject not in the light of a pedagogic base but instead on the basis of a capitalistic, self-centered and least time-consuming way.

domingo, 25 de maio de 2008

Como manter relações interpessoais duradouras

1. Espalhar-se por todo o sítio e conhecer muitas pessoas. Quanto mais diferentes essas pessoas forem entre si e consigo, melhor.

2. Bombardear cada uma dessas pessoas com perguntas. Procurar conhecê-las através de cada gesto. Mostrar muito daquilo que você realmente é, mas de uma forma velada.

3. Iniciar inúmeras conversas repetida e consecutivamente. Não as acabar nunca.

4. Depois de ficar com uma ideia acerca do que cada um é, deixar de falar com todos de uma só vez.

5. As únicas amizades verdadeiras revelar-se-ão quando as pessoas que realmente forem suas amigas demonstrarem ter a iniciativa que é necessária para continuar as conversas inacabadas.


Este método é muito simples e rápido para seleccionar o seu círculo de amigos. Se algum deles o chatear, corte relações e passe directamente ao ponto 5. Mas não se esqueça: cuidado com os excessos!

sábado, 24 de maio de 2008

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Life is what happens to you while you're busy making other plans

John Lennon

where do we go nobody knows...

quinta-feira, 22 de maio de 2008

singin' Belleville Rendez-vouuuus



from the beautiful award-winning animation movie Les Triplettes de Belleville a.k.a. Belleville Rendez-vous
não acredito nas pessoas que dizem que as coisas não fazem sentido. As coisas têm o sentido que lhes é próprio, não o sentido que as pessoas lhes dão. Se queremos perceber a vida temos de pensar como ela.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Videoclip - X&Y dos Coldplay

Uma cama. Lençóis brancos. Um quarto. É de noite. Um homem. Uma mulher. O homem move os olhos como quem está em REM, o homem sonha. O sonho é um sobressalto. O homem contorce a cara. Ao primeiro acorde de piano audível, o homem abre os olhos. A cena passa-se, de uma maneira ou de outra, em câmara lenta. Todo o vídeo, na verdade. Quando começam as notas da guitarra eléctrica o homem sai da cama de rompante, puxa os lençóis para trás de forma a que fiquem tufos. O homem corre como se a sua vida dependesse disso. A mulher dorme. De repente, com o sobressalto, acorda também. Mas já não consegue agarrar no braço do homem. O homem desata a correr pelo quarto fora. O quarto é muito simples, sobretudo branco. Cores neutras, branco e chão preto. O homem corre por um corredor, durante um bocado. A mulher tenta segui-lo, mas não se vê. O homem chega a um patamar que dá para umas escadas que descem para o andar de baixo. Estaca. No final da escada (lá em baixo) está uma miúda pequena, criança ainda, e ela olha fixamente para ele, embora não se veja. Tudo é um jogo de luzes e contraluzes. A miúda tem um vestido transparente, branco. Ondula como se esvoaçasse ao vento. Ela estende a mão para o homem, num sinal muito suave, como que a pedir para que ele vá ter com ela. Nessa altura, o homem esbugalha os olhos e desmaia, rodando ligeiramente. Sem força nos músculos, cai e rebola pelas escadas abaixo. O homem desmaia quando chega ao refrão. O close-up vai-se desfazendo desde a parte dos olhos esbugalhados e faz realçar o corpo que, em slow motion, rebola pelas escadas. O homem não mostra qualquer emoção, está inconsciente. Ele rebola pelas escadas e quando chega ao final está morto. Partiu o pescoço. Enquanto cai, e como se se recordasse de alguma coisa do passado, vê-se debaixo de água, beijando a mulher, em tronco nu. Tanto o homem como a mulher estão o mais nus possível. As imagens do passado e do presente alternam várias vezes, de acordo com o ritmo da música. Quando a música do refrão acalma, tem-se um plano da cara do homem, um pingo de sangue a fracturar-lhe a cara, deitado, de lado. Quando acaba o primeiro refrão e começa a guitarra eléctrica, já se viu a mulher a correr até lá, apenas pela imagem reflectida pelos olhos do homem. Ela agarra o homem freneticamente, chora, esbaforida, dá-lhe puxões, abana-o com força, abraça-o, beija-o, faz tudo isto ao mesmo tempo sem nenhuma sequência específica ou determinada. Apesar de ser noite, há lua, mas não está cheia. Ainda assim, as imagens fragmentadas têm brilho nos recantos. Quando o homem morre as imagens do passado cessam. A mulher fica histérica. Quando recomeçam os acordes do refrão o homem abre os olhos. Antes disso a câmara passa a focar a cara do homem. Depois de abrir os olhos, o homem está frente-a-frente com a mulher. Tudo passa a ser ainda mais lento. Ele beija-a longamente. A estas imagens interpolam-se as das memórias de todas as vezes que eles se beijaram, em todos os sítios. De repente, o homem começa a afastar-se da mulher. Primeiro, estende-lhe a mão ao afastar-se, como que impelido por uma força invisível e impossível de quebrar. Ele está virado para ela. Mas depois vira-se de costas para ela e começa a correr. Chega à sala de estar, que é grande e ampla, e que tem uma grande vidraça. Dá ideia de que eles estão no espaço, como se fosse Marte ou a Lua. O homem atravessa o vidro, que está corrido e fechado, sem o partir, tornando-se muito brilhante. A mulher estaca quando encontra o vidro, o plano é de perfil, close-up da cara. Ela olha para cima, os olhos dela é que guiam os nossos. Vemos, pelo que ela está a sentir, que o homem sobe. Depois há um grande clarão que cega tudo em volta. Quando só os violinos tocarem, vê-se um grande plano de uma estrela brilhante. A estrela cobre toda a imagem, mas vai afastando-se, zoom out. Aquilo que parecia só uma estrela revela-se todo o espaço. Sempre em slow motion. À medida que se faz zoom out aparecem mais estrelas, planetas, etc., até a estrela inicial deixar de ser perceptível no meio de tudo o resto. Zoom out até ao fim do som dos violinos, que se vai esgotando.
já por este mundo passaram muitos génios, mas muito poucos deles tinham a genialidade universal. A genialidade universal é aquilo que faz com que um único texto, um simples conjunto de palavras, possa, ao mesmo tempo, ser a representação de vários - e tantas vezes opostos - significados. A riqueza de um texto mede-se pela sua caleidoscópica capacidade de multiplicação.
Whenever comes Pride you'll have always to deal with Prejudice.

domingo, 18 de maio de 2008

A minha mente leva-me
Para lugares onde viver
Não sei o que me teme
Nem o que me faz ferver

A verdade será outra
A pura, inicial
É com ela que doura
Sublime a dor natural

Queria eu ter tempo
Para o poder deixar de ter
Enquanto vivo assim
Um dia deixo-me morrer

rock alternativo

Parece-nos extremamente interessante o facto de tanta banda de rock alternativo, maioritariamente anglo-saxónico, estar a adquirir uma grande aceitação por parte das pessoas. Vamos por momentos pôr de lado a hipótese que tal se deve, em Portugal, à nossa excessiva obediência e veneração ao estrangeiro, e, no estrangeiro, a um nacionalismo macdonaldiano exacerbado. A verdade é que as novas bandas que curiosa e inesperadamente irromperam por aí estão a transformar os detritos rock e pop que abundam pelos lados da música contemporânea em algo notável, especial, único. Exactamente como fungos ou pequenas e delicadas bactérias, alimentam-se da podridão para extrair o ouro dos sonhos. Long live that! Só esperemos que tudo isto não se revele mais uma pequena moda que, com o tempo, passa - sem deixar marca em cada um de nós. Não parece ser o caso, e adivinha-se que o movimento se concretize por outros lados. Aguardamos ansiosamente.


The Editors

sábado, 17 de maio de 2008

my fever burns me deeper than I've ever shown - to you

Devo a minha cultura aos meus antecessores, não a minha vida.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Correlações I

(1931) Fernando Pessoa

Se estou só, quero não estar,
Se não estou, quero estar só,
Enfim, quero sempre estar
Da maneira que não estou.
(...)


(1982) António Variações

(...)
Porque até aqui eu só
Estou bem aonde não estou
Porque eu só quero ir
Aonde não vou
(...)

Sou.

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Porque não se cansar?

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.


Fernando Pessoa

quinta-feira, 15 de maio de 2008

os primeiros 1001

Bem, segundo o que me indica aqui o site do blogspot, no qual ainda confio até um certo ponto, esta entrada do blogue vai ser a 1001ª. Não é meu interesse estar a comemorar efemérides bacocas, ou construir altares a este ou àquele. Ainda assim, não posso deixar de me espantar com o facto de ter realmente conseguido escrever mais de mil textos, ou publicado imagens magníficas de sítios que me despertaram a atenção, ou até mesmo divulgando música que considero ser inspiradora. E o mais incrível não é isso, é o tê-lo feito quase que sem dar por isso em menos de um ano...

Na verdade, tudo isto são tretas sentimentalonas. O que quero com esta 1001ª entrada é agradecer a toda a gente que aqui veio e que ainda (ainda?) vem. Tive o cuidado de não publicitar este blogue ostensivamente - publicitar, que palavra mais horrível... - para poder mais facilmente garantir que quem aqui vinha fazia-o à sua própria conta e risco. Que aqueles que aqui vêm descobriram este recanto por mero acaso, porque alguém gostou de aqui estar e lhes falou nisso, porque resolveram ver quem era a pessoa que tinha escrito aquele comentário no seu blogue. Confesso que isso também se trata de um teste à própria capacidade da internet - e dos blogues, em particular - para reunir, para aproximar as pessoas. E depois, claro, as pessoas. Aquilo que faço aqui é simplesmente registar aquilo que me passa pela cabeça: trata-se este de um puro diário mental, tantas vezes omisso por imposições capitalistas que derivam do meu percurso profissional - umas quantas palavras caras para dizer que só não escrevo mais porque não tenho tempo! Mas a verdade é que me divirto imenso a escrever aquilo que me apetece. Se isso pode inspirar as pessoas, se isso pode ser uma alavanca, uma ajuda, uma sacudidela mental para que as pessoas possam ser - à conta do seu próprio esforço - melhores, se isso contribuir para a evolução da humanidade, tanto melhor. Reformulo: se isso contribuir para a evolução de cada um - que é a única coisa que na verdade existe -, então a minha tarefa, para além de ser incrivelmente deliciosa, é sublimemente grande e completa-se na própria vida que dá aos outros. Devo esclarecer melhor: escrever, faço-o porque não consigo impedir-me de escrever, é algo natural em mim, e a coisa mais natural que há no mundo é fazer aquilo que nos é natural; escrever coisas que permitem a evolução da humanidade é o meu principal objectivo, porque se não foi para isso que nós viemos ao mundo então para que foi?
Quando falamos de produção literária só se podem fazer duas coisas originais: ou se critica aquilo que já existe - e atenção, porque isso pressupõe que se conheça previamente o objecto da crítica - , ou se inventa alguma coisa que ainda não exista. Coitadas das aulas de sociobiologia do senhor Richard Dawkins! Reduzir a cultura humana a umas meras unidades meméticas é esquecer que existe uma variabilidade - que pelo menos por enquanto nos parece aleatória - no aparecimento de novos elementos inesgotável e que perpetua o carácter excepcional de cada ser humano. A atitude mais reles que podemos encontrar num humano é a da cópia indiscriminada sobre o que quer que se encontre no mundo, especialmente naquilo que faz parte da publicidade.

A crítica, porém, não atinge a grandeza da invenção. A invenção, a ideia original, nasce de lugares que permanecem até hoje desconhecidos para nós. A crítica debruça-se sobre algo que já existe, apenas realçando mais determinados aspectos que ao crítico parecem mais importantes, em detrimento de outros. Mas a actividade do crítico torna-se verdadeiramente uma arte, um monumento à humanidade, quando ele consegue transformar o mais abjecto pedaço de coisa em algo que pode servir de inspiração a essa humanidade.

Por outro lado, também podemos discutir [neste ponto é favor consultar a etimologia da palavra] a tarefa do inventor, e se a natureza da sua tarefa faz com que ela seja assim tão grande. Se aceitarmos que o nosso entendimento, ou a nossa mente humana, é uma tabula rasa, então falamos de invenções menores. Estas invenções só existem por combinação de elementos pré-existentes, e portanto não-originais. Mas em defesa desta tarefa, que também nos parece nobre, temos que referir os já falados princípios emergentes. À medida que pomos e dispomos as palavras para construir textos, o todo é sempre muito maior do que a soma das partes. Isto acontece com as letras que reunimos em conjuntos para formar palavras e acontece também com as palavras que reunimos em conjuntos para formar frases, e assim sucessivamente segundo diferentes níveis de organização da complexidade. Consoante as combinações de palavras que fazemos, assim diferentes propriedades, contidas numa forma embrionária, latente ou bloqueada, são libertadas. Estas propriedades não podem ser previstas teoricamente apenas pela análise das partes isoladas desse todo que consideramos. As leis derivadas da Ecologia são perfeitamente transponíveis, num nível apropriado, para a estrutura da Linguística.
todo o texto que não resulta da imersão do seu autor na sua construção não tem qualquer valor enquanto celebração única da capacidade de criação individual humana.

I'm not the man they think I am at home

segunda-feira, 12 de maio de 2008

History never ceases to amaze me. I am overtly delighted and increasingly impressed with all the backs and turns that have forged the lives of so many, the serendipitous coincidences that fortune have put them in contact of, and specially all the complex and integrated chains of influences which have truly been the major force driving such uniqueness of character in every special person who dared to enter this world.
O culto ao estrangeiro, sobretudo à América capitalista e fabricadora de ilusões hollywoodescas, continua: os Golden Globes - já não faz sentido chamá-los pelo nome português, na verdade isso seria contrário à sua verdadeira natureza - passaram hoje pela SIC, que é o sítio apropriado para passar a escumalha da televisão. Uma Bárbara Guimarães que fala tão bem inglês como o cheiro nauseabundo de uma lixeira a céu aberto, mais um viva para a sociedade do espectáculo, disseminação e mediatismo de valores ilusórios, prémio-fachada para porcarias de primeira apanha. O próprio Francisco Pinto Balsemão mete medo, é uma autêntica múmia saída de um frasco com formol. E quem já o viu ao vivo e a cores sabe o que é o verdadeiro terror. Está aqui um óptimo filão para ser explorado pelo John Carpenter.

premonições




















Sociedade do espectáculo, Guy Debord


1. A aceleração da economia capitalista em que vivemos levou a que nunca fizessem tanto sentido as palavras de Guy Debord, e sobretudo aquilo que elas representam.

2. Aviso a todos os não-acéfalos que há no mundo: vamos ensinar a Sarkozy o que é realmente o espírito do Maio'68? O coitado deve ter vivido num buraco durante muito tempo para dizer tanta barbaridade junta.

3. É nosso direito e sublime dever ridicularizar tudo aquilo que for ridículo para que nem os próprios nem os outros tenham ilusões acerca da grandeza que não têm.

domingo, 11 de maio de 2008

educação sexual ou não

Uma das questões que gostaríamos de ver resolvidas de uma vez por todas é essa de se decidir se se dão aulas sobre educação sexual ou não. Na verdade, surge por vezes a discussão caricata sobre o tema, completamente desprovida - como aliás conseguimos ver todos os dias - de algum sentido de lógica ou de estruturação e planeamento. Dizer que são necessárias aulas de educação sexual nas escolas portuguesas é escamotear as questões verdadeiramente importantes. Antes de mais, fala-se em educação sexual sem se definir em que é que a dita consiste, e geram-se inúmeros equívocos à sua volta que apenas contribuem com mais tijolos para as paredes da ignorância. Quando falamos em educação sexual estamos a falar do quê? Se estamos a falar de educação sexual, estamos a dizer que deve existir alguma deficiência no nosso sistema de ensino, na educação que damos aos nossos filhos, em relação ao tema da sexualidade. Se existe falta de educação; corrigimos: se existe falta de informação especializada e clara acerca do que é a sexualidade, então é certo que esta informação tem forçosamente que ser dada a todos - não estamos a falar só de currículos escolares que são avaliados melhor ou pior com exames ou provas de aferição, estamos a falar de informação fundamental para toda a gente, e que diz respeito a essa vertente tão nossa e pessoal que é a nossa sexualidade. Identificado o problema, e tendo posto muito claramente a tónica na deficiência que se vive no nosso sistema de ensino - e sublinhe-se que esta deficiência está longe de se restringir faltas de informação a este nível - , é preciso agora definir muito clara e objectivamente o que é que se entende por educação sexual. Informação é precisa, é certo. Mas sobre o quê? Em que aspectos? Quando falamos em sexualidade estamos a falar em quê? Se formos à Psicologia, podemos dizer que estamos falando de processos mentais, emoções, sentimentos, afectos, o amor; mas também de comportamentos: de identidade sexual, de relações sexuais, da própria fisiologia do nosso organismo. E também podemos concordar com o facto de que estas questões, embora extremamente complexas e só plenamente compreendidas à luz de uma psicologia global e integrada da pessoa por inteiro, radicam exactamente na biologia do corpo de cada um. Como estas questões radicam na biologia do corpo, então elas são parte integrante da Biologia, a disciplina científica que estuda a vida. Como tal, o primeiro passo a dar para erradicar qualquer falta de informação ou desinformação que exista, é simplesmente garantir que toda a gente tem uma noção das características do seu próprio sistema reprodutor. Essa é a base a partir da qual se podem construir as aprendizagens de temáticas mais complexas que estão agrupadas na Psicologia. Assim, o segundo passo será conseguir incluir nos currículos escolares não só informação acerca do sistema reprodutor humano como também informação acerca daquilo que envolve a nossa própria sexualidade, e que é muito mais vasta que o nosso sistema reprodutor. É imprescindível analisar tão claramente quanto possível a natureza, ou as características, do impulso sexual - e para isso temos as teorias da motivação de Maslow, as teorias do desenvolvimento psicossexual de Freud, as análises estatísticas de Kinsey, as teorias do desenvolvimento psicossocial de Erikson, para não falar dos estudos sobre a vinculação, adolescência e personalidade. Todos estes temas devem ser parte integrante da instrução de um adolescente. Todos estes temas precisam de ser bem explorados e analisados porque são completamente imprescindíveis para a compreensão de si próprio e do mundo.
A televisão não anestesia, hipnotiza.
Ter como desejo mais elevado a publicação de um best-seller só pode ser um desejo capitalista abstruso, uma mutilação da verdadeira cultura, um hino à ignorância pop. A história mostra-nos que as grandes obras, as verdadeiras mais brilhantes e geniais obras, foram as menos populares, as mais reprimidas, as severamente motejadas. Passarão ainda muitos anos até que as pessoas compreendam a grandeza do recolhimento de Pessoa, a audácia no discurso do Agostinho da Silva, a genialidade de um Umberto Eco, a poesia de um Italo Calvino.
É muito curiosa essa ideia de que Portugal deveria ser mais uma província de Espanha, quando na verdade nem sequer aquilo a que chamamos Espanha tem uma realidade física e comprovável.
uma das mais insólitas e interessantes propostas musicais do nosso tempo é a pop alternativa. Ver Siobhan Donaghy.
a única verdadeira literatura é autobiografia.
a nossa época vai ficar marcada por toda a verborreia literária que se produz por aí.
o único homem capaz de aguentar um PSD moribundo é Manuela Ferreira Leite. Só é pena que, a ser eleita, ela vai dar cabo do pouco que resta de cultura - leia-se de cultura não capitalista, da verdadeira cultura - que ainda soçobra em Portugal.

sábado, 10 de maio de 2008

não adoram aqueles anúncios publicitários a perfumes que duram menos de dez segundos? São os melhores anúncios do mundo, já que nem se percebem porque não têm ponta por onde se lhes pegue, e são agradável e facilmente esquecidos.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

IS IT A BIRD IN THE SKY?
IS IT AN AIRPLANE?
IS IT SUPERMAN?

NOOOOOOOOOOOOOO!


IT'S LUCY IN THE SKY WITH DIAMONDS!


Beatles

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Como cultivar a Ciência em Portugal?

1. Identificar quais os locais onde presentemente se faz Ciência e os cientistas que lá desenvolvem o seu trabalho. Qualquer medida que se tente implementar sem uma plena consciência da realidade científica de um país é uma medida sem fundamento. Uma vez conhecidas as condições que já existem, tomar medidas para fomentar essa que deve ser uma base de partida inicial: fundos para a manutenção das instituições que já existem, bolsas de investigação para cientistas já estabelecidos, instrução pós-graduada de cientistas.

2. Uma vez assegurado um pano de fundo de investigação científica que se consiga desenrolar segundo a sua própria dinâmica, é preciso avaliar qual a proporção de cientistas que sai duma universidade e não tem emprego onde desenvolver as suas actividades. O passo seguinte será então assegurar que a continuidade que foi assegurada dentro de apenas uma geração de cientistas pode transbordar para as próximas gerações de cientistas. Assim, o que é preciso é dar bolsas de investigação para que os novos cientistas possam começar, criar parcerias entre as universidades e as instituições, estabelecer programas para desenvolver teses de mestrado e doutoramento que sejam facilmente articuláveis entre essas diferentes instâncias. Por outro lado, a nível das instituições, é preciso pensar seriamente na reestruturação: primeiro começar pela reorganização do espaço que já existe, depois pela ampliação que for possível dos espaços que já existem; e havendo, assim, lugares disponíveis para serem ocupados, avançar com esses programas de intercâmbio universidade-instituição. A última hipótese a considerar será certamente a de se construirem laboratórios novos, e essa só é levada a cabo se a oferta não conseguir de forma alguma suportar a procura.

3. Finalmente, garantindo uma conservação do que já existe, é tempo de pensar em dar a informação necessária, e que seja relevante e construtiva, às novas gerações. O objectivo aqui não será atrair quem quer que seja para a investigação científica; o que se pretende é dar a conhecer o que existe, e as suas características, da forma mais livre e espontânea que nos for possível, para que todos aqueles que queiram - e aqui está o cerne de todo o sistema de ensino: a motivação em aprender - seguir uma carreira científica a possam seguir. Trata-se de instrução e não - e nunca! - educação.


Assim, porquê pôr tanta importância em modificar o actual sistema de ensino se as medidas que visam as gerações mais recentes não são a prioridade com que nos devemos ocupar em primeiro lugar? Há uma razão bastante simples e clara para isso: é que o sistema de educação não pára! Mesmo enquanto aqui falamos, centenas e centenas de jovens estão na escola a levar com a educação que prepararam para eles. Isto é, enquanto tentamos implementar essas primeiras medidas, de acordo com o que expusémos, os alunos vão continuar a ser educados à maneira antiga, com programas de qualidade duvidosa, e sendo obrigados a decorar dúzias de factos sem relação entre si. Portanto, porque não tentar pôr a motivação de cada um a seguir o seu próprio destino logo desde o início? Quem sabe se essas medidas não nos permitem chegar mais depressa à meta... Mas também nos deparamos com outro problema, que é o de saber por onde começar. Ainda assim, podemos também aqui seguir pelo caminho mais simples, que é por onde se deve realmente começar antes de tentar realizar os grandes ideais: uma medida muito simples que poderia pôr rapidamente o mundo a funcionar melhor pelas escolas era exactamente a elaboração de manuais escolares, com uma orientação pedagógica bem definida, em que os assuntos fossem apresentados o mais objectivamente possível numa perspectiva diacrónica, ou evolutiva - se se preferir assim chamar. Isto é, o que é preciso é dar relevo às situações e aos aspectos que foram realmente importantes ao longo da história ou da evolução do conhecimento de uma determinada área do saber. Esta medida terá certamente ainda de ser complementada com uma nova visão da aprendizagem que terá de ser transmitida aos futuros professores das novas gerações. Mas essa será a parte mais difícil do processo...