quarta-feira, 6 de agosto de 2008
O melhor da televisão portuguesa
Conta-me Como Foi é provavelmente a melhor série portuguesa feita nos últimos tempos. Com um humor extremamente inteligente, cativante pela sua complexa simplicidade, consegue mostrar-nos um retrato daquilo que foi viver em Portugal no final da ditadura salazarista; perdão, salazarenta. O título tem uma cadência musical tão característica da nossa língua portuguesa que pode mesmo servir como a síntese do seu brilhantismo. Como outros já o escreveram, esta série não mostra mais carne que a das mamas da República, não mostra mais coxa do que aquela que a mini-saia permite ver. Mostra-nos, isso sim, a imaginação da criança, em toda a sua originalidade e imprevisibilidade. Mostra-nos os dizeres portugueses mais corriqueiros e esquecidos da história, e que afinal fazem tanta diferença na boca e na mente das personagens. E mostra-nos sobretudo aquela que é, sem sombra de dúvida, uma das maiores actrizes portuguesas da actualidade: Rita Blanco. Os outros não se saem mal, especialmente o Miguel Guilherme, mas não há pessoa mais autêntica que a Rita Blanco.
A grandiosidade desta série está na ironia da aproximação entre os diálogos das personagens de '68 e os diálogos que se podem ouvir hoje em qualquer rua do país. Afinal, o que terá mudado? E o que não mudou? Extremamente fiel à realidade histórica, esta série é uma janela aberta para a compreensão do Portugal que temos hoje, para a realidade quotidiana de cada um. E depois temos aqueles pormenores deliciosos, como o facto da Maria Isabel ter ido assistir à representação do musical Hair enquanto esteve em Londres e ter trazido um cartaz que até meteu no quarto, e que surge no plano mais banal e natural de uma cena.
A RTP1 fez-nos um grande favor em repôr a série nestas férias. Sobretudo a mim, que não a consegui apanhar quando passou pela primeira vez e que agora posso ver um episódio por dia. Um luxo.
E o mais incrível é que existe uma petição para que a RTP1 lance os episódios em DVD. Uma excelente ideia. Não que a petição seja imprescindível, ou que leve mesmo à comercialização da série; mas sobretudo para mostrar um sinal de apreço em relação àqueles que batalham incansavelmente em prol da cultura portuguesa.
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4 comentários:
Eu concordo com cada palavra. É bom ver que ainda se fazem programas de qualidade em Portugal e, mais ainda, que existe muita gente que os aprecia. Eu sou fã.
E dá para ver que há pelo menos uma pequena parte de Portugal que não anda a dormir. Se devemos reduzir à insignificância aquilo que é ridículo, também devemos louvar todas as coisas verdadeiramente interessantes que por aí aparecem, não é?
:)
subscrevo o post!
é sinal de que existe aí bom gosto!
:)
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