sábado, 28 de fevereiro de 2009

human.

Parece-me importantíssimo reflectir naquilo que o título da nova canção dos The Killers desperta em mim. Há tanto tempo que as pessoas perguntam se o homem é naturalmente bom ou naturalmente mau, ou como é que nós - aquele nós que engloba a humanidade inteira - pudemos ser capazes de atrocidades como o holocausto, que já a pergunta me irrita profundamente por estar completamente desadaptada aos tempos de hoje. Nenhum homem é completamente bom - ou capaz de fazer o bem - , nem completamente mau - ou capaz de fazer o mal. Todo e qualquer ser humano tem a luz e a sombra dentro de si. Portanto, essa questão não interessa para nada. É uma perda de tempo. Nós deveríamos estar todos era a perguntar-nos se somos humans ou dancers! That's the thing that really matters. Será que somos apenas um agregado de átomos e partículas subatómicas que fazem as células que comandam o nosso corpo ou será que somos qualquer coisa maior e mais importante do que isso? Somos corpos que se movem, entes psíquicos que passam por diversos estádios psicológicos ou somos gente que quer é dançar a dança da vida na sua criação artística independente e original? Somos trabalhadores, operários, soldados nesta fábrica de produção humana em contínuo perpetuando elites de poucos e misérias de muitos ou somos entes culturais e espirituais com aspirações muito mais profundas e abrangentes do que essas? Queremos andar pela vida ou dançar por ela adentro? Ter a consciência desta questão - esta sim a verdadeira questão, a questão realmente importante, a questão do século XXI - é já andar um século para a frente, é já pertencer ao futuro. Viver não é nem será nunca sinónimo de trabalhar. Viver é criar, e só havendo o espaço para que as pessoas criem é que se pode realmente viver. A pobreza e a miséria em que tanta gente vive - sem tecto e sem comida, sem família, sem amigos - não é o que de mais terrível existe; o terror absoluto é essas pessoas não terem espaço para se desenvolverem intelectualmente, não terem à disposição os meios pelos quais se tornariam ímpares e se auto-realizariam. Negar isso é fazer algo ainda pior que qualquer holocausto: é obrigar alguém a viver uma tortura incomparável, morosa, subtil, refinada, e lenta, até que o corpo não tenha outra solução senão suicidar-se desta existência submissa que o devora. Não é o modo de vida burguês que se tem de destruir: o que se tem realmente de fazer é trazer esse modo de vida para toda a gente, e o resto é conversa.

2 comentários:

Jorge Rodrigues disse...

Gostei

Daniel disse...

eu também gostei daquele duelo entre Chomsky e Foulcault. Um grande amigo meu, anarquista, gosta do Chomsky, mas eu nunca me tinha dedicado a conhecer esse senhor. Depois de ter visto a conversa fiquei mesmo rendido à sua frontalidade e à sua acção política. Magnífico!