segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A degeneração semântica que o adjectivo platónico tem levado ao longo dos tempos é um insulto ao próprio Platão e a toda a grandeza e justeza do seu pensamento - mas na metafísica e na mística abundam estas interpretações erróneas. Assim aconteceu com o adjectivo hermético, que, agora dessacralizado, representa apenas aquilo que se veda bem; e assim aconteceu ainda com o adjectivo espiritual, de que os franciscanos eram um excelente exemplo. Tudo a ignorância de quem não sabe abrir os olhos para compreender o que esses grandes nos querem transmitir. E é por isso que o estudo da etimologia das palavras tem um papel tão importante - diremos, o estudo da etimologia e o estudo do contexto histórico no qual a palavra se revela.

4 comentários:

Carlos Pereira disse...

Eu sei que escrevi platónico como sinónimo de distante, e que na realidade é algo ligado ao ideal, ao cristalino, ao puro. Também não é preciso embirrar com tudo, dos óscares às palavras. Esta "chamada de atenção" não estava assim tão subliminar como as que costumas fazer ahah

Daniel disse...

hahahah... O que talvez a maioria das pessoas desconheça é que grande parte, quase metade, da inspiração que me dá para escrever estas coisas aparece exactamente quando alguém diz ou faz algo de que sou incapaz de não criticar por se afastar isso que se diz ou faz, a meu ver, daquela que é a verdadeira essência das coisas. Ora, só uma pessoa plenamente consciente daquilo que lhe acontece é que pode sentir-se assim desconfortável (diríamos melhor: desassossegada). E é esse um sentimento duplamente alto e nobre, visto que é a prova de que aquilo que faço surte efeito - já que o meu objectivo é empurrar tudo para a entropia, libertar o desassossego - , e ainda porque mostra a inteligência de cada um - e sobretudo aquilo a que cada um dá mais importância. Por aqui se prova que o método científico do outro post dá resultado! (Nunca devemos menosprezar as mensagens que nos vêm de fora, podem ser elas a palavra de Deus sendo - ou, se quisermos ir ao Platão, podem ser as palavras a manifestação vibrante desse Céu das Ideias que quer tanto compreender-se a si próprio que até desce à condição finita e temporal para melhor se cumprir e reconhecer o valor do Amor na manutenção da harmonia das esferas.)

Como já vos disse, é o próprio Platão que elogia a loucura pela boca de Sócrates. Só os loucos, no cerne do êxtase da sua loucura, é que conseguem criar as verdadeiras Obras, que são o firmamento da Eternidade. =)

Carlos Pereira disse...

Mas o "método" não era suposto não ser entendido conscientemente pelo outro? E ser subjectivo?

"Tudo a ignorância de quem não sabe abrir os olhos para compreender o que esses grandes nos querem transmitir."

Frases como esta, objectivamente insultuosas e que emanam uma superioridade nada anarquista, são desnecessárias. Cresce-se com o erro e com a crítica - eu sempre gostei tanto de ser criticado como elogiado. Ora o meu desassossego nasce do insulto, não do erro, que é humano e legítimo.

Daniel disse...

Há sempre pessoas que conseguem desmontar os métodos, e mesmo nos desmontar a nós mesmos (não métodos perfeitos, não há métodos universalmente válidos: só há tentativas, arremedos). Daí, em parte, vem a subjectividade. Digo subjectivo porque aquilo que quero dizer não está naquilo que digo (se formos a pensar assim, tudo é, na verdade, subjectivo). É ignorante aquele que, conhecendo um determinado assunto, o desvirtua conscientemente. Ora, não me parece que tenhas essa consciência que te faria um ignorante. Se tivesses estudado o Platão profundamente, e conhecesses bem o seu pensamento, e, mesmo assim, o desvirtuasses, isso sim era uma ignorância - isto é, uma pobreza de espírito. O pecado está na intenção com que se age, não está na própria acção. É por isso que todos os que desconhecem são inocentes (olha as crianças...). Poderão não sê-lo quanto ao comodismo em que se enterram e no qual não dedicam esforço nenhum a pular para lá daquilo que desconhecem (se, de facto, são comodistas; pode-se dar também o caso de, simplesmente, não conhecerem um dado assunto porque dedicam todo o seu tempo a outros assuntos, plenamente válidos para eles), mas quanto ao dizer ou fazer são inocentes. Assim, aquilo, para ti, não constitui insulto nenhum - e, mais a mais, nunca foi esse o meu objectivo. O desassossego tem de nascer daquilo que nos desconcerta, que nos desarma, que nos deixa nus perante nós mesmos. Chamem-lhe perverso ou não, o que gosto mesmo é de despir as pessoas - para ver como elas realmente são. E isso, creio eu, seja verdade ou não, só se consegue mais rapidamente e mais incisivamente pela crítica desarmante. Mas é tudo tão difícil, e tantas são as variáveis, que a facilidade maior está em deixar que a coisa se degenere... Enfim, somos todos humanos, estamos todos sujeitos aos erros..