sábado, 27 de junho de 2009

mais que certo e sabido é que a moda, limitada pelos comprimentos de onda da radiação electromagnética que estimulam os nossos órgãos visuais, e em grande parte pela falta de imaginação ou de matéria sobre a qual imaginar dos criadores, tem inevitavelmente de se impôr pela repetição. É claro que esta atitude é mais do que compreensível - já Wilde no seu século XIX concordava que a moda fosse horrível, caso contrário não estariam sempre a mudá-la. Desta vez voltámos ao psicadélico e aos anos 70 do século passado.

Já quem lê filósofos e críticos disto e daquilo se cansou certamente de rótulos pós-modernistas. No pós-modernismo cabe quase tudo, e às vezes, quando faz sol na mais negra noite (ou então quando chove), até os surrealistas. À falta de mais -ismos, os originais, ficamos na caótica situação dos pré- e pós-, situação que até atinge o écran com as prequelas e as sequelas (prequelas?, mais um neologismo?), e agora também os livros - que se dividem agora entre aqueles que são lançados antes do filme ou depois do filme.

Mas de onde é que terá surgido este interesse todo pelos anos 70? Tivemos o despontar do interesse nos anos 60 naquele belíssimo Across the Universe (o regresso dos "bons-contra-os-maus": guerra do Vietnam, guerra do Iraque; mudam-se os nomes dos países mas a guerra é sempre a mesma). Mas o que pegou mesmo foram os anos 70. Tivemos as já mais que batidas riscas horizontais, bicolores e depois multicolores, que agora são levadas ao extremo do psicadélico; a moda das calças largas (excepto lá para os lados dos amantes do hip-hop) deu lugar ao jeito apertadinho emo-inspired, que pode ser considerado uma volta torcida e bem esticada de um metrossexualismo cruzado com um neo-punk de inspiração gótica e gay (andou aí a moda neo-soft-punk de usar uma modesta crista de cabelo gelificado, e às vezes com direito a brinquinho de brilhantes a la chunga da margem sul - não é verdade que os brilhantes fazem lembrar as bolas de espelhos?); e depois veio essa enxurrada de Mamma Mia!'s, (o musical sempre faz o seu dinheiro entre consumidores perdidos e ávidos de endorfinas), o musical ao vivo e o filme (este musical não deve ser assim tão bom, senão tinha sido inventado pelo La Feria), a banda sonora do dito, os gay rights e o Milk, uma certa inspiração Watchmen, o já longínquo álbum da Madonna Confessions on a dance floor em que a senhora se apropria de pelo menos uma melodia ABBA (repararam?); e os óculos escuros com design a la 70's, as cores a la 70's, as camisas e etc. abertas no decote para mostrar a peitaça masculina (desta vez cuidadosa e metrossexualmente rapada, que isso sim é sinal de bípede des-simiado); e quem sabe o que o futuro nos reserva. (onde é que anda o LSD?, já era tempo!)

Mas gabo a esperteza dos economistas e controladores de mercados (aka controladores de pessoas-consumidores): não só aproveitam a moda jovem, que tanta influência tem na sociologia das massas, mas também lançam produtos de que os pais deles gostam (são, na sua sua origem, do tempo deles!), e assim conquistam mais de metade dos sectores etários. Aquilo que acho é que esta é mais uma das estratégias que um capitalismo em desespero arranja para se ir mantendo antes de colapsar por inteiro. Todas as crises que vivemos, para além da sempre presente crise estrutural portuguesa, estão a deixar toda a gente sem dinheiro. E quem não tem dinheiro não compra, não é verdade? Ora, se o sistema capitalista assenta todo no consumo de massas (um consumo de duas ou três pessoas leva qualquer um à falência), e se este consumo abranda, então temos prejuízos (note-se que prejuízo para um investidor é ganhar menos um ou dois milhões do que podia ganhar). Mas se o consumo começa a parar (a não ser nos bens essenciais), então aí as coisas podem ficar muito pior. É todo o sistema capitalista que abana e treme. Se a isto juntarmos as políticas que asseguram a perda de direitos e poder de compra e a ganância dos investidores, temos o final do sistema capitalista à vista. Sempre quero ver como é que estes barões todos vão dar a volta à situação que eles próprios criaram...

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