E haverá mentes dispostas a fundar e, ainda mais importante, a acolher uma nova universidade? Haverá a força de vontade para reconstruir caminhos que já estão tão solidamente traçados?!
Mentes dispostas a fundar há, sem dúvida, e até conheço umas quantas. A acolher, com certeza; o pior serão os outros. Mas nós não queremos ir contra o sistema, porque se formos contra o sistema perdemos. A melhor maneira de criar uma nova universidade é criá-la de acordo com as regras do sistema, e de preferência nas próprias barbas e com o próprio dinheiro que o sistema garante. Por enquanto, há muitas ideias e poucas coisas feitas; mas já estivemos muito mais longe de conseguir montar uma coisa assim...
A verdade é essa, o problema, como a Mariana o levanta, é o da adesão. Claro, há que dar uma alternativa ao sistema. Mas há imensas variáveis implicadas nisto, e são sempre sistemáticas. Há valores em jogo como as notas, médias, credibilidade, validade, reonhecimento profissional póstumo, etc.
Minha querida Sabrina, problemas há em toda a parte; a questão está em saber usar os problemas a nosso favor. E todas essas variáveis, mais ou menos sistemáticas, mais ou menos imprevisíveis, não interessam. Não é que deixem de ter importância, porque têm; elas não interessam porque há outros factores muito mais determinantes que elas. Ora vejamos. O que é que é preciso fazer para fazer uma coisa assim? Essencialmente, duas coisas. Primeiro, a vontade para o fazer. Se não tivermos dentro de nós a vontade para o fazer, nem chegamos a dar um passo em frente. Depois, é preciso ter o poder para o fazer. Até aqui tudo bem, não é? O problema é que o poder está, na maior parte das vezes, nas mãos de quem não tem vontade - mas, para ter vontade, estamos cá nós. Portanto, a coisa resume-se à nossa capacidade de persuadir aqueles que têm o poder. Difícil? Vejamos os exemplos que a história nos dá. O Agostinho da Silva, enquanto esteve no Brasil, resolveu que seria bom criar ali um Centro de Estudos Africanos. Quando o Eduardo Lourenço foi lá ao Brasil, eles encontraram-se, e o Eduardo contou-lhe maravilhas do reitor duma universidade brasileira qualquer, e disse-lhe que ele era pessoa para, quando ouvia uma ideia interessante, a passar à prática. O Agostinho nem pensou duas vezes, e disse-lhe para o Eduardo dizer ao reitor que queria falar com ele e fazer-lhe uma proposta. E lá vieram os bilhetes, lá voou ele até ao sítio, e foi falar com o reitor, que ele não conhecia de parte nenhuma. Quando ele se dirigiu ao reitor, ele parecia não saber de nada da proposta, o Eduardo Lourenço não devia ter dito nada. Disse para o Agostinho ir para um hotel e daí a dois dias conversavam. Sucede nessa altura - por uma daquelas coincidências da vida - que, durante a espera, vem um representante da UNESCO dizer que era bom que se constituisse no Brasil um Centro de Estudos Orientais. Quando o Agostinho chega lá ao gabinete do reitor, ele pergunta-lhe, então e se juntássemos um Centro de Estudos Orientais? - Junto tudo o que o senhor quiser!, disse logo o Agostinho. E a verdade, no meio disto tudo, é que, apesar de ter preparado o Centro em segredo porque os outros professores não iam gostar, o Agostinho conseguiu, e o tal Centro ainda hoje existe, Estudos Africanos e Orientais. Então, é possível ou não é possível? O que é preciso é ir tentando. E razões para aderirem não faltam, com a falta de emprego que aí vem, com o emprego precário, com o colapso económico, com o cansaço que há em ter de levar com um ensino como este, nós nem vamos é ter mãos a medir para tanto interessado!
O que aconteceu foi que encontrei o que pode ser um começo, encontrei quem tenha algum poder para fazer alguma coisa, e que talvez até esteja interessado nisso. Mas é preciso ainda sondar as pessoas, para ver como elas reagem. Logo, logo, darei notícias. Mas as previsões, para já, são boas! ;)
nesta história temos sempre duas possibilidades: achar que somos nós os autores das ideias que encontramos na nossa cabeça; ou, por outro lado, mantermo-nos sempre receptivos para que a nossa cabeça, como boa antena colectora de ideias, seja confortável o suficiente para que elas se amiguem de lá pousar. Pelo sim pelo não, vou mais por deixar a cabeça suficientemente livre e vazia de qualquer pensamento para que eles nunca se incomodem de lá parar para ganhar força e seguir adiante.
4 comentários:
E haverá mentes dispostas a fundar e, ainda mais importante, a acolher uma nova universidade? Haverá a força de vontade para reconstruir caminhos que já estão tão solidamente traçados?!
Mentes dispostas a fundar há, sem dúvida, e até conheço umas quantas. A acolher, com certeza; o pior serão os outros. Mas nós não queremos ir contra o sistema, porque se formos contra o sistema perdemos. A melhor maneira de criar uma nova universidade é criá-la de acordo com as regras do sistema, e de preferência nas próprias barbas e com o próprio dinheiro que o sistema garante. Por enquanto, há muitas ideias e poucas coisas feitas; mas já estivemos muito mais longe de conseguir montar uma coisa assim...
A verdade é essa, o problema, como a Mariana o levanta, é o da adesão.
Claro, há que dar uma alternativa ao sistema. Mas há imensas variáveis implicadas nisto, e são sempre sistemáticas. Há valores em jogo como as notas, médias, credibilidade, validade, reonhecimento profissional póstumo, etc.
Minha querida Sabrina, problemas há em toda a parte; a questão está em saber usar os problemas a nosso favor. E todas essas variáveis, mais ou menos sistemáticas, mais ou menos imprevisíveis, não interessam. Não é que deixem de ter importância, porque têm; elas não interessam porque há outros factores muito mais determinantes que elas. Ora vejamos. O que é que é preciso fazer para fazer uma coisa assim? Essencialmente, duas coisas. Primeiro, a vontade para o fazer. Se não tivermos dentro de nós a vontade para o fazer, nem chegamos a dar um passo em frente. Depois, é preciso ter o poder para o fazer. Até aqui tudo bem, não é? O problema é que o poder está, na maior parte das vezes, nas mãos de quem não tem vontade - mas, para ter vontade, estamos cá nós. Portanto, a coisa resume-se à nossa capacidade de persuadir aqueles que têm o poder. Difícil? Vejamos os exemplos que a história nos dá. O Agostinho da Silva, enquanto esteve no Brasil, resolveu que seria bom criar ali um Centro de Estudos Africanos. Quando o Eduardo Lourenço foi lá ao Brasil, eles encontraram-se, e o Eduardo contou-lhe maravilhas do reitor duma universidade brasileira qualquer, e disse-lhe que ele era pessoa para, quando ouvia uma ideia interessante, a passar à prática. O Agostinho nem pensou duas vezes, e disse-lhe para o Eduardo dizer ao reitor que queria falar com ele e fazer-lhe uma proposta. E lá vieram os bilhetes, lá voou ele até ao sítio, e foi falar com o reitor, que ele não conhecia de parte nenhuma. Quando ele se dirigiu ao reitor, ele parecia não saber de nada da proposta, o Eduardo Lourenço não devia ter dito nada. Disse para o Agostinho ir para um hotel e daí a dois dias conversavam. Sucede nessa altura - por uma daquelas coincidências da vida - que, durante a espera, vem um representante da UNESCO dizer que era bom que se constituisse no Brasil um Centro de Estudos Orientais. Quando o Agostinho chega lá ao gabinete do reitor, ele pergunta-lhe, então e se juntássemos um Centro de Estudos Orientais? - Junto tudo o que o senhor quiser!, disse logo o Agostinho. E a verdade, no meio disto tudo, é que, apesar de ter preparado o Centro em segredo porque os outros professores não iam gostar, o Agostinho conseguiu, e o tal Centro ainda hoje existe, Estudos Africanos e Orientais. Então, é possível ou não é possível? O que é preciso é ir tentando. E razões para aderirem não faltam, com a falta de emprego que aí vem, com o emprego precário, com o colapso económico, com o cansaço que há em ter de levar com um ensino como este, nós nem vamos é ter mãos a medir para tanto interessado!
O que aconteceu foi que encontrei o que pode ser um começo, encontrei quem tenha algum poder para fazer alguma coisa, e que talvez até esteja interessado nisso. Mas é preciso ainda sondar as pessoas, para ver como elas reagem. Logo, logo, darei notícias. Mas as previsões, para já, são boas! ;)
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