domingo, 31 de janeiro de 2010
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
No princípio era o Verbo, e depois...
Perguntaste-me quando começou o nosso trabalho, como e onde? Pois bem, na realidade o ponto de partida remonta à época chamada Guerra Civil. (...) O facto é que não tínhamos nenhum papel a representar antes da aparição da fotografia. Depois, veio o cinema... no princípio do século XX. Depois a rádio. A televisão. O elemento massas entrou então em cena.
(...) E esse elemento massas veio simplificar os problemas (...). Primeiro, os livros apenas interessavam a minorias, aqui e ali. Podiam permitir-se ser diferentes. O mundo era vasto. Depois o mundo encheu-se de olhos, de cotovelos, de bocas. A população dobrou, triplicou, quadruplicou. Os filmes e a rádio, os magazines, os livros, foram nivelados, normalizados sob a forma de uma espécie de pasta de bolo. Estás a perceber?
(...) Estás a ver o quadro. O homem do século XIX, com os seus cavalos, os seus cães, os seus comboios; lentidão do movimento. Depois, a aceleração, a câmara. Os livros resumidos. As condensações, os digests, os gráficos; tudo subordinado ao mote, ao fim percutante. (...) Os clássicos reduzidos para compor emissões de um quarto de hora na rádio, cortados de novo para darem extractos de dois minutos de leitura, enfim, arranjados para um resumo de dicionários de dez a doze linhas. (...) Para muita gente, (...) Hamlet era apenas um resumo de uma página, num livro que declarava: «Finalmente, todos os clássicos ao seu alcance; o seu nível de conhecimentos igual ao do seu vizinho». Estás a ver o que quero dizer? Da sala das crianças ao colégio e do colégio à sala das crianças. Eis o traçado da curva intelectual para os últimos cinco séculos.
[e depois?]
(...) As aulas tornam-se mais curtas, a disciplina é relaxada, a filosofia, a história, as línguas abandonadas, o [português] e a sua pronúncia abastardados pouco a pouco e, finalmente, quase ignorados. Vive-se no imediato. Apenas conta o trabalho e, após o trabalho, a dificuldade da escolha de uma distracção. Para quê aprender qualquer coisa, além de carregar botões, ligar comutadores, enroscar parafusos e porcas? (...) O fecho éclair substitui o botão, pois o homem não tem tempo para reflectir nem para se vestir, de manhã. Não há hora de filosofia, nem hora de melancolia. (...) Aumentem a dose de desportos para cada um, desenvolvam o espírito de equipa, de competição, e o desejo de pensar é eliminado, não? Organizem, organizem, super-organizem super-super-desportos. Multipliquem as fitas desenhadas, os filmes; o espírito tem cada vez menos apetites. A impaciência, as auto-estradas percorridas por multidões que estão aqui, ali, em todos os sítios, em parte nenhuma. Os refugiados do volante. As cidades transformam-se em albergues de automobilistas; os homens deslocam-se como nómadas seguindo as fases da Lua.
(...) Autores cheios de maus pensamentos, fechem as vossas máquinas de escrever. E eles fizeram-no. As revistas tornaram-se numa amável mistura de tapioca e baunilha e os livros [e os filmes], segundo esses danados snobs dos críticos, eram água de lavar a loiça. Não é de admirar que os livros deixem de se vender, diziam os críticos. Mas o público, sabendo o que queria, reagiu sem medo e deixou sobreviver os comic-books. E as revistas eróticas em três dimensões, naturalemnte. E (...) o governo nada teve que ver com isto. Nem um decreto, nem uma declaração ou censura, ao princípio. Não! A tecnologia, a exploração do factor massa, a pressão exercida sobre as minorias e, aí estamos, a coisa estava lançada.
de Ray Bradbury vêm os ecos do mundo de Fahrenheit 451.
Ou será do mundo em que vivemos?
(...) E esse elemento massas veio simplificar os problemas (...). Primeiro, os livros apenas interessavam a minorias, aqui e ali. Podiam permitir-se ser diferentes. O mundo era vasto. Depois o mundo encheu-se de olhos, de cotovelos, de bocas. A população dobrou, triplicou, quadruplicou. Os filmes e a rádio, os magazines, os livros, foram nivelados, normalizados sob a forma de uma espécie de pasta de bolo. Estás a perceber?
(...) Estás a ver o quadro. O homem do século XIX, com os seus cavalos, os seus cães, os seus comboios; lentidão do movimento. Depois, a aceleração, a câmara. Os livros resumidos. As condensações, os digests, os gráficos; tudo subordinado ao mote, ao fim percutante. (...) Os clássicos reduzidos para compor emissões de um quarto de hora na rádio, cortados de novo para darem extractos de dois minutos de leitura, enfim, arranjados para um resumo de dicionários de dez a doze linhas. (...) Para muita gente, (...) Hamlet era apenas um resumo de uma página, num livro que declarava: «Finalmente, todos os clássicos ao seu alcance; o seu nível de conhecimentos igual ao do seu vizinho». Estás a ver o que quero dizer? Da sala das crianças ao colégio e do colégio à sala das crianças. Eis o traçado da curva intelectual para os últimos cinco séculos.
[e depois?]
(...) As aulas tornam-se mais curtas, a disciplina é relaxada, a filosofia, a história, as línguas abandonadas, o [português] e a sua pronúncia abastardados pouco a pouco e, finalmente, quase ignorados. Vive-se no imediato. Apenas conta o trabalho e, após o trabalho, a dificuldade da escolha de uma distracção. Para quê aprender qualquer coisa, além de carregar botões, ligar comutadores, enroscar parafusos e porcas? (...) O fecho éclair substitui o botão, pois o homem não tem tempo para reflectir nem para se vestir, de manhã. Não há hora de filosofia, nem hora de melancolia. (...) Aumentem a dose de desportos para cada um, desenvolvam o espírito de equipa, de competição, e o desejo de pensar é eliminado, não? Organizem, organizem, super-organizem super-super-desportos. Multipliquem as fitas desenhadas, os filmes; o espírito tem cada vez menos apetites. A impaciência, as auto-estradas percorridas por multidões que estão aqui, ali, em todos os sítios, em parte nenhuma. Os refugiados do volante. As cidades transformam-se em albergues de automobilistas; os homens deslocam-se como nómadas seguindo as fases da Lua.
(...) Autores cheios de maus pensamentos, fechem as vossas máquinas de escrever. E eles fizeram-no. As revistas tornaram-se numa amável mistura de tapioca e baunilha e os livros [e os filmes], segundo esses danados snobs dos críticos, eram água de lavar a loiça. Não é de admirar que os livros deixem de se vender, diziam os críticos. Mas o público, sabendo o que queria, reagiu sem medo e deixou sobreviver os comic-books. E as revistas eróticas em três dimensões, naturalemnte. E (...) o governo nada teve que ver com isto. Nem um decreto, nem uma declaração ou censura, ao princípio. Não! A tecnologia, a exploração do factor massa, a pressão exercida sobre as minorias e, aí estamos, a coisa estava lançada.
de Ray Bradbury vêm os ecos do mundo de Fahrenheit 451.
Ou será do mundo em que vivemos?
the secret of life is
the secret of life is to know how to pretend. Nobody knows anything, but only the ones who pretend to know something get away. Say you know nothing and you will be ignored; pretend you know everything and you will be adored. People only praise who is like what they would like to be, and never who shows them how they really are.
sábado, 16 de janeiro de 2010
só uma reforma no modelo de ensino actual poderá algum dia superar a divisão artificial e ridícula que existe entre as Humanidades e as Ciências. E é mais que certo que essa reforma vai acontecer porque as necessidades do sistema capitalista em que nós vivemos assim o vão exigir. A particularização e fragmentação das Ciências é tanta e tão doentia que cada especialidade, voltada apenas sobre si mesma, vai acabar por diminuir a sua produção intelectual até que a obrigue a estagnar em níveis baixos - e isso já está a acontecer. A questão é que, daqui em diante, e por causa da excessiva especialização que a ciência sofreu nos últimos tempos, só será produtivo quem conseguir manejar várias áreas diferentes ao mesmo tempo, relacionando-as entre si. É hoje impossível inovar e ir mais além se não se vir o mundo como um sítio grande e vasto, onde cabe tudo e onde tudo se influencia entre si. E a questão aqui é que a melhor maneira de superar esta divisão terrível e deformante é pela reformulação do modelo de ensino desajustado aos nossos tempos que teimam em nos impôr. Quando um modelo integrativo do desenvolvimento da história e da cultura for posto em prática e forem medidos os resultados práticos que ele promove, aí as coisas começarão a mudar. E temos esperança nisso - não porque seja a última coisa a morrer, mas porque as mudanças na cultura dão-se cada vez mais depressa, e tão depressa, que o mais certo é virmos a ter muitas surpresas nunca antes previstas ainda durante esta nossa curta vida.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Feeling, will, and intellect all function together
"The first, chaotically styled observation resembles a chaos of feeling: amazement, a searching for similarities, trial by experiment, retraction as well as hope and disappointment. Feeling, will, and intellect, all function together as an indivisible unit. The research worker gropes but everything recedes, and nowhere is there a firm support. Everything seems to be an artificial effect inspired by his own personal will. Every formulation melts away at the next test. He looks for that resistance and thought constraint in the face of which he could feel passive (...) The work of the research scientist means that in the complex confusion and chaos which he faces, he must distinguish that which obeys his will from that which arises spontaneously and opposes it. This is the firm ground that he, as representative of the thought collective [the scientific community], continuously seeks."
the best account I've ever met of a scientist's work was written by
Ludwik Fleck, in Genesis and Development of a Scientific Fact
(Even the scientist must be passionate about his own subject, and aware of the subjectiveness associated with his difficult enterprise. Scientists are, after all and primordially, human beings which have the same kinds os aspirations as anyone else. The only thing different with them are their use of strange paraphernalia and specialized odd-shaped language. Scientists without emotions would be no scientists. Pure objective findings are something that will never be encountered. Everything's unique, and everything start and end up with ourselves. The universe is our head, and our head is who we are.)
the best account I've ever met of a scientist's work was written by
Ludwik Fleck, in Genesis and Development of a Scientific Fact
(Even the scientist must be passionate about his own subject, and aware of the subjectiveness associated with his difficult enterprise. Scientists are, after all and primordially, human beings which have the same kinds os aspirations as anyone else. The only thing different with them are their use of strange paraphernalia and specialized odd-shaped language. Scientists without emotions would be no scientists. Pure objective findings are something that will never be encountered. Everything's unique, and everything start and end up with ourselves. The universe is our head, and our head is who we are.)
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
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