domingo, 30 de novembro de 2008

o movimento que se intitula Nova Águia seria uma proposta realmente interessante se trouxesse algo de novo à realidade cultural portuguesa. Indo beber mais inspiração ao pensamento que à acção de Agostinho da Silva, está muito pouco interessada em dar cultura a todas as pessoas, e permanece sistematicamente na posição do academismo caduco e incompreensível que tanto afasta os verdadeiros amantes da cultura, e sobretudo os mais novos - na verdade, os únicos que poderão cumprir em Portugal o seu reino espiritual. As boas intenções não são suficientes para poder fazer realmente alguma coisa, é preciso que essa coisa seja levada cuidadosamente à prática da forma mais clara, objectiva e pedagógica que for possível. Por enquanto, a águia apenas rasteja, e a custo. Não é nova, e muito menos voa. É certo que uma águia não consegue sobreviver por muito tempo sem dar uso às suas asas e aos seus músculos.
os literatos portugueses, e sobretudo aqueles que pairam sobre as universidades portuguesas, fazem incríveis esforços para serem detestados por toda a gente. Adoptam à partida uma postura esfíngica, meramente decorativa, entrincheirada no meio do seu ar abstruso e complicado. Qualquer tentativa de possível contacto é completamente afastada à partida. Mas o pior não vem do seu semblante: quando abrem a boca é que começa o inferno. A algaraviada incompreensível que vão terrivelmente balbuciando, em jeito de dicionário de folhas desordenadas, é suficiente para repelir até as mais pacientes almas e os espíritos menos ofuscados. Até a mais simples equação matemática poderia ser facilmente mutilada e desfigurada pelas mentes deturpadas desses literatos incompreensíveis.

O problema do ensino em Portugal e no mundo é o problema de quem ensina, e este pode resumir-se à sua falta de memória. Esquecendo as pessoas para quem falam, esses que pretendem ser professores sem nunca o poderem verdadeiramente ser falam somente para si, perpetuando um autismo patológico e completamente desconectado da realidade. Hoje, e cada vez mais, não precisamos de literatos-de-gabinete, empoeirados nos seus colarinhos engomados e nas suas cabeças bafientas. Precisamos, isso sim, de geómetras objectivos, de verdadeiros professores conscientes da sua missão cultural e da realidade cultural do país e dos alunos. Precisamos de gente que tenha o dom da comunicação, que consiga comunicar da forma mais simples e objectiva com o gosto de ensinar e de aprender ao mesmo tempo. Precisamos de quem subverta toda a lógica do actual ensino e que saiba reflectir seriamente acerca da melhor maneira pela qual poderemos transformar esta situação abjecta que temos hoje na verdadeira instrução - o único modo pelo qual cada se pode instruir por si próprio.
Na verdade, sempre vivi para dentro de mim. É isso que me faz estar longe de toda a gente e perto de mim.

sábado, 29 de novembro de 2008

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Só há uma força que pode orientar a aprendizagem, e ela é a motivação. Na sociedade ideal é a motivação de cada um que orienta o desenvolvimento do potencial individual. Só uma mente cheia de vícios e deformações pode concordar numa educação que se baseia em coerções e ameaças de castigos ou prémios - os instrumentos pelos quais se fomenta a competição cega e desenfreada de igual contra igual.

domingo, 23 de novembro de 2008

não é o contacto com o meio social que mutila aquilo que a criança tem de melhor, é antes o contacto com a sociedade que temos.
everything's a cognitive state

oxytoxins flowing ever into my brain

viver uma vida plena é sobretudo intelectualizar. Procurar pela simetria, pela exacta e geométrica proporção daquilo que nos acontece no dia-a-dia, é a única tarefa realmente interessante e verdadeiramente válida para o homem que quer elevar-se para lá da sua condição física e limitada. Não há tempo a perder quando pensamos no destino que temos neste mundo.
Toda a vida é um perpétuo Outono: o que vive tende a decair, o que morre vivifica o que ainda vive.
Toda a gente tem saudades do Verão. Eu tenho saudades do Outono.
a evolução humana consiste numa progressiva tomada de consciência daquilo que há tanto dentro como fora de nós.
há em mim a consciência terrível de que esta vida que temos é sublimemente delicada e preciosa, e de que não devemos desperdiçar um único segundo desta nossa existência a fazer outra coisa que não seja conhecermo-nos a nós mesmos e à missão que nos cabe desempenhar neste mundo. O problema é esta questão económica que tanto peso tem hoje em dia, e que tanto e de tantas formas atrapalha o cumprimento da nossa missão. Merda para a economia.

about disfunctional families




no family is completely functional.





Rachel getting married (2008)

Não podia haver melhor maneira de encerrar esta grande edição do Estoril Film Festival. Uma sugestão foi quanto bastou para que este dia dedicado ao cinema (era mais ao cinema do Tim Burton que outra coisa) terminasse com uma obra de arte sublime, que triunfa pela simplicidade com que nos apresenta o complexo: a psique humana em convulsão nos momentos-chave da vida, a tensão essencial que desencadeia o conflito - e a conclusão que nos mostra que nada se resolve, que tudo se vai resolvendo aos poucos, que não há milagres nem curas milagrosas, que tudo faz parte de uma construção que tentamos harmonizar a todo o custo neste mundo multicultural. Ninguém é aqui herói: apenas nos esforçamos por viver o melhor que conseguimos, tantas vezes falhando e frustrando as expectativas dos outros, as nossas próprias expectativas. Mas é no momento, único, que tudo pode acontecer. É esse imprevisível que faz com que o conjunto seja muito mais do que a soma das partes. E a perfeição está aí: não no que se cria, não no que fica por criar; apenas no que acontece. E assim é a vida. E assim somos nós.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

quando compreenderes o que é a adolescência já passaste por ela.

as cidades invisíveis

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Todos os clássicos foram um dia desconhecidos.
Viver é inventar uma maneira de sair do buraco em que caímos.
Uma das maiores forças que encontramos no pensamento dos gregos é o poder do destino. O destino tudo verga a seu prazer, não havendo homem nenhum que lhe resista; o destino é implacável na aplicação dos seus castigos, e inquebrantável na consumação dos seus prazeres; nenhum homem lhe pode fugir ou opor-se; nada nem nenhuma circunstância pode alterar esse fio que as fiandeiras tecem. E, por outro lado, nada disso é completamente definitivo; até mesmo o homem como Hércules, filho de deuses e mortais por inteiro, pode, se para isso fizer de si riqueza com que possa comprar os dons de que os deuses o cumulam, ascender ao Olimpo mais elevado, e tornar-se, não sem passar por duras provas e duros tormentos, um verdadeiro deus vivo. A transgressão que levou à Grande Queda pode sempre ser reparada se o espírito for puro.
não existe só um gosto, existem dois: um é o gosto em deixar-se à vontade, o outro é o gosto em silenciar-se o mais possível; um é o gosto em deixar-se ser naturalmente conforme à sua natureza, o outro é o gosto em se equilibrar artificialmente pelo silêncio. Só através de uma harmonização consciente e artificial das nossas pulsões destrutivas podemos atingir o céu daquilo que é próprio à nossa natureza e, ao mesmo tempo, e bem mais difícil, permanecer lá para sempre.
a vida é um campo de batalha entre Eros e Thanatos, e a nossa missão é fazer com que o espírito converta a matéria em luz para que desse modo se sublime esse eu profundo mais animalesco que habita em nós e nos prende a esta terra.

domingo, 9 de novembro de 2008

deve-se experimentar tudo pelo menos uma vez na vida, mas apenas até se saber o sabor que cada coisa tem. Quem se prende ao sabor de algo, qualquer que seja a natureza desse algo, ganha um novo vício e esquece todos os sabores que aprendeu, perdendo ainda todos aqueles que poderia aprender e com os quais poderia ter tanto a ganhar.
os meus olhos não vêem o presente grávido de todo o futuro; vêem o futuro parido diante de mim, que vive e respira e come e dança, e que mais ninguém vê ou parece querer ver.
o mundo parece por vezes tão belo, e tão belo de uma beleza tão rara que não há palavras que possam ser inventadas para a descrever em todas as suas subtis cambiantes e tonalidades matizadas sem princípio nem fim; o problema é que, por vezes, e tantas vezes por demasiado tempo, é costume sobrevir a sofreguidão e a estupidez humana para abafar e manchar essa centelha de divino que dança em cada um de nós. A nossa humana existência vive mergulhada nesta dualidade indissociável que procuramos a todo o custo transcender, sempre tentando aproximarmo-nos do verdadeiro Ideal mais puro, mas sempre descrendo no poder dos outros para inventar um caminho que chegue à meta mais depressa: é preciso trepar pelas barreiras da boçalidade e do lugar-comum; é preciso vencer o facilitismo com ideais de uma forte fibra kantiana; é preciso dispender energia para exercitar os músculos que nos permitirão ascender aos lugares mais elevados da existência. Que os outros gostem desta terra que hoje temos, que os outros não façam nada para a erguerem a outro nível, isso é lá com eles; para nós, aqueles que trabalhamos incansavelmente, noite e dia, ao sol e à chuva, por sobre a terra e por sobre o mar, para além de tudo e todos, por um mundo que veja nascer o sol por inteiro; para nós que ousamos remar contra a corrente para voltar à primordial origem da vida; para nós que tudo fazemos e tudo damos para construir essa escadaria infinita até ao céu; para nós que, livres de críticas medíocres ou de más-vontades seguimos sempre a direito o nosso rumo; para nós que não conhecemos outra vida que não esta, que sentimos esta como a única vida que é possível viver num mundo como este; para nós, a realidade é demasiado preciosa para ser desperdiçada em coisas fúteis ou triviais: em cada instante cabe a nós, e só a nós, plantar a semente do mundo futuro que certamente despontará; do mundo que é impossível não chegar; do mundo que caminha a passos largos para a sua instauração neste tempo e neste espaço, nem que nos tenhamos que livrar de ambos; do mundo que é o único mundo digno para o desenvolvimento do potencial de cada um, e onde o sonho é uma realidade que vive, e respira, e se cumpre.

sábado, 8 de novembro de 2008

Aqueles que presentemente defendem a teoria darwinista da evolução fazem-no exactamente como aqueles que, no passado, defenderam a teoria criacionista da evolução: apresentando um dogma que se tem como verdade absoluta e inquestionável, e escarnecendo de quaisquer opiniões contrárias. Tanto uma como a outra posição são não só desprezáveis como, e bem pior que o resto, profundamente desprezíveis.
o maior problema do mundo está no falar daquilo que não se conhece, e no falar abstruso daquilo que se conhece. Cada um dos dois apenas perpetua a imensa desinformação em que vivemos mergulhados.

Aforismos maduros

A única maneira de mudar o mundo é mudarmo-nos a nós mesmos.

A única maneira de mudar o mundo é dar a todos os meios pelos quais cada um de nós se possa desenvolver livremente por si próprio.

O único modo de dar a todos os meios que lhes permitam a sua expressão individual é através da comunicação pessoal, personalizada e individualizada.

O único modo de se dar comunicando é procurar ser o mais claro possível, falando a linguagem de cada um.

Todas as restantes abordagens são obsoletas por inteiro, de acordo com aquilo que a experiência mostra.
Quem quer que eu ache
Qualquer que eu seja
A conhecer-me, só metade:
Sou outra coisa qualquer.
I know me better than I know myself.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

a crítica montessoriana

Claro está que toda a explicação do comportamento da criança como uma reacção a um tratamento errado ou como repousando em causas orgânicas lhes aparece destituído de bom senso e apenas como produto de um cérebro em delírio; o mestre, apesar das aparências, é, em geral, pouco apreensivo e pouco sabedor; e é muito difícil lutar contra a ininteligência ou a ignorância do adulto; tudo se fixou nele como um dogma, toda a maleabilidade de espírito se perdeu; por outro lado, se reconhece o erro não o quer confessar; e, por fim, o temperamento leva-o muitas vezes a tomar atitudes que a inteligência lhe reprova.

Pouco há, evidentemente, a esperar, para o progresso social, dos espíritos - e dos corpos - preparados por estas escolas; perdem-se, em geral, as boas qualidades com que a criança entrou na escola e ficam-lhe radicados todos os desvios que a sua sensibilidade sofreu, todas as defesas que teve de inventar para, de algum modo, se proteger contra as ameaças do castigo; as pobres vítimas da incompreensão e do desconhecimento dos elementos da psicologia infantil ficam para sempre mutiladas e formam uma humanidade cheia de vícios e loucuras.

A cobardia que leva a esconder as convicções mais arreigadas para que se não arrisquem a tranquilidade e a vida em defesa do que é justo e puro; a dissimulação que se manifesta nos actos mais insignificantes da existência e que obriga o adulto a mentir a cada momento enquanto o proíbe à criança; o egoísmo que nos torna indiferentes às maiores injustiças cometidas contra os outros e sensíveis à mínima ameaça aos nossos interesses; a ignorância do que o mundo contém de beleza, de amor e de grandiosidade; a mesquinhez das nossas preocupações, das nossas conversas, dos nossos actos; a fraqueza de toda a nossa vida psicológica e física: numa palavra, todos os defeitos que se consideram inerentes à natureza humana - tudo se desenvolve na escola, se cultiva na escola e se afina na escola.

Agostinho da Silva contrapõe a esta concepção O Método Montessori