sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

os dias são à noite

se a vida é uma guerra, temos de saber armar-nos até aos dentes.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

a onda está aí













A Onda (Dennis Gansel, 2009)


Eis a prova de como um filme alemão consegue em três tempos dar cabo de qualquer pseudo-intelectualice francesa. Um prodígio de lucidez, pleno de actualidade, entra pela nossa mente adentro e leva-nos até aos recantos mais sujos, mais subtis e mais sombrios da psique humana. Já fazia falta um filme assim - não só para meter o dedo na ferida alemã que ainda não sarou, mesmo depois do fim do horror nazi, mas também para mostrar a todos como é simples e fácil construir um regime ditatorial em que tudo aparentemente parece funcionar em pleno. A Onda é metafórica, ideológica; e até a presença da água ajuda à semiótica, lembrando sempre o saudoso Palombella Rossa do nosso Moretti. É nesta grande Onda que todos os dias nos tentam afogar, a Onda do Progresso e da Técnica, do Cientificismo e do Capitalismo. É esta a nova religião. E é também a prova de que o ser humano precisa desesperadamente de ideais para viver, de que só vive uma vida plena quando aplica a sua energia e a sua força na construção de um grande ideal. O nosso dever é fazer com que esses ideais sejam ideais realmente elevados: a liberdade total em tudo e para todos. Uma tropa bem mandada pode ganhar a guerra, mas o objectivo de toda a tropa é que a guerra acabe para ser cada um o que é à sua maneira e livre de uniformes.

Jamie Jazz-Genius Cullum!



O profeta do pop-jazz
porque o jazz nele faz POP por todos os poros

domingo, 25 de janeiro de 2009

uma palavra para Tchaikovsky

em português: orgásmico

em latim: delectare

em grego: rhetoriké
my cracked open head fills the floor with old and imperishable joys and sorrows. Pandora's box is now open and I'd be delighted if you come in.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Quero desde já manifestar os mais profundos e sinceros parabéns a Barack Obama, o Novo Messias, Grande Imperador de Todo o Mundo, Incarnação do Grandioso Sonho Americano, o Presidente do Povo, a Maior Estrela Pop-Star do Planeta, o D. Sebastião da América. Buda não chega aos calcanhares deste ser mais-que-iluminado, e Jesus já passou de moda. Quem vai salvar o mundo de todo o sofrimento é Barack Obama. Agora, o que eu nem quero pensar é no que vai acontecer se ele defraudar por um milímetro que seja aquilo que todos fazem dele. Oxalá não venhamos a saber que se trata de mais um falso profeta...

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

para quem ainda tem dúvidas













La frontière de l'aube (Philippe Garrel, 2008)

Há desde tempos imemoriais, e tão acentuados por um racionalismo cartesiano, um desejo íntimo - diríamos até inconsciente se não fosse tão idiota - no pensamento francês de querer à viva força comandar os desígnios humanos que mais escapam à racionalidade pela racionalidade. Essas investidas que tantos tiveram o delírio de levar a cabo só podem ser comparadas à situação ridícula que é querer comer sopa de garfo e faca. Já depois de um Kant que critica a plenipotência da razão pura sobre tudo e todos; já depois de um Darwin a apresentar tantos argumentos acerca da proximidade entre o homem e todos os outros animais; já depois dos estudos sobre o hipnotismo de Charcot e Breuer; já depois do nascimento da psicanálise por Freud e da descoberta da importância do inconsciente para a vida psíquica do ser humano; já depois dos inúmeros e surpreendentes avanços em neurobiologia e da comprovação de que a vida emocional é pelo menos tão importante como a racional; já depois de tudo isto, quer Philippe Garrel fazer-nos crer que pode voluntariamente controlar idas e vindas ao inconsciente?! Até onde pode ir a ignorância que os humanos deste tempo têm da história?! Temos, em boa verdade, de dar razão a esse hediondo Sarkozy quando disse que queria apagar o Maio'68 da história da França: a sua profecia está a cumprir-se, e a estender-se para toda a história da humanidade numa constante e contínua estupidificação.

La frontière de l'aube, mais um filme de nome enigmático feito para atrair pseudo-intelectuais ao cinema, é tudo isso e mais ainda. É a prova de que também os franceses conseguem fazer qualquer coisa - até mesmo uma telenovela mexicana como esta - parecer um espectáculo sublime de sétima arte. Ao invés disso, ficamos com um filme de pelo menos sétima categoria. Tudo no filme é desconchavado: o preto e branco - que aliás poderia resultar muito bem - parece mais uma pseudo-intelectualice feita para atrair críticos revivalistas - tivesse o filme passado a cores e ninguém lhe pegaria, tais são as semelhanças dessa infeliz película com as felizes telenovelas da TVI. Exactamente como numa telenovela, lá estão os planos alargados da cara de cada uma das marionetas que por ali se passeiam. A particular obsessão em filmar a cara da amante do fotógrafo é tão grande (trata-se certamente de uma qualquer relação mal resolvida entre o Garrel-realizador e uma das suas 300 amantes no decurso da sua vida de boémio) que ainda o filme nem vai a meio e nós já desejamos que ela caia redonda no chão, morta de aborrecimento por não conseguir sequer sonhar com coisas minimamente interessantes. Mais uma vez, temos a prova de que os franceses só podem ser realmente muito estúpidos: dão-se uns planos bonitinhos de carinhas larocas, mete-se o preto e branco, e voilà! Toda a gente vai achar que se está perante a oitava maravilha do mundo. Claro que a operação de cosmética é necessária para esconder as fragilidades do filme - diríamos melhor, a fragilidade: é preciso ser muito estúpido ou muito ingénuo para achar que uma coisa daquelas teria substância suficiente para dar um filme. Mas o maior martírio não é esse, é o sermos obrigados a percorrer os mesmos lugares-comuns da rapariguinha burguesa que vive bem mas não sabe quem é, do fotógrafo que não tem onde cair morto até encontrar uma mulher rica, do amor proibido entre mulher casada e madura e badameco solteiro e adolescente (os franceses gostam destes dilemas existenciais: tirem-lhes isso e vão ver que eles ficam sem saber o que fazer, a verdade é que não sabem fazer mais nada), da morte que tudo separa, da impossibilidade de realização, do conformismo; e tudo isto durante 100 minutos que mais parecem 200: uma autêntica tortura medieval. Em suma, todas as ideias dos grandes romances de outrora, desta feita reduzidas ao puro enredo telenoveleiro e desinteressante. Mas também é verdade que o filme nos proporciona momentos áureos: quem será capaz de se conter no seu riso depois de ver uma frase pseudo-filosófica atirada para o ar no meio de uma conversa de surdos-mudos tirada de uma cena completamente à parte? Meus senhores, é a isto que se chama verdadeiro pseudo-intelectualismo. E podia ficar por aqui - mas não fica! Começámos por falar em Freud, e é claro que não pode haver tópico mais apropriado para compreender por que motivo tem um Garrel-pai interesse em fazer um filme com um Garrel-filho em que põe este em contacto amoroso e sexual com mulheres? Em que subtipo de neurose voyeurística se incluirá este Garrel-pai? E que dizer do Garrel-filho? Tem algum prazer obscuro e neurótico em expôr-se perante o próprio pai, ou é só uma prostituiçãozinha momentânea para poder depois dizer que até chegou a aparecer nos grandiosos filmes do Mestre Garrel? Pensávamos nós que depois d'Os Sonhadores já tínhamos visto tudo... Um conselho, Louis: deixa lá de alimentar desejos sexuais de entidades paternais e põe-te mas é a fazer alguma coisa de jeito com gente que tem mensagens para transmitir, como o Bertolucci. Deixa-te lá dessas francesices que isso só te faz é mal. Bom, mas a avaliar pela curta-metragem Mes copains, o Garrel-filho segue as pisadas do pai. Oxalá consiga abrir os olhos a tempo. Pelo menos tem um trunfo: não é snob como a maioria dos franceses, e chega mesmo a ser simpático - por esta apenas já merecia um óscar. Só é pena que a mera simpatia não seja suficiente para chegar ao céu.

Definição de faculdade

exposição sequencial e fastidiosa de informação inútil e perfeitamente irrelevante.

domingo, 11 de janeiro de 2009

só os maus bocados nos podem tornar grandes pessoas.

Porque é que ser artista não combina com ganhar dinheiro?...

...é que para ganhar muito dinheiro é preciso gastar muito tempo e dinheiro em negócios. E o artista não se pode dar ao luxo de perder a sua preciosa vida com trabalhos tão inferiores. É por isso que os artistas deixam essa trabalheira aborrecidíssima para aqueles magnatas que têm paciência para isso. Depois, seduzem-nos como uma qualquer mulher bela e inteligente, e exploram-nos até ao tutano. Os artistas sempre foram os chulos dos magnatas.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

divulgação cultural

Qual é a melhor maneira de dar cultura às pessoas? Teatro independente ou teatro comercial? Ensaios filosóficos ou escrita comercial? O que é boa cultura e o que é má cultura? Estas questões têm-me atormentado desde há algum tempo, mas parece-me que encontrei agora algumas respostas. Não há boa nem má cultura. Não existem cânones. É impossível analisar um livro de uma forma perfeitamente objectiva sem que se perca, pela análise, aquilo que faz do livro algo que vai para além de um mero conjunto de palavras. Os cânones são relativos e estão inexoravelmente dependentes das pessoas que os criam. Pessoas diferentes em ambientes culturais diferentes apontam diferentes obras como marcos da cultura. Um haiku será para um ocidental uma nova espécie de ciência hermética. As odes de Álvaro de Campos não passarão de devaneios histéricos para um budista. Não é possível construir generalizações.

Não há boa nem má cultura. Cultura é toda a criação humana que supera tanto o biológico como o psicológico. Cultura é tudo aquilo que nos permite desenvolver a imaginação, que é uma das maiores capacidades humanas. As obras podem somente medir-se na capacidade que têm de levar uma pessoa individual a desenvolver a sua imaginação, o seu pensamento abstracto. Esta medição está completamente dependente da pessoa em questão e do seu contexto cultural, tanto o social como o pessoal. Não há livros bons nem maus. Há somente livros que exercitam mais a nossa imaginação e outros que a exercitam menos, e é tudo. Há somente livros que possuem uma riqueza semântica maior e outros que possuem uma riqueza semântica menor, e é tudo. Para quem nunca tenha ouvido falar em rituais, até os livros do Paulo Coelho são bons porque exercitam a capacidade imaginativa que nos permite perceber o que é um ritual. Para quem não tem cultura suficiente para compreender o Romeu e Julieta de Shakespeare, até o West Side Story serve para perceber o que é um amor de perdição.

O grande perigo está em querer vender-se gato por lebre. Todas as críticas são visões pessoais e individuais de uma obra. O que é importante é que exista a consciência de que tudo aquilo que existe é subjectivo, individual e pessoal - em suma: de que tudo é relativo. Esse será o primeiro passo. (E só deus sabe como é difícil que as pessoas percebam isso: por motivos vários - a sociedade arreigadamente capitalista em que vivemos, o sistema de ensino castrador de pensamentos originais em que somos metidos, as quantidades industriais de publicidade a que somos sujeitos quer queiramos quer não, a estrutura fortemente hierarquizada dos conjuntos sociais em que habitamos - a maior parte das pessoas vive na ideia de que só é possível manter ordem numa sociedade pela autoridade, e de que a estabilidade do mundo depende da existência de um contexto social fixo, em que a presença da mudança equivale a uma qualquer calamidade.) O segundo passo será perceber que, como tudo é relativo a um contexto, e como não existem opiniões absolutamente correctas ou infalíveis só é possível acalmar o desassossego que esta condição nos traz pela escolha - e essa escolha requer capacidade crítica para decidir entre várias opções possíveis. O terceiro e derradeiro passo será perceber que o número de opções possíveis tende para o infinito, aumentando tanto mais quanto maior for a cultura da pessoa - isto é, quanto mais obras culturais e meios de expressão cultural essa pessoa conhecer. A melhor decisão será a decisão que tiver em conta o maior número de opções. Só um louco ou uma pessoa que não conheça a poesia portuguesa pode afirmar que Eugénio de Andrade é o maior dos poetas.

Assim, chegamos à conclusão de que a tarefa mais importante é a de dar cultura às pessoas. Esta actividade de divulgação cultural terá de ser diversificada e contínua ao longo do tempo, nunca mostrando-se dependente do percurso escolar ou laboral de uma dada pessoa. O desenvolvimento de uma consciência da importância da relatividade no mundo e o desenvolvimento de um espírito crítico devem ser, estes sim, primeiramente desenvolvidos na escola. É claro que a divulgação cultural terá sempre em mente o desenvolvimento destas duas capacidades, mas o objectivo principal está no mostrar às pessoas algo que elas desconhecem ou que nunca tinham visto de outra perspectiva.

Mas temos ainda de nos debater com um grande problema: a necessidade de manter uma actividade de divulgação cultural rentável e auto-sustentável. Se a fonte de receitas é externa, então só podemos confiar no puro mecenato para manter uma actividade. Se esta fonte de receitas não existir, então não teremos outra hipótese que escolher para divulgação cultural uma actividade que tenha a capacidade de atrair muitas pessoas. Portanto, tem de ser obrigatoriamente comercial - embora possa e deva ser sempre, e ao mesmo tempo, instrutiva. Como equilibrar estas duas necessidades? Só há uma maneira possível: criar peças culturais amplamente ricas em diferentes níveis de significação. Durante o acto de conhecer a obra, o espectador pode procurar nela uma de duas coisas: ou procura aquilo que nela há de entretenimento, e a peça cultural serve apenas como forma de divertir alguém; ou o espectador procura a verdadeira mensagem da peça, e aí ela tem um sentido muito mais importante: um sentido pedagógico, e serve como uma arma de evolução cultural humana. Equilibrando uma forma atraente com um conteúdo rico conquistam-se os dois tipos de espectadores. E exemplos de obras geniais como essas abundam: Alice no País das Maravilhas, As Aventuras de João Sem Medo, Big Fish, D. Quixote, Ensaio sobre a cegueira, O Nome da Rosa, e muitos outros.

Infelizmente, e apesar de ser uma óptima solução para a sustentabilidade das actividades de divulgação cultural, esta situação irá apenas resolver uma ínfima parte da ignorância que há no mundo; é que ainda que se atraiam os dois tipos de espectadores, o objectivo central de dar cultura a todos não é totalmente cumprido: aqueles que conseguem ler nas entrelinhas, fazem-no; mas aqueles que não o conseguem por preguiça interior ou falta de estímulo exterior, não o fazem; tudo isso serve para perpetuar o desiquilíbrio da situação em que vivemos... Haverá casos - poucos, é certo - em que certas pessoas inicialmente atraídas para a peça cultural por o que há nela de entretenimento conseguem dar o salto de consciência para o lado abstracto e semântico da mensagem: são aquelas pessoas que se desconcertam e desassossegam; e o semear da dúvida é como um bálsamo para os olhos. Para esses existe evolução - mas e que dizer dos outros? Permanecerão fundamentalmente os mesmos. A resposta continua na divulgação cultural.

Voltamos então ao problema inicial: como elevar o nível cultural de toda a gente? Se é certo que passa pela divulgação cultural, o difícil é escolher o melhor meio de transmitir cultura. A apresentação de um tema deve ser sempre o mais clara e objectiva possível, focando-se a atenção em um ou dois aspectos essenciais - aqueles que se pretendem transmitir. É muito difícil para o espectador ficar a conhecer numa única sessão vários temas que desconhece, o processo de adaptação a um novo ambiente leva o seu tempo; é por isso que as sessões devem tratar de um único tema, mas procurando sempre explorá-lo de uma forma extensiva e bem desenvolvida. Apenas isso já seria um excelente ponto de partida. Outro aspecto muito importante é o da motivação. A exposição tem de ser lógica e sequencial, é certo; mas sempre motivante, interessada e emotiva: ela tem de conseguir tocar em cada um dos espectadores. É importantíssimo que haja interacção do divulgador com os espectadores, e que os espectadores se sintam à vontade para interromper o divulgador e perguntar aquilo que for saciar a sua curiosidade tantas vezes quantas as necessárias. É preciso criar uma ligação com cada um dos espectadores, ou, pelo menos, com o conjunto de todos os espectadores que constitui aquilo a que chamamos auditório. De outra forma não é possível fazer passar a mensagem. As três vertentes da arte da retórica têm de ser consideradas com muita atenção.
detesto todos aqueles que me obrigam a trabalhar. Trabalhar é completamente artificial e anti-natural.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

está decidido.

quero, para além de variadíssimas outras coisas, passar a vida a ler livros.