domingo, 8 de fevereiro de 2009

contar a história



and the winner is...









Milk (Gus van Sant, 2009)

E assim se prova que o cinema nunca irá morrer. Não é possível que o cinema, a literatura, ou qualquer outra arte possam extinguir-se. Há sempre algo mais a relembrar, há sempre um universo para descobrir. O nosso pequeno e limitado mundo está cheio de pessoas especiais que arriscaram a sua própria vida para dar vida a outros. Há sempre mais uma história para contar, há sempre mais uma história à espera de ser contada. Há sempre algo que desconhecemos, heróis que ficam esquecidos, imagens que se diluem na voracidade capitalista do progresso. Enquanto houver uma só pessoa à face da terra que não saiba quem é Freud, enquanto houver uma só pessoa que não saiba quem é Darwin, enquanto não nos lembrarmos do processo infernal que Galileu passou, enquanto não nos lembrarmos das fogueiras onde Joana D'Arc e Giordano Bruno arderam, enquanto não nos ensinarem os exemplos de Pasteur e de Da Vinci, de Fleming e de Rodin, de Fernando Pessoa e António Vieira, de Bertolucci e do Professor Agostinho da Silva; enquanto estes nomes forem manchados em conferências abjectas dentro e fora da escola, enquanto as ideias destes homens forem deturpadas e simplificadas, enquanto continuarmos a deixar que a memória daqueles que realmente fizeram e fazem mover o mundo seja apagada impunemente teremos sempre e repetidamente o maior pretexto que é possível conceber para lutar contra a ignorância. Só a ignorância é suficiente para causar todos os males que existem no mundo. Só a difusão da cultura pode conseguir extrair pela raiz a ignorância do mundo. E aqui está, simultaneamente, aquilo que faz uma obra de arte ser artística e poeticamente superior: a presença e a grandeza da mensagem que representa. O objectivo da arte é elevar a humanidade. O objectivo da arte não é, nem poderá nunca ser, a perpetuação de uma qualquer elite intelectual. É preciso procurar a poesia de uma BD como American Splendor. É preciso encontrar a força de um V for Vendetta no nosso mundo. É preciso perceber porque são tão actuais os estudos do professor Kinsey. É preciso continuar a reflectir na importância da trajectória de uma vida humana como a de Benjamin Button. É preciso continuar a reflectir sobre o papel da ciência em Frankenstein. É preciso manter a chama da memória acesa.

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