sábado, 26 de julho de 2008

No Country for Old Man é um péssimo filme, e só deverá ser superado pelo livro que lhe serviu de suporte. Ou isso ou alguém conseguiu estragar um livro mediano. Na verdade, esse filme é um grande monumento à cultura light que hoje temos: espreme-se a laranja seca para ver se sai sumo, mas não corre nem uma pinga. Até os romances do Saramago são melhores que esse filme. Pelo menos têm, ainda que não seja transcendente, algum conteúdo.

5 comentários:

ricardo disse...

Saudações Daniel.
Antes de tudo agradeço-te o comentário que deixaste no meu blog: mto obrigado; mas, e se me permites o reparo, também no evangelho de S. Mateus,Capítulo 15, há referência a citação que me apresentas [Não é aquilo que entra pela boca que mancha o homem, mas aquilo que sai dele].
Depois gostava de te dar os parabéns, pois tens aqui um blog interessante, com posts "sumarentos". Quanto ao filme devo-te dizer que gostei bastante do filme, apesar de não ser "perfeito", em especial da prestação do Javier Bardem.
Bom fim-de-semana, bons filmes, bons livros.
rjl

ricardo disse...

ps-aconselho-te a ver o There Will be Blood.

Daniel disse...

Saudações!

De facto, é razoável supor que os comuns evangelhos que encontramos nessa versão da Bíblia sejam versões simplificadas (por vezes adulteradas?) de evangelhos que outrora terão existido, esses sim realmente interessantes. Obrigado pela tua atenta visita, é o maior agradecimento que me podes fazer. Agora, convém não confundir fotografia (cinematográfica) e prestação de actor com profundidade na mensagem que a narrativa transmite. São duas coisas muito diferentes. Nem sequer a intensidade dramática de uma personagem pode salvar um filme desprovido de uma mensagem interessante. Claro que a crítica, seja ela qual for, é completamente subjectiva... mas, também, a transcendência reconhece-se somente quando existe, não é? O There Will Be Blood ainda não vi, apesar de muito ter ouvido falar. Fica anotado! De resto, acho que devias explorar mais a tua voz pessoal em vez da voz dos outros. Fica aqui a sugestão. Boas férias!

Bruno disse...

Ainda acho que os romances do Saramago podem ser melhores que o romance mediano a partir do qual este filme foi adaptado. Eu não sei quantos livros leste do Saramago (deves ter lido pelo menos o Memorial do Convento, que eu não li), mas eu li O Evangelho Segundo Jesus Cristo e achei bastante interessante. É verdade que a pontuação dele é desagradável, só superada pelo Prémio Camões 2008, mas no entanto o seu conteúdo é merecedor de reflexão, quanto a mim.

Daniel disse...

Pelo contrário, parece-me que a pontuação é das coisas mais interessantes que o Saramago tem. Diria que ele é mesmo um mago da pontuação, e não me lembro de alguém que escreva em português pontuando textos tão bem como ele. Talvez só o Agostinho da Silva. Saramago escreve como quem fala, e é tudo. É isso que as pessoas têm que perceber. A narrativa dele é tão fluida que até se desenrola à frente dos nossos olhos. Na verdade, simplificar a pontuação é muito mais simples do que usar essa complicação toda de sinais gráficos e porcarias. A vírgula e o ponto chegam muito bem. As pessoas têm é de saber ler os textos que ele escreve, ter uma noção de ritmo - que é uma coisa muito musical, se formos a ver bem até poderíamos dizer que as pessoas deviam era ir estudar música, ou poesia, que vai dar ao mesmo, para perceber a escrita do Saramago. Até aqui tudo bem. Mas alto lá, o homem também não é deus na terra. Pode ter essa admirável capacidade de se situar num contexto histórico completamente diferente do seu, pode ter essa noção de ritmo que imprime de forma muito precisa nos seus textos; mas e o resto? Onde é que está o conteúdo? Assimetrias sociais e defesa dos pobres? Isso não é de quem escreve para o futuro, é de quem escreve à maneira comunista para fazer frente a um regime totalitário. Isso pode encher a gaveta de prémios Nobel, ser compreendido por toda a gente, fazê-lo famoso; mas isso não é a poesia do futuro, é a poesia do passado. Ela também foi importante, também teve a sua função. Mas no passado. Agora os tempos são outros, temos batalhas muito mais importantes para travar. O problema do Saramago, e já aqui o disse, é que o melhor dele é apenas uma pequena porção do melhor que o Italo Calvino, ou o Umberto Eco, ou mesmo o Mia Couto, têm. Mais nada. Então porque é que se faz tanto alarido à volta do Saramago e à volta dos outros não? Ora, Saramago toda a gente compreende... agora, os verdadeiros poetas foram sempre incompreendidos no seu tempo... essa é que é a grande diferença.