Os seus textos metem todos a primeira pessoa. É a opção estética do libertino?
[Luiz Pacheco:] Se escrevo um livro e não ponho ali «eu» e não dou referências pessoais, o texto perde a qualidade de exemplar. É a tal coisa, o libertino faz da sua vida um espectáculo porque pensa que é exemplar, que contém uma lição para as outras pessoas: quer dizer, o libertino procura libertar.
O Crocodilo Que Voa. Entrevistas a Luiz Pacheco organizadas por João Pedro George
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
o crocodilo voa
Tiro o chapéu a este João Pedro George, que meteu mãos a esta tarefa interessante e importantíssima, ainda para mais nos tempos pardacentos que hoje correm. É conhecendo os verdadeiros Poetas que se fizeram Poema que os portugueses podem inspirar-se a criar mais e melhor, a deitar cá para fora tudo o que de bom têm. Vamos lá a queimar essas estatísticas, as ortografias e as cerimónias.
Mas o que de bom há neste João Pedro George é a clareza com que escreve. E com um jeito científico e objectivo que falta a tanta gente douta, indica as suas fontes! Ora, e já Agostinho nos dizia, o que é preciso hoje no mundo é arranjar uma data de geómetras da linguagem para desfazer essas brumas subjectivistas das estátuas universitárias. O que é preciso é analisar ponto por ponto, esquartejar mesmo, com uma precisão cirúrgica, o discurso dos outros e avaliar o que há de verdadeiro e o que há de falso, ultrapassado ou desusado. E não é que o gajo vai mesmo ter com os psiquiatras para explicar o caso?! Não há limitações ou barreiras no caminho que se constrói até ao entendimento completo da psicologia humana. Longe dessas bibliotecas horrorosas e bafientas, ou das cátedras inexpugnáveis, procura-se a verdade. E mais que isto, com a devida vénia, citamos aqui e já um pequeno trecho:
[Sobre o Luiz Pacheco - e tenha-se em atenção que Luiz se escreve com z, captando a rudeza e aspereza que lhe eram tão características, mas também a clareza e franqueza que sempre com as primeiras andavam de mãos dadas]
Não porque quisesse [o Pacheco] ocupar o palco a qualquer preço, mas porque lhe estava no sangue e porque conquistara, há muito, esse direito, essa liberdade de dizer o que lhe dava na gana. Era rude? Era torcido? Era cruel? Talvez. Era inconveniente? Rompia em excessos? Descambava nas indelicadezas? Dava respostas chulas? Melhor! Quando à nossa volta o clima mental é lúgubre e estéril; quando o meio literário em que vegetamos não promove o espírito crítico, antes o comércio escuro e as mútuas mesuras (mas isto é como malhar em ferro frio, quem é que quer saber disso?), abençoado Pacheco! Num ambiente destes, repito, as judiarias e o temperamento belicoso do Luiz tinham um efeito desinfectante. E atirar à cara dos obsoletos literatos locais uns quantos raciocínios sumários, aplicar-lhes algumas dentadas de cobra cascavel, fazendo-lhes sangrar o orgulho, era um dever, mais, era um sinal de civilização.
O Crocodilo Que Voa. Entrevistas a Luiz Pacheco
E vejam lá que, por cima disto tudo, o gajo inda é humilde! Não sabia que ainda havia gente desta em Portugal! E está tudo dito!
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
História e Ciência
Como se fazem encantamentos rituais para desassombrar casas, a História devia servir para isso mesmo, para, estudando-a, nos desassombrarmos do passado naquilo que ele já teve de superado. História para que o passado se estenda a uma luz do presente e para que possamos construir um futuro que, lógico com o que esteve para trás dele, marque, no entanto, um avanço. Direi mesmo, marque um progresso. Mas em que sentido um progresso? No único sentido em que a palavra pode ser tomada, quando se trata da aventura humana: no sentido de que se pretende para o homem cada vez maior liberdade para poder ser o que é na essência; por outras palavras, cada vez mais direito de cumprir o que é seu dever, seu único dever; repetindo o que disse já, tanta vez, e direi sempre: o dever de ser santo.
O que nos interessaria sobretudo na História seria dar conteúdo actual, ou melhor, conteúdo eterno ao que acaba por aparecer como um empoeirado, como um arqueológico episódio do passado.
Mas se, excepcionalmente, nos não desprendemos da História, é através dela que a eternidade se nos revela...
O primeiro passo a dar é, porém, o da História. Ela é a nossa vida (...); o entendimento racional da História, nas suas origens, em todo o seu desenrolar e nos seus fins últimos, mostrará como toda ela vem, e em todas as suas características, de alguma vez ter suposto o homem que eram melhores os seus próprios planos do que os planos de Deus, de que era melhor mandar do que obedecer, de que, finalmente, valiam mais as suas pobres geometrias a três, quatro, cinco ou n dimensões do que a fundamental geometria divina, a geometria a dimensão alguma. (...) A História vai ser simples quando for entendida; o homem vai ser humilde quando entender a História; quando ela, para ser entendida, se tiver feito geometria.
De qualquer modo, se vai ser um grande caminho para a paz o de, pelo paciente esforço dos menos inteligentes ou pela fulgurante chegada dos mais inteligentes, se entender a História do mundo e por ela a nossa posição no dito mundo, e se vai a Paz consistir fundamentalmente em, pela clarificação geométrica da vida, voltarem ao Pai todos os seus filhos pródigos, a grande força de avanço, o grande motor deste passar dos povos não está verdadeiramente nos que se deslocam, mas nos que de alguma forma vão participando do movimento, para que não falte companhia aos que marcham, mas na realidade já há muito chegaram.
As Aproximações, Agostinho da Silva
Sem o saber, ou mesmo adivinhando-o, Agostinho da Silva lançou as bases do novo sistema pedagógico que virá para substituir todo o velho sistema pedagógico que vigora hoje no ensino da Ciência. Esse sistema será tão incomensuravelmente superior ao anterior que conseguirá fazer uma grande proeza: não só irá reformar a velha pedagogia para instruir uma nova no campo das ciências, mas ainda mais: irá dar, ao mesmo tempo, uma nova forma de olhar para a História numa perspectiva diacrónica e contextualizada das pessoas que a fizeram e da evolução das ideias dos homens; e tanto a História como a Ciência sairão fecundadas de tamanha arte.
O que nos interessaria sobretudo na História seria dar conteúdo actual, ou melhor, conteúdo eterno ao que acaba por aparecer como um empoeirado, como um arqueológico episódio do passado.
Mas se, excepcionalmente, nos não desprendemos da História, é através dela que a eternidade se nos revela...
O primeiro passo a dar é, porém, o da História. Ela é a nossa vida (...); o entendimento racional da História, nas suas origens, em todo o seu desenrolar e nos seus fins últimos, mostrará como toda ela vem, e em todas as suas características, de alguma vez ter suposto o homem que eram melhores os seus próprios planos do que os planos de Deus, de que era melhor mandar do que obedecer, de que, finalmente, valiam mais as suas pobres geometrias a três, quatro, cinco ou n dimensões do que a fundamental geometria divina, a geometria a dimensão alguma. (...) A História vai ser simples quando for entendida; o homem vai ser humilde quando entender a História; quando ela, para ser entendida, se tiver feito geometria.
De qualquer modo, se vai ser um grande caminho para a paz o de, pelo paciente esforço dos menos inteligentes ou pela fulgurante chegada dos mais inteligentes, se entender a História do mundo e por ela a nossa posição no dito mundo, e se vai a Paz consistir fundamentalmente em, pela clarificação geométrica da vida, voltarem ao Pai todos os seus filhos pródigos, a grande força de avanço, o grande motor deste passar dos povos não está verdadeiramente nos que se deslocam, mas nos que de alguma forma vão participando do movimento, para que não falte companhia aos que marcham, mas na realidade já há muito chegaram.
As Aproximações, Agostinho da Silva
Sem o saber, ou mesmo adivinhando-o, Agostinho da Silva lançou as bases do novo sistema pedagógico que virá para substituir todo o velho sistema pedagógico que vigora hoje no ensino da Ciência. Esse sistema será tão incomensuravelmente superior ao anterior que conseguirá fazer uma grande proeza: não só irá reformar a velha pedagogia para instruir uma nova no campo das ciências, mas ainda mais: irá dar, ao mesmo tempo, uma nova forma de olhar para a História numa perspectiva diacrónica e contextualizada das pessoas que a fizeram e da evolução das ideias dos homens; e tanto a História como a Ciência sairão fecundadas de tamanha arte.
A Conferência Falhada
Enquanto forem nosso presente os dias em que se dão supostas conferências em universidades de renome e de tantos doutos professores, enquanto continuar a inacessibilidade linguística a bloquear e mesmo a atrasar a subida das outras pessoas para fora da sarjeta em que vivem, enquanto o senhor Paulo Borges cuspir em cima do verdadeiro espírito de Agostinho refugiando-se nas suas filosofias caducas, nas ortografias, nas aritméticas, e nas cerimónias, este mundo, nem com toda a boa vontade que se arranje, irá a algum sítio.
Quis o senhor Paulo Borges dar uma conferência sobre "Ilusão e Criação em Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa", e nem sequer a conjução copulativa lhe valeu de alguma coisa para casar os dois poetas. Fica atestada e comprovada a sua capacidade para construir em gabinetes prestigiosos e bem atapetados magníficos tratados filosóficos, autênticas fortalezas inexpugnáveis com que brinda aqueles em que vibra mais alto no espírito o desejo de levantar Portugal. Fica atestada e comprovada a sua capacidade para ler em público, como se de um autómato se tratasse. É o sinal dos tempos. E pior nem sequer é bem isso; o pior é haver gente que ainda se dispõe a ouvir estalidos mecânicos e pré-programados que saem da sua boca. Haja bom-senso! Haja o espírito que não há! Se o senhor Paulo Borges tivesse aprendido alguma coisa com o Agostinho da Silva - lembre-se que o senhor Paulo Borges é, entre os seus trezentos e sessenta e quatro mil quatrocentos e dezanove cargos, Presidente duma Associação Cultural que dá por nome Agostinho da Silva - se o senhor Paulo Borges tivesse aprendido apenas uma pontinha daquilo que emanava do nosso Agostinho saberia certamente o que é a espontaneidade, e o que é conversar com os outros, e não vomitar algaraviadas insensíveis e desusadas. Hoje é um dia de luto, é um dia em que a educação volta a cair no abismo em que está mergulhada, em que a morte triunfa sobre a vida, em que Portugal falha, redondamente, e mais uma vez.
Será que falta a Portugal uma ditadura como no tempo de Agostinho para que as pessoas que vivem realmente a cultura sejam obrigadas a procurar o todo universal, a totalidade portuguesa, a totalidade lusa, fora de gabinetes e de cerimónias? Ou será que cada um só encontra aquilo que procura?
Vejo com muito cepticismo, sempre com desconfiança, e cada vez mais com desânimo, aquilo em que Portugal se está a transformar - aquilo em que estão a transformar Portugal. Que fique bem claro: isto NÃO É de maneira nenhuma o verdadeiro espírito agostiniano. Andam a atirar-nos areia para os olhos.
A dita conferência sobre ilusão e criação revelou-se quase completamente estéril, mecânica e enferrujada. Sobrou apenas a des-ilusão, que é como quem diz: a abolição da ilusão que nos estavam instalando na mente.
Quis o senhor Paulo Borges dar uma conferência sobre "Ilusão e Criação em Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa", e nem sequer a conjução copulativa lhe valeu de alguma coisa para casar os dois poetas. Fica atestada e comprovada a sua capacidade para construir em gabinetes prestigiosos e bem atapetados magníficos tratados filosóficos, autênticas fortalezas inexpugnáveis com que brinda aqueles em que vibra mais alto no espírito o desejo de levantar Portugal. Fica atestada e comprovada a sua capacidade para ler em público, como se de um autómato se tratasse. É o sinal dos tempos. E pior nem sequer é bem isso; o pior é haver gente que ainda se dispõe a ouvir estalidos mecânicos e pré-programados que saem da sua boca. Haja bom-senso! Haja o espírito que não há! Se o senhor Paulo Borges tivesse aprendido alguma coisa com o Agostinho da Silva - lembre-se que o senhor Paulo Borges é, entre os seus trezentos e sessenta e quatro mil quatrocentos e dezanove cargos, Presidente duma Associação Cultural que dá por nome Agostinho da Silva - se o senhor Paulo Borges tivesse aprendido apenas uma pontinha daquilo que emanava do nosso Agostinho saberia certamente o que é a espontaneidade, e o que é conversar com os outros, e não vomitar algaraviadas insensíveis e desusadas. Hoje é um dia de luto, é um dia em que a educação volta a cair no abismo em que está mergulhada, em que a morte triunfa sobre a vida, em que Portugal falha, redondamente, e mais uma vez.
Será que falta a Portugal uma ditadura como no tempo de Agostinho para que as pessoas que vivem realmente a cultura sejam obrigadas a procurar o todo universal, a totalidade portuguesa, a totalidade lusa, fora de gabinetes e de cerimónias? Ou será que cada um só encontra aquilo que procura?
Vejo com muito cepticismo, sempre com desconfiança, e cada vez mais com desânimo, aquilo em que Portugal se está a transformar - aquilo em que estão a transformar Portugal. Que fique bem claro: isto NÃO É de maneira nenhuma o verdadeiro espírito agostiniano. Andam a atirar-nos areia para os olhos.
A dita conferência sobre ilusão e criação revelou-se quase completamente estéril, mecânica e enferrujada. Sobrou apenas a des-ilusão, que é como quem diz: a abolição da ilusão que nos estavam instalando na mente.
enquanto fui aluno de bancos de escola não tive muita gente que me instruísse, embora tenha conhecido tanta que me quisesse educar. Tirando alguns Homens, mais as excepções que a regra, tudo aquilo que aprendi foi sozinho. Na realidade, a aprendizagem é algo que ninguém pode ensinar a outro alguém. Aprende-se apenas no momento em que se compreende algo que não se compreendia antes, em que se vê aquilo que antes passava despercebido. E aprende-se somente quando se está predisposto e se dá a atenção necessária para se aprender realmente alguma coisa. Recuso-me terminantemente a aprender algo que se julga ser compreensível a uma qualquer taxa que transformaram em constante universal. Não adianta, essas constantes não existem, e mais se parecem com aquelas variáveis aleatórias, que variam tanto e de tanta maneira tão vária que não é possível prever qual o seu destino final, mesmo que conheçamos o seu ponto de partida. A vida é uma variável aleatória que simetriza todas as probabilidades.
divulguem-se os Poetas
pudera eu saber mais, ou ter mais tempo para saber mais, decerto faria as devidas homenagens aos Poetas portugueses, e sobretudo aos Poemas. Mas como decerto também não estarei só no mundo, decerto também é que existe muita e muito boa gente que conseguirá fazer isso, e quiçá até melhor que eu alguma vez o conseguiria. Então, minha gente, irmãos de cultura lusa, vamos lá. Cada um fala do que sabe, e faz o que pode. E é isso que faz girar o mundo.
Fernanda de Castro
António Quadros
http://antonioquadros.blogspot.com/
o mais importante no mundo é não pensar.
o mais importante no mundo é não pensar, é despojar-se de todos os pensamentos que nos obrigam a pensar a toda a hora, é parar simplesmente.
1 - o homem não vive de pensamentos, vive de ideias.
2 - as ideias surgem na mente do homem.
3 - tanto quanto sabemos, as ideias apenas surgem na mente do homem; desconhecemos por completo qual a sua verdadeira origem
Entenda-se então que:
1 - Lá por passarem ideias pela nossa cabeça não nos sintamos obrigados a pensá-las.
2 - E olhem que se as ideias quisessem ser pensadas não eram ideias, eram pensamentos.
3 - A única função de uma ideia é cumprir-se, é fazer-se. Se não se cumpre, morre ou voa para outro sítio.
Faça-se ainda a distinção clara entre ideia e pensamento, para que não se entre em confusão:
1 - Diz-se IDEIA todo e qualquer assomo de creatividade que surge instantaneamente na cabeça de cada um.
2 - Diz-se PENSAMENTO todo e qualquer assomo de racionalização, intelectualização ou análise de sensação que se sentiu (incluindo a sensação de uma IDEIA), e que resulta de uma deformação dessa IDEIA para que melhor possa ser compreendida pelo nosso limitado entendimento.
1 - o homem não vive de pensamentos, vive de ideias.
2 - as ideias surgem na mente do homem.
3 - tanto quanto sabemos, as ideias apenas surgem na mente do homem; desconhecemos por completo qual a sua verdadeira origem
Entenda-se então que:
1 - Lá por passarem ideias pela nossa cabeça não nos sintamos obrigados a pensá-las.
2 - E olhem que se as ideias quisessem ser pensadas não eram ideias, eram pensamentos.
3 - A única função de uma ideia é cumprir-se, é fazer-se. Se não se cumpre, morre ou voa para outro sítio.
Faça-se ainda a distinção clara entre ideia e pensamento, para que não se entre em confusão:
1 - Diz-se IDEIA todo e qualquer assomo de creatividade que surge instantaneamente na cabeça de cada um.
2 - Diz-se PENSAMENTO todo e qualquer assomo de racionalização, intelectualização ou análise de sensação que se sentiu (incluindo a sensação de uma IDEIA), e que resulta de uma deformação dessa IDEIA para que melhor possa ser compreendida pelo nosso limitado entendimento.
os heterónimos de Pessoa são a expressão mais baixa da creatividade e da originalidade do momento. Ninguém precisa de heterónimos para criar, a criação é algo espontâneo e desregrado, é algo completamente alheio à regra e a toda a lógica que não seja mente. A espontaneidade é escrever aquilo que se sente no momento, é não pensar que letras se escrevem quando se tecla num teclado, quando se tecla num computador. Dividir as infinitas miríades que compõem cada ser em cada momento, dividi-las e esquartejá-las, cirurgicamente, analisá-las passo a passo não é nada, é apenas algo com que se entretêm as pessoas que estão sozinhas em casa e que não têm nada para fazer. A verdadeira criação surge como quer e como lhe apetece, nem vem com nomes de heterónimos nem nada, surge e vem e depois vai, e não temos que dar-lhe nomes ou formas ou cores, ou seja o que for, botamos tudo de uma só vez cá para fora e logo ela cresce e vive e se vivifica por si mesma, porque é inteligente, porque é mental, porque é um fogo que nunca se consome e que sempre arde com maior vigor, e cada vez mais. O ser no momento sendo, sem precisar de nomes, apenas usando desta palavra ou daquela se se quer fazer compreensível para os outros. Tudo o que se escreveu realmente com espontaneidade é surrealista e é um hino à liberdade, é uma prova de que existem coisas que não são controladas e que não são para controlar, são acontroláveis, amorais e fundamentalmente, no seu fundamento, nos seus alicerces invisíveis e inexistentes, infinitas, e infinitamente seguras. O nada que oscila entre o tudo e o ser finito, o todo que se cumpre sendo nada para poder ser tudo.
queriamaspessoaspensarqueriamaspessoaspensarmaismasnãodeixamqueriamaspessoassentirqueriamaspessoassentirmaismasnãodeixamqueriamaspessoasamarqueriamaspessoasamarmasnãodeixamnãodeixamnãodeixamnãodeixamqueriameradeixarquetudosepartissequetudofossepóemágoamasissoeunãodeixoeunãodeixoeunãodeixonãodeixonãodeixoenãodeixoenãodeixoenãodeixo.quetudoorestosepartaquetudoorestosepartasefalhequetudoorestosepartasefalhesefindaquetudoorestosepartasefalhesefindaeunãodeixonemvoudeixarnemvoudeixaragoranemvoudeixaragoranemnuncanãovoudeixarquesepercaoouroqueseadivinhaquenãosepercaouroquenãosepercaoouroqueadivinhaqueadivinhaquemeadivinhaquenãosepercaouroquenosadivinhaquenostinhaquenosadvinhaquenostemequenostinhaqueénossoeénóseétudo.
Fedem
Fedem as Academias, as Universidades, as Escolas, as Bibliotecas,
Fedem as Câmaras Municipais e as Assembleias e os Conselhos,
não há nada que neste mundo não feda.
Por outro lado, o que é preciso é um bom Fedro,
que caminhe certeiro como Platão
pelos vales de Sócrates
e pelos cumes de Pitágoras.
Olhem que entre eu fedo e eu, Fedro, vai uma letra só.
E também entre eu fodo e eu fedo.
Propõe-se então:
1) Fodam-se os fedantes
2) Fedam-se fora os Fedros
(e mais importante que tudo isto:)
3) Fedrem-se todos os que fodem.
A conclusão natural e de suprema ilogicidade lógica - dir-se-ia patafisicamente absurda, abusadora de todas as consciências, domesticadora de todas as censuras e de todos os suspensórios, libertadora das amarras inconscientes que vivem na ilusão:
Vamos levar o Amor ao mundo.
Vamos levar o Amor ao fundo.
Vamos levar o Amor ao Fedro.
Vamos levar o Amor ao fedrante.
Vamos fedrar de Amor até ao fundo do mundo.
Vamos.
Fedem as Câmaras Municipais e as Assembleias e os Conselhos,
não há nada que neste mundo não feda.
Por outro lado, o que é preciso é um bom Fedro,
que caminhe certeiro como Platão
pelos vales de Sócrates
e pelos cumes de Pitágoras.
Olhem que entre eu fedo e eu, Fedro, vai uma letra só.
E também entre eu fodo e eu fedo.
Propõe-se então:
1) Fodam-se os fedantes
2) Fedam-se fora os Fedros
(e mais importante que tudo isto:)
3) Fedrem-se todos os que fodem.
A conclusão natural e de suprema ilogicidade lógica - dir-se-ia patafisicamente absurda, abusadora de todas as consciências, domesticadora de todas as censuras e de todos os suspensórios, libertadora das amarras inconscientes que vivem na ilusão:
Vamos levar o Amor ao mundo.
Vamos levar o Amor ao fundo.
Vamos levar o Amor ao Fedro.
Vamos levar o Amor ao fedrante.
Vamos fedrar de Amor até ao fundo do mundo.
Vamos.
Surrealismo
o único surrealismo verdadeiro é aquele que nasce sem saber como nem porquê, que passa inconscientemente pelo nosso consciente, privado de filtrados censores, e deixando-se explodir atingindo toda a gente que não pensa.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
wonderful dandy
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Conselho a todos os espíritos-livres
Desconfiem sempre daquele que vos diz que poderiam ter tempo para tudo na vida se quisessem. Quem diz isso não conhece o que é a vida, ou não a ama o suficiente. A vida é para ser amada de forma integral, total e livremente, e é assim que deve ser - é a única coisa que nós temos, se é que podemos ter alguma coisa. Não é possível amar intensamente a vida sem se perder nela, na imensidão do desconhecido que a povoa. Perder-se assim é não conseguir controlar a mente com freio certo, é levantar uma qualquer âncora que não existe e deixar-se sonhar - ou ser sonhado - à vontade. Não existe pessoa, por maior inteligência ou lucidez de espírito que tenha, que consiga dar importância às pequenas rotinas e imposições que teimam travar a nossa evolução pessoal. E como não lhes dá importância, e vive dentro de si e não fora, essa pessoa é alheia às circunstâncias do mundo, e tanto mais se alheia do que está fora de si quanto mais ama toda a vida no sonho do futuro que se quer presente. Quem quer viver os mistérios mais elevados da vida tem que se alhear do mundo, tem que se afastar do burburinho constante da vida que todos levam, ou da espécie de vida que vai levando todos eles. E quem quer viver realmente essa vida, a única que vale realmente a pena, tem que abdicar de tudo - até mesmo da pele que veste todos os dias. Infelizes daqueles que buscam a felicidade na vida, com que tormentos ela os tenta e com que violência o artesão lapida a sua jóia tosca - infelizes desses, e mais infelizes ainda os que nascerem neste tempo: nunca houve um tempo em que o ter se apoderasse mais do ser, em que o capitalismo asfixiasse mais a creatividade, em que a competição abafasse mais o potencial de cada um...
sábado, 16 de fevereiro de 2008
crónica des-rimada
neste mundo não há quem tenha dúvidas,
todos sabem aquilo que querem, todos têm já o seu grande lugar no mundo
não há gente que não se sinta em si de vez em quando,
não há gente que erre, ou que falhe em alguma coisa que faz
toda a gente é o Ideal que traz em si
e a sua vida é um perfeito mundo acabado, não existe mais nada
para descobrir, não há cabo que não tenha sido já dobrado e vincado
e tudo decorre naturalmente,
obviamente,
de qualquer modo que seja possível ter imaginado.
todos sabem já o que querem da vida,
sabem o que a vida é e o que fazem nela
têm plena consciência dos seus actos, e mais ainda das suas consequências
e nunca agem sem pensar, movidos por desejo frio ou quente,
não existe nada que os possa deitar abaixo,
(o pedestal em que estão pertence-lhes por direito)
não existe nada que possa abalar a sua plena convicção
de que o mundo está todo revelado e aberto
na palma da sua mão.
pena é que nunca tenha conhecido ninguém assim,
fio-me mais nos significados e menos nas aparências,
e aquilo que dizem de si me parece a mim
estar carregado de pesadas flatulências
todos sabem aquilo que querem, todos têm já o seu grande lugar no mundo
não há gente que não se sinta em si de vez em quando,
não há gente que erre, ou que falhe em alguma coisa que faz
toda a gente é o Ideal que traz em si
e a sua vida é um perfeito mundo acabado, não existe mais nada
para descobrir, não há cabo que não tenha sido já dobrado e vincado
e tudo decorre naturalmente,
obviamente,
de qualquer modo que seja possível ter imaginado.
todos sabem já o que querem da vida,
sabem o que a vida é e o que fazem nela
têm plena consciência dos seus actos, e mais ainda das suas consequências
e nunca agem sem pensar, movidos por desejo frio ou quente,
não existe nada que os possa deitar abaixo,
(o pedestal em que estão pertence-lhes por direito)
não existe nada que possa abalar a sua plena convicção
de que o mundo está todo revelado e aberto
na palma da sua mão.
pena é que nunca tenha conhecido ninguém assim,
fio-me mais nos significados e menos nas aparências,
e aquilo que dizem de si me parece a mim
estar carregado de pesadas flatulências
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
domingo, 10 de fevereiro de 2008
ojetnelAforismos
se o Porto é uma nação, o Alentejo é, pelo menos, duas.
a zona menos artificial e mais enraizadamente telúrica de Portugal é o Alentejo.
a zona mais artificial do Alentejo é Alqueva. Na verdade não podemos chamar a Alqueva Alentejo - desde que Alqueva é o que hoje é, deixou de ser Alentejo.
a zona menos artificial e mais enraizadamente telúrica de Portugal é o Alentejo.
a zona mais artificial do Alentejo é Alqueva. Na verdade não podemos chamar a Alqueva Alentejo - desde que Alqueva é o que hoje é, deixou de ser Alentejo.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
o maior orador que já conheci na vida é o nosso Agostinho da Silva. Não foi com soberba ou de forma exagerada que o Fernando Dacosta comparou o brilhantismo da sua oratória ao brilhantismo da de um António Vieira. Agostinho da Silva tem esse raro dom de ser claro, de conversar abertamente com quem quer que seja e fazer-se entender por estas ou aquelas palavras, consoante aquilo que melhor servir cada um. Longe de se prender a filosofias de coisas que não existem, ou a matemáticas de coisas que não são - e eu duvido que alguma vez o sejam - objectivas, longe de palavreado de professores e doutores nisto ou naquilo, Agostinho sabia ser sempre objectivo e não se deixar perder no meio de todos os diplomas que andou colhendo. Grande é o vazio que uma alma tão imensa deixa quando o seu corpo nos abandona, e essa é uma verdade que temos que admitir, na realidade, quando olhamos para aqueles que continuaram na terra a sua grande Obra. Então de que é que nos valem lamentos moles e saudosos? Eles não nos valem de nada, a não ser que se transformem em farol que aponte o caminho a seguir: o caminho científico, o caminho da clareza e da objectividade, o despojamento desses floreados académicos que não servem para nada; enfim, o esforçarmo-nos por limpar o discurso e a mente de toda a porcaria para que a cultura possa chegar na sua forma mais pura a toda a gente. Se esse não é o objectivo que se concretiza todos os dias em cada amante da cultura, então esta tarefa está minada à partida.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Tudo aquilo que escrevo é melhor do que tudo aquilo que alguém alguma vez já escreveu. Não estará o meu mérito mais no facto de estar eu vivo e os outros mortos - e note-se que muitos há que nunca chegaram a morrer -, mas sobretudo no ser eu o que sou no espaço e no tempo que me pertence, ou pelo menos que me acolheu pelo período que assim delimitei. Todos os espaços e todos os tempos que são anteriores a este em que vivo são distantes brumas e cerradas névoas de coisas que já não voltam, e por isso pouco ou nada me interessam. Aquilo que procuro não está no passado, e nem sequer no futuro: está no presente; neste presente de cada dia em que vivo e em que descubro hoje tudo o que há a mais daquilo que ontem nunca houve. Poderá o tempo não existir, e assim estarei amando alguma coisa que não existe; poderá o espaço não existir, e assim estarei de novo amando alguma coisa que não existe; mas de tudo o que existe, mesmo daquilo que já se perdeu da existência, amo sem pensar; e portanto tudo o mais não interessa. A fraqueza de um Camões ou um Vieira, de um Agostinho ou de um Pessoa, a verdadeira fraqueza que os percorre a todos, é o não viverem no meu tempo e não poderem ver todas as coisas que nele há, tudo aquilo que há a mais que não havia, e que nos permite sermos o todo de uma forma muito mais integral. Daqui a muitos anos, quando este meu corpo se cansar de mim, ou esta minha alma encontrar morada que melhor a albergue, hão-de nascer muitas mais pessoas, em tempos e espaços muito longínquos deste meu eu de agora. O que haverá de forte nelas será o que passou a haver de fraco em mim, e só nos é possível dizer para além disto que não podemos nem sequer imaginar o quanto de bom hoje será melhor amanhã. Vivamos o que temos, exista ou não exista; não há nada de melhor que podemos atingir.
dou por vezes de caras com a perfeição. A perfeição atinge-se quando o que está dentro de nós é igual ao que está fora de nós. A palavra escrita só pode ser perfeita num sentido: se com o mínimo de recursos se conseguir ser o máximo, que é o infinito. A importância está, portanto, naquilo que não se diz, ou naquilo que se cala, e não naquilo que se mostra. Que possa isso ser admirado por todos, sê-lo-á - por todos aqueles que procurarem o máximo no mínimo, e não o mínimo no máximo. Entre uma e outra coisa vivem as pessoas, às vezes bem e às vezes mal. O importante, esse, é aquele que, bem ou mal, sempre fica. O resto consome-se com o tempo.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
Subscrever:
Mensagens (Atom)