sábado, 16 de fevereiro de 2008

crónica des-rimada

neste mundo não há quem tenha dúvidas,
todos sabem aquilo que querem, todos têm já o seu grande lugar no mundo
não há gente que não se sinta em si de vez em quando,
não há gente que erre, ou que falhe em alguma coisa que faz
toda a gente é o Ideal que traz em si
e a sua vida é um perfeito mundo acabado, não existe mais nada
para descobrir, não há cabo que não tenha sido já dobrado e vincado
e tudo decorre naturalmente,
obviamente,
de qualquer modo que seja possível ter imaginado.

todos sabem já o que querem da vida,
sabem o que a vida é e o que fazem nela
têm plena consciência dos seus actos, e mais ainda das suas consequências
e nunca agem sem pensar, movidos por desejo frio ou quente,
não existe nada que os possa deitar abaixo,
(o pedestal em que estão pertence-lhes por direito)
não existe nada que possa abalar a sua plena convicção
de que o mundo está todo revelado e aberto
na palma da sua mão.

pena é que nunca tenha conhecido ninguém assim,
fio-me mais nos significados e menos nas aparências,
e aquilo que dizem de si me parece a mim
estar carregado de pesadas flatulências

2 comentários:

Cataclismo Cerebral disse...

Eu não conheço ninguém assim. Aliás, posso dizer, sem problemas, que tenho as minhas dúvidas existenciais, logo não sou o senhor das certezas. E ainda bem, porque ter tudo dado como certo deve ser muito "dull" :)

Abraço!

Daniel disse...

como gostava eu de sentir o sabor à verdade nua mais vezes... viver é enganar-se.

Abraço sincero.