domingo, 17 de fevereiro de 2008

Conselho a todos os espíritos-livres

Desconfiem sempre daquele que vos diz que poderiam ter tempo para tudo na vida se quisessem. Quem diz isso não conhece o que é a vida, ou não a ama o suficiente. A vida é para ser amada de forma integral, total e livremente, e é assim que deve ser - é a única coisa que nós temos, se é que podemos ter alguma coisa. Não é possível amar intensamente a vida sem se perder nela, na imensidão do desconhecido que a povoa. Perder-se assim é não conseguir controlar a mente com freio certo, é levantar uma qualquer âncora que não existe e deixar-se sonhar - ou ser sonhado - à vontade. Não existe pessoa, por maior inteligência ou lucidez de espírito que tenha, que consiga dar importância às pequenas rotinas e imposições que teimam travar a nossa evolução pessoal. E como não lhes dá importância, e vive dentro de si e não fora, essa pessoa é alheia às circunstâncias do mundo, e tanto mais se alheia do que está fora de si quanto mais ama toda a vida no sonho do futuro que se quer presente. Quem quer viver os mistérios mais elevados da vida tem que se alhear do mundo, tem que se afastar do burburinho constante da vida que todos levam, ou da espécie de vida que vai levando todos eles. E quem quer viver realmente essa vida, a única que vale realmente a pena, tem que abdicar de tudo - até mesmo da pele que veste todos os dias. Infelizes daqueles que buscam a felicidade na vida, com que tormentos ela os tenta e com que violência o artesão lapida a sua jóia tosca - infelizes desses, e mais infelizes ainda os que nascerem neste tempo: nunca houve um tempo em que o ter se apoderasse mais do ser, em que o capitalismo asfixiasse mais a creatividade, em que a competição abafasse mais o potencial de cada um...

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