terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Tenho um grande apreço por quem não acredita em Deus.
Eu também não acredito nele.
Acredito nas pedras, na água, na luz que o sol me dá, na erva fresca da manhã
Mas não acredito em Deus.

Deus é uma ideia que as pessoas meteram na cabeça
quando não tinham nada para fazer e os olhos estavam cerrados
e cansados de tantas mentiras.

Mas pode ser que Deus seja uma ideia que as pessoas não meteram na cabeça
pela simples razão de que ela já na cabeça lhes tinha sido metida,
e isso já me faria pensar duas vezes.

Mas se Deus está na cabeça do homem, então
ou o homem ou alguém lhe teve que meter a ideia na cabeça
(se pensarmos que ter uma ideia na cabeça
implica que alguém lá tenha posto alguma coisa)
ou então a ideia sempre lá esteve,
e nesse caso ninguém podia lá meter ideia nenhuma
porque se ela sempre lá esteve, na cabeça,
(fosse a cabeça esta ou outra que desconhecemos)
então não existia o antes de haver a ideia
existia apenas a ideia, e nada mais.

Mas mesmo assim continuo a gostar de quem não acredita em Deus
nem sequer na ideia que têm na cabeça
porque esses procuram o que há na cabeça
antes de haver ideia alguma.
Só haverá pesar se a cabeça onde eles procuram
não passar também ela de uma ideia de cabeça
uma ideia que às vezes tem muitas outras
uma ideia que é sempre tida por muitos outros,
mas isso só se a cabeça for uma ideia.

Mas a ideia que tenho da cabeça, em si mesma, essa,
já é uma ideia de qualquer coisa,
e a ideia que tenho da cabeça é em nada diferente da ideia que tenho de Deus.
E não sei qual ideia é mais real que a outra.
Para mim, são as duas, tão reais
como qualquer outra coisa.

Talvez as cabeças sejam só ideias,
e talvez as ideias sejam só o tudo
que nos é permitido conhecer.
Por isso, e ao contrário do que Caeiro diria,
não me volto para a realidade que está lá fora.
A realidade que está lá fora é igual à realidade que está cá dentro.
Tudo é uma grande ideia do todo,
e todos são pequenas ideias de tudo.
O que é real na nossa cabeça são as ideias, não o que está lá fora.
Lá fora está só o que está cá dentro,
e cá dentro está a ideia onde tudo mora.

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