sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Morangos: agora também dentro do prazo?

Só pode ser com perplexidade que se assiste a mais uma temporada (será a centésima?) da série Morangos com Açúcar da TVI. Só outro acontecimento é digno de tamanha perplexidade: a atribuição do prémio Nobel a Barack Obama. Mas se este acontecimento - que à partida podia ser bom - é para lamentar, o lançamento de mais uns Morangos com Açúcar - que à partida seria motivo suficiente para rir durante três meses seguidos - é na verdade para aplaudir. Os muitos tiques que a série teve sempre estão agora bastante desvanecidos, e sobre eles há várias camadas de qualidades que quase os tornam suportáveis.

Isto tem de ser dito: é preciso ter estômago para ter dado por completo a volta a uma escola. Ali, critica-se não só a rigidez militar das escolas portuguesas, mas ainda se faz mais: aponta-se um caminho a seguir - e ele não pode ser outro que não a via artística. É preciso perceber, de uma vez por todas, que o modelo escolar que Portugal e tantos outros países têm está desajustado, está desadaptado à realidade em que nós vivemos, e que não é nem será nunca o modelo a seguir. A tecnologia desenvolve-se cada vez mais, mas parece que ninguém consegue tirar nenhuma conclusão disso. Nós estamos a chegar a um momento da história da humanidade em que o trabalho como o conhecemos vai deixar de existir, simplesmente porque, com o avanço da tecnologia, vamos ter máquinas capazes de executar todos os trabalhos chatos e aborrecidos que são tão necessários para a vida neste planeta. Não são os despedimentos em fábricas de automóveis um grande bem? Claro que são! São lugares que nunca mais irão ser preenchidos porque as máquinas já fazem o trabalho todo! (E que fique bem claro que isto nada tem que ver com despedimentos em nome de neo-liberalismos globalizantes e económicos.) O que temos de perceber é que esta situação é um bem incalculável, e que a culpa disso está nos avanços da tecnologia.

É claro que quando alguém não tem forma de ganhar o seu dinheiro (dê lá por onde der, o problema vai sempre mexer na economia) isso é um mal terrível, toda a gente o sabe. Mas a questão é que a responsabilidade não é do avanço da tecnologia, esse avanço não é mau porque tira emprego; a responsabilidade é dos governantes e dos gestores de empresas que não souberam preparar-se para todas estas mudanças tecnológicas e para as consequências que vão naturalmente decorrer delas. Vão deixar de ser precisas formigas operárias sem qualificações e com baixos salários, e o homem vai finalmente ter o tempo livre para as suas criações artísticas e únicas. É por isso que esta instrução deve começar na escola, e deve lá começar para que as novas gerações se habituem ao tempo livre e o não estranhem, para que as novas gerações sejam mais reivindicativas dos seus direitos contra a ameça dos super-liberalismos económicos, para que não haja paciência nenhuma frente à perda de liberdades com que todos os dias tanta gente nos assedia. Os governantes e os donos das empresas têm de se preparar para a grande mudança que vem aí: é deles a responsabilidade de reformar o sistema de ensino, de favorecer o aparecimento de novas pequenas empresas, de criar universidades e postos de trabalho para toda a gente que vai viver das suas criações artísticas. Os novos Morangos com Açúcar são um ultimato para os Ministros da Educação: adaptem-se enquanto é tempo ou serão ultrapassados! Nós queremos ter tempo livre para poder criar à vontade, e se não nos dão o que é de nosso pleno direito iremos lutar por isso!

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