quinta-feira, 22 de outubro de 2009

que a bíblia

que a bíblia é uma porcaria na maior parte da sua extensão, já toda a gente sabe. Não precisamos de ter um Saramago a dizer isso. Já os cristãos gnósticos o diziam quando os templários cuspiam em cima do símbolo horrendo que é um cruxifixo com um homem moribundo lá pregado e a desfazer-se. Vamos lá, safa-se aquele Evangelho Segundo S. João, com o início que é tão conhecido. Eu gostava de ver a cara das pessoas quando lhes lessem aquele Evangelho Gnóstico que diz que os discípulos beijavam muitas vezes Jesus, incluindo Maria Madalena, e que esta não o beijava só nas mãos e nos pés, mas também na boca! Já imaginaram as Marias Madalenas do Mundo Inteiro a desatarem a correr para as Igrejas Santíssimas, no meio daquele incenso extático, e começarem a beijar os Santos e as Santas nas mãos, nos pés e na boca?

4 comentários:

Unknown disse...

É por isso que também não acho Saramago tão génio quanto louco como se propala por aí! Exatamente por essa objactividade...

Daniel disse...

Caro Joaquim,

Objectividade e Bíblia são duas palavras que, por mais que teimem em mantê-las juntas, nunca hão-de andar de mãos dadas. No mundo científico em que vivemos, e com os conhecimentos científicos que hoje temos, acreditar na objectividade da Bíblia só pode ser delírio. (eu não me canso de dizer isto porque há por aí muito boa gente que ainda acha que é possível...) Agora, isso não quer dizer que ela seja efectivamente uma porcaria; sê-lo-á se a compararmos (dentro da sua subjectividade, do alcance das suas metáforas, dos seus símbolos) a outros textos bem mais interessantes, de que os Evangelhos Gnósticos - que, como é evidente, não são reconhecidos institucionalmente - são um belo exemplo. Bom, mas a verdade é que até a Bíblia serve como metáfora, se não há mais nada aí à mão. A verdade é que, como moçambicano que julgo que é, tem aí muito material muito mais interessante, basta ir aos livros do excepcional Mia Couto. Mas o Saramago não é assim tão desconexo. Ele lá tem as suas manias, e os seus ataques (bem se vê pela polémica em Portugal quando ele lança o novo livro, o 'Caim'); mas tem algumas ideias que se aproveitam, e um estilo bastante interessante. Há muita análise filosófica que se pode tirar do Ensaio Sobre a Cegueira, por exemplo - e agora nem é preciso ler o livro para fazê-la, basta ver o filme! O que é importante, no meio disto tudo, é manter essa atitude crítica.

Saudações transatlânticas!

Chacate Joaquim disse...

Daniel, estou muito grato pela correspondência.

Quanto às manias do subversivo português, eu acho que é a natureza filosófica da própria ciência. algumas conclusões a que se chega com o trabalho científico provocão um piripaqui psicológico como as milagres do Jesus Cristo.

Eu sinceramente não concordo com a eliminação do códico da vinci e seus filmes, as cortinas de ferro conque se veda a Religião cristã e até muçulumana só faz parar o mundo! Num sistema social naturalmente aberto. as obras divinas pararam no tempo não sei no espaço porque parece que há novas evangelizações. abraço

Daniel disse...

Caro Joaquim, já dizia o nosso Pessoa - que, note-se, é tão português quanto africano, largos anos viveu ele na África do Sul - que os fundadores de todas as religiões lembraram-se de tudo, menos de existir! E provavelmente assim será, basta olhar para as continuidades de, por exemplo, a Ísis dos egípcios e a Virgem Maria dos cristãos. O que a ciência nos trouxe, e aqui dou razão a Nietzsche, é que o desenvolvimento humano, chegado a um determinado ponto, deixa de precisar da ideia de deus para seguir adiante, e portanto deve procurar é libertar-se dela, e sobretudo do que dizem as igrejas.

De resto, nem só do Da Vinci temos códigos, a própria vida é um grande código, um grande livro que temos de aprender a ler para fazermos alguma coisa dela. As obras divinas são as que nós fazemos no mundo, quando deixamos a criatividade que deriva da imaginação - a única coisa verdadeiramente divina que temos - lançar asas para o infinito. Por isso, enquanto houver homens, e enquanto quiserem sonhar com o que não há mas devia haver, teremos sempre obra. O que é preciso é querer! Abraço amigo