sexta-feira, 16 de outubro de 2009
o que é realmente ridículo é falar-se em fuga de cérebros de Portugal. Não há cérebros nenhuns a fugir de Portugal, o que há, isso sim, são governantes que não investem no desenvolvimento da ciência e da tecnologia para dar condições aos cientistas que se formam em Portugal de progredirem nos seus estudos em Portugal. As universidades (neste momento já nem têm direito à maiúscula inicial) andam nas lonas, e o que surpreende é como ainda não fecharam já todas, e isto mesmo para as da capital; os laboratórios nacionais são o depósito dos dinossauros parasitários que envergonham o nome da ciência e contribuem para a cadaverização do ensino e da investigação científica; os laboratórios produtivos que existem nascem sobretudo de dinheiros privados e onde a competição só se pode caracterizar como sendo darwiniana, que é para não dizer capitalista, e nem aguentam com a sua oferta metade da procura que há; os contratos de trabalho são inexistentes, sem regalias praticamente nenhumas, e com termo certo ou quase-certo, que é o que a precariedade, o novo bicho-papão do século XXI, veio trazer a dezenas e dezenas de licenciados qualificados. O que era um direito antes, e que foi conseguido com um sem-número de lutas e derramamento de sangue, passou agora a ser considerado um privilégio de poucos; os contratos estáveis deram lugar às bolsas e aos recibos verdes; a estabilidade e a qualidade de vida deram lugar à exploração e à insegurança; a natalidade passou a ser uma nova forma de mortalidade; o mundo virou-se completamente do avesso e com o aval consciente ou amorfo de todos; o fim do mundo só pode estar próximo.
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