Entrevistadora: O senhor se referiu aos "muros da academia" como um obstáculo para o pensamento livre. Há alguma esperança para as universidades?
Zigmunt Bauman: O que quer que as universidades façam, elas não conseguirão jamais pôr um fim à curiosidade humana, que talvez tenha de sair da academia para se satisfazer. Ainda tenho o meu escritório na Universidade de Leeds, mas mal posso reconhecer a universidade da qual saí há poucos anos, tal a velocidade da mudança. Os nomes aparecem e desaparecem das portas, as pessoas são classificadas de acordo com o projecto em que estão engajadas no momento, mas tudo é tão a curto prazo! Cambridge provavelmente ainda é diferente.
Se se pensa nas limitações que a organização universitária hoje impõe ao desenvolvimento do pensamento livre, basta olhar para o que acontece com a filosofia e a sociologia tal como são praticadas nos departamentos universitários e em outros "locais de autoridade" (...) Cada uma dessas disciplinas académicas se pretende de posse de grupos distintos de "dados primários", e os processa, interpreta, verifica e refuta de maneiras diferentes. Dominar o cânone tanto da sociologia como da filosofia e adquirir credenciais oficialmente reconhecidas e confirmadas em cada uma delas toma todo o tempo dos estudantes universitários - e a competência em uma dessas disciplinas académicas raramente é exigida para se adquirir o grau na outra.
Posso entender a preocupação dos sociólogos académicos com a circunscrição, as barreiras e a defesa de suas possessões contra os competidores na obtenção do dinheiro das fundações e do governo, mas o que não podemos esquecer é que essa preocupação se origina na realidade da vida académica e não na lógica da experiência humana que a sociologia é chamada a servir.
entrevista a Zigmunt Bauman, sociólogo humanista e pensador da era pós-modernista
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
sábado, 26 de dezembro de 2009
não deve pior maneira de ler filosofia que não seja lê-la em português. Há uma qualquer fragilidade narcísica entre as auto-proclamadas elites portuguesas que faz com que as traduções de textos de filosofia - mesmo daqueles que são simples - acabem por parecer um amontoado obtuso de palavras caras prontas a ser interpretadas apenas por extraterrestres que não têm ligação nenhuma com o que a vida é realmente, no dia-a-dia de cada um. A única conclusão verdadeiramente lógica que se pode retirar daqui é que nas auto-proclamadas elites não existe nenhum verdadeiro filósofo - no sentido original da palavra, tantas vezes esquecido. Aquele que ama o saber verdadeira e ardentemente não pode ter outro desejo senão o de tentar por todos os meios dar a conhecer a beleza da sua arte às pessoas que não a conhecem, para que todos a possam apreciar e chegar à conclusão de que é bela e relevante para o nosso mundo. Mas, claro está, quem veio a este mundo para ser doutor, não pode perder o seu tempo com ninharias destas, ou não fosse ele, por causa delas, perder o seu precioso emprego. Nunca aceitem ler filosofia que não seja clara; e, se o tiverem de fazer, leiam-na sempre em inglês.
é realmente admirável a desproporção que há no tomarem as pessoas assuntos de segunda categoria como causas formidáveis e nacionais, sejam o fim das touradas ou os casamentos homossexuais. É uma atitude que se deve considerar até perigosa, já que desvia a atenção dos verdadeiros problemas que enfrentamos (já se esqueceram deles? Alterações climáticas, desemprego a torto e a direito, guerras pelas últimas reservas de petróleo no médio oriente, crises económicas globais, tratados e governos controladores e oportunistas, um sistema de ensino transformado em academia militar, ...) para causas que, apesar de fazerem com que as pessoas façam muito estardalhaço à volta delas, nunca levam a coisa nenhuma, e são, na verdade, insolúveis, até que as mentalidades mudem - coisa que, como já o Álvaro de Campos dizia, só acontece verdadeiramente quando uma geração morre e a seguinte aparece. Se as pessoas querem acabar com as touradas e deixar que quem quer casar se case, vão mas é dar cultura às pessoas e subverter o sistema de ensino que temos. Aquilo que está na base da vida é a aprendizagem, e a aceitação da vida que se tem e da vida que se teve. Enquanto as pessoas não forem livres de aprender o que querem aprender, e de ter dinheiro suficiente para fazer o que querem fazer não hão-de compreender o sofrimento pelo qual os animais passam para nos servir de comida, ou que o estado não tem nada que ver com a vida privada e emocional de cada um. Vamos acabar de uma vez por todas com essa questões menores que não levam a sítio nenhum e propôr medidas, práticas, para mudar o que está na base, ou então para desconstruir as ficções sociais que as pessoas têm na cabeça. A única maneira de agir globalmente é agir localmente.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
altermodernism by nicolas bourriaud
a Calecute de hoje é a história da humanidade. Temos de navegar contra as ondas de multinacionais globalizantes, monstruosidades super-burocratizadas e legislações flibusteiras de governantes piratas brandindo as espadas da inflação. É a guerra da informação, e as trocas comerciais fazem-se agora no acesso a ela. Os mares nunca dantes navegados são os da imaginação, e precisamos de descobridores aptos para inventar novos mundos no nosso mundo, e para espalhar as especiarias que tanto sabor dão à comida do espírito.
gosto da existência de tabs no internet explorer - significa que podemos multipersonalizarmo-nos em várias direcções e sentidos ao mesmo tempo, sem sair do mesmo lugar, exactamente como fazemos com os nossos heterónimos. A internet favorece o pensamento múltiplo, divergente, e torna impossível qualquer rotina de pensamento cristalizado. Já que não podemos estar todos juntos ao mesmo tempo, formando um corpo-cosmos, podemos, pela tecnologia, multi-conectar-nos e formar redes gigantescas que cobrem todo o planeta. Não se trata de descobrir novos continentes, senão de descobrir novos eus, os exteriores e os interiores, para que mais depressa a grande consciência global, essa idealização da humanidade, se possa desenvolver mais depressa. Cada pessoa é um neurónio que estabelece múltiplas conexões com outros neurónios, no topo do grande córtex cerebral do planeta terra.
é incrível a diferença que vai da minha geração àquela que só agora atinge a maioridade fiscal, os dezoito anos de todas as iniciações. É uma diferença tão clara e tão perceptível, tão grandes são clivagens que nos separam, que por vezes ainda me custa a compreender como pode a humanidade avançar tanto em tão pouco tempo. As novas gerações que aí vêm vão ser as mais inteligentes que alguma vez pisaram este planeta: que mais se pode esperar de quem nasceu com a internet em casa, pronta a usar, na era da super-interactividade, do escolha-você-mesmo, do instantâneo e do imediato? Naturalmente que as estruturas mentais destas gerações que têm acesso a toda esta tecnologia cada vez mais interactiva vão super-desenvolver-se e mostrar-se as únicas que conseguem acompanhar o ritmo vertiginoso a que a ciência progride no nosso mundo. E nós temos é que olhar com bons olhos para a impaciência de toda esta camada mais jovem perante o que é demorado e custoso: estão habituados ao instantâneo, e só com essa impaciência é que será possível arranjar mais depressa maneiras de concretizar o Grande Ideal no mundo.
sábado, 19 de dezembro de 2009
não há pior sensação no mundo do que sentir-se dentro de um supermercado. Talvez fosse melhor dizer supor-se dentro de um supermercado, porque dentro de um não é possível sentir nada. O vazio civilizacional preenche filas e filas de prateleiras com preços enganosos e cores berrantes. Toda a gente corre para comprar o mais depressa possível o produto de que tanto ouviu falar na televisão. Bombardeados como somos por estímulos que mudam dez vezes em cada dois segundos, já não ouvimos, já não vemos, já não falamos. Implantaram-nos uma televisão entre o lobo occipital e o parietal, e agora só nos movemos para onde a visão é sobrestimulada. Ninguém sabe o que quer, ninguém sabe o que procura. Limita-se a viver, à pressa, empurrando o carrinho pelos corredores labirínticos da modernidade. As muralhas de produtos frescos e enlatados, plastificados, engarrafados, depurados, liofilizados, desidratados, refinados e geneticamente modificados aguardam por nós, e nem precisamos de estender o braço. Todas as embalagens saltam já para o nosso carrinho, para esse abismo onde procuram desesperadamente suicidar-se para esquecer o seu destino. Mas somos humanos. Temos crias para amamentar, temos filhos para criar, comida para cozinhar, cozinhados para comer, comer para digerir, digerir para excretar. Todos os dias da nossa existência. Uma orgia de sabores sempre novos e sempre diferentes, uma orgia de sorveres e mastigares, de trincares e cortares, de preparados, ultra-congelados, super-melhorados, hiper-desinfectados, sobre-vitaminados produtos com vida própria - com vida própria!, a gritar-nos da televisão, a irromper de entre os neurónios do nosso cérebro, desse produto consumista e consumidor de eras e séculos e milénios, que traga tudo o que os olhos vêem. Rica vida, esta! A Vida Moderna em todo o seu esplendor orgiástico, de êxtases de supermercado, de comprar bocados de metafísica enlatada para servir ao pequeno-almoço, de tecnologias socializantes e de maquinismos globalizantes; A Verdadeira Vida Moderna Em TODO O Seu Esplendor;é ela o cúmulo máximo da civilização, da Nossa Civilização, do Mundo do Amanhã, Da Grande Ordem Mundial Permanente e Necessária!
Rica vida, esta. Nem um Orwell, nem um Huxley, nem um Kafka, nem sequer um Pessoa, podiam ter previsto como a Civilização Triunfante iria conquistar, em definitivo, toda o pedaço de terra habitável com o seu asfalto cinzento-chumbo. Por cima das nossas cabeças, a Modernidade pesa.
Rica vida, esta. Nem um Orwell, nem um Huxley, nem um Kafka, nem sequer um Pessoa, podiam ter previsto como a Civilização Triunfante iria conquistar, em definitivo, toda o pedaço de terra habitável com o seu asfalto cinzento-chumbo. Por cima das nossas cabeças, a Modernidade pesa.
Nunca se deve confiar em traduções. As únicas traduções fiáveis são aquelas que traduzem o significado, e não a palavra. Mas deve-se abrir uma excepção no campo da filosofia: nunca se devem ler textos filosóficos em português, a menos que tenham sido escritos originalmente em português. Até resolver a equação de Schrödinger é mais fácil que entendem um texto filosófico em português. Excepções são feitas aos textos filosóficos em português que são claros, situações excepcionais dentro da excepção. Nunca se deve confiar num texto vago e impreciso - o mais certo é estar ele a esconder as incapacidades do escritor. Os textos filosóficos em português deviam ser todos reescritos. Se quem escreve textos filosóficos em português não consegue ser claro, então fazia muito melhor se os escrevesse em inglês.
domingo, 13 de dezembro de 2009
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
SOCIALISM IS DEAD
socialism is already dead because it has failed to provide the quality to our lives which it supposedly aimed for. The State and politicians have failed to bring about peace and have increased money spending during the socialist reign. Bureaucracy has thrived and decisions are nowhere more difficult to take. Nothing works the way it should, and our political institutions have proven not to be effective in regulating our lives. The socialist paradigm is over. We need another way of organizing our country. We need a new economy.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
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