segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Entrevistadora: O senhor se referiu aos "muros da academia" como um obstáculo para o pensamento livre. Há alguma esperança para as universidades?


Zigmunt Bauman: O que quer que as universidades façam, elas não conseguirão jamais pôr um fim à curiosidade humana, que talvez tenha de sair da academia para se satisfazer. Ainda tenho o meu escritório na Universidade de Leeds, mas mal posso reconhecer a universidade da qual saí há poucos anos, tal a velocidade da mudança. Os nomes aparecem e desaparecem das portas, as pessoas são classificadas de acordo com o projecto em que estão engajadas no momento, mas tudo é tão a curto prazo! Cambridge provavelmente ainda é diferente.

Se se pensa nas limitações que a organização universitária hoje impõe ao desenvolvimento do pensamento livre, basta olhar para o que acontece com a filosofia e a sociologia tal como são praticadas nos departamentos universitários e em outros "locais de autoridade" (...) Cada uma dessas disciplinas académicas se pretende de posse de grupos distintos de "dados primários", e os processa, interpreta, verifica e refuta de maneiras diferentes. Dominar o cânone tanto da sociologia como da filosofia e adquirir credenciais oficialmente reconhecidas e confirmadas em cada uma delas toma todo o tempo dos estudantes universitários - e a competência em uma dessas disciplinas académicas raramente é exigida para se adquirir o grau na outra.

Posso entender a preocupação dos sociólogos académicos com a circunscrição, as barreiras e a defesa de suas possessões contra os competidores na obtenção do dinheiro das fundações e do governo, mas o que não podemos esquecer é que essa preocupação se origina na realidade da vida académica e não na lógica da experiência humana que a sociologia é chamada a servir.




entrevista a Zigmunt Bauman, sociólogo humanista e pensador da era pós-modernista

Sem comentários: