segunda-feira, 23 de julho de 2007

Ah, as maravilhas do português, essa língua grandiosamente sibilina, esse sussurro de meia-noite empoleirado em vão de escada, essa descida ao rés-do-chão sem elevador, essa árvore robusta de carvalho maciço à espera de ser levantado no mar, essa paixão ardente de lábios cor de sangue e suor, esse grito de poetas longínquos e intocáveis, esse suspiro de espíritos moribundos que sonham com o raiar do dia, ser português é cultivar esta língua plena de gregos e latinos, plena de expressões enigmáticas e de trocadilhos inauditos, é trocar as voltas à semiótica e dizer-lhe que a mensagem somos nós, é pensar sentindo o que não se pode dizer dizendo-o num silêncio de brisa tempestuosa que sai do mar mas não acalma, que leva ao céu mas não se fica, é ser essa própria luz do luar e da solar estrada que se ri de tudo e de nós como uma perdida

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