segunda-feira, 23 de julho de 2007

Coisas que adoro numa Igreja Evangélica Americana

Não concordam com casamentos homossexuais
Argumento perfeitamente justificável. Uma relação homossexual nunca daria origem a filhos, e portanto não era possível continuar a perpetuar a lavagem cerebral e o vazio mental que abundam nesses sítios. Tão certo como uma célula se divide em duas, as ideias passam muito bem enraizadas de pais para filhos, com um modelo de pai autoritário (o conhecido pai tirano, professor e simpático) e uma mãe submissa (a autêntica fábrica de fazer filhos).

Se é para ter filhos, então o limite mínimo é 10 por casal
Quanto maior for a prole, maior o divisor quando se trata de distribuir os rendimentos. Assim, menor quantidade de dinheiro cabe, em média, a cada filho, e, portanto, a qualidade de vida diminui. Se esta diminui, diminui certamente o acesso a actividades culturais, isto é, actividades que realmente estimulam a criatividade e a imaginação de cada um, e maior a morte cerebral. Claro que dificuldades económicas induzem um estado de apatia constante e uma miséria profunda, o que vem mesmo a calhar para uma muito maior e mais fácil penetração das ideias deste ou daquele que permitam estimular endorfinas.

Vamos converter o maior número de pessoas possível!
Como a estupidez é algo que alastra muito facilmente, então são construídos autênticos centros comerciais religiosos, em que as bênçãos e a alegria são distribuídos misturadas com mensagens subliminares para votar neste ou naquele candidato. E como é preciso incutir no inconsciente das pessoas (por um autêntico fenómeno de condicionamento pavloviano - mas que Admirável Mundo Novo!) sensações agradáveis sempre que se fala da Bíblia (ficaria melhor dizer Vulgata) ou de ideais conservadores (inequivocamente prò-hitlerianos, nacional-socialistas) ou até de demência socialista colectiva, que tal começar desde bem cedo? Por isso é que tantos pais levam as suas crianças a essas sessões. Elas podem não compreender nada do que se diz, mas decerto apreenderão muito bem todas essas mensagens com as quais podem encher o seu cérebro e ficar felizes, tal como um robot acabado de construir. São os neoandróides do nosso tempo, sem chips de silício, pois claro, porque tal elemento é caro.

É muita fixe cutir essas cenas, meu!
E, para que o pacote não fique incompleto, que tal um fogo-de-artifício, concertos ao ar livre e canções cheias de alegria para encher a vida miserável de escravos que levamos? Ora pois, chegamos até aos adolescentes, essa massa disforme que nunca conseguiu ser controlada por ninguém, conseguimos descer até ao seu estado mental e tornar a crendice uma moda! Que divertido! Sempre com doses pululantes de adrenalina e descargas hormonais. E se se puder fumar umas ganzas e atingir o Céu sem sair da terra? O Paraíso acabou por chegar, enfim!

Nunca numa sociedade massificada e mortificada as coisas desceram tão baixo. Mas, realmente, já era assim desde o tempo de Jesus, e ele não se importava com isso... a única verdade que pode haver no mundo é o facto de as coisas nunca mudarem: mudam os impérios e as línguas, as riquezas e as fronteiras, os governos e desgovernos, mas as pessoas não mudam.

2 comentários:

Nelson Magina Pereira disse...

Oh... como infelizmente partilhava a 100% dessa mesma opinião (a impossibilidade da mudança). Então procurei incessantemente por uma réstia de esperança. Acho que a encontrei, pelo menos em parte, nas palavras escritas por Tony Kushner e proferidas por Mary-Louise Parker: "Nothing is lost forever. In this World there's a kind of painful progress, longing for what we've left behind, and dreaming ahead." Pelo menos é isso que quero acreditar.

Retribuo o bem haja.

Daniel disse...

Como bem nota, caro Nelson, e como a própria Mary-Louise Parker diz, essa é a eterna fatalidade humana. Não existe propriamente nada de novo, as ideias novas são simplesmente uma combinação de elementos que já existem. Até aqui já tinham chegado os empiristas ingleses do século XVII. Mas o brilhantismo da Genética foi o de vir mostrar o número absurdo de combinações que podem ser feitas com esses mesmos elementos. A isso chamamos imaginação humana. E isso leva-nos de rompante à pergunta que apetece logo fazer: então mas há ou não há evolução? Claro que há. As coisas mudam, e mudam bastante. O século XX não tem nada que ver com o século XV. Cada um é extraordinário à sua maneira. Mas nota-se evolução, sim, a nível macrocósmico. O macrocosmos humano muda, adapta-se, e a tecnologia é prova disso, e hoje mais que nunca. Mas será que cada indivíduo, em si, muda? Isto é, será que os microcosmos que existem dentro desse macrocosmos mudam? O conjunto de pessoas muda, claro, umas nascem, outras morrem. Mas será que cada uma das pessoas, considerando apenas uma pessoa, muda? Não me parece. E aqui tenho que fazer a vénia a Parménides. O ser, isto é, aquilo que é, de facto, alguma coisa, não pode deixar de o ser. Ou não pode passar a ser outra coisa porque senão teria forçosamente que deixar de ser o que é para não ser. E é por isso que gosto tanto da Biologia, e neste aspecto da Ecologia. Existem vários níveis de organização biológica, desde o indivíduo, população, espécie, comunidade,... e o mais incrível é que, de uns níveis para outros, surgem propriedades novas, propriedades que não se encontravam em cada um destes sistemas, quando considerados de forma isolada, mas que, em conjunto, e por processos dinâmicos, de interacção recíproca, emergem - são os chamados princípios emergentes, o 1+1=3. Isto é, é o facto de existir uma interacção entre dois sistemas distintos que faz com que determinada propriedade seja revelada. Podemos então pensar, mas será que essa propriedade que se revela já pré-existia, era anterior à interacção? Bem, se tomarmos como princípio que uma coisa só pode provir de algo que já pré-exista, então temos que concordar que a propriedade já existia, pelo menos em parte. Quer dizer, um dos elementos que possibilita a propriedade já existiria, e como são esses elementos que, combinados, dão origem à propriedade, temos que concluir que, pelo menos, haveria a priori a possibilidade ou a potencialidade da propriedade se manifestar. Mas ela só existe, de facto, quando se manifesta, no acto. Como dizia Aristóteles. E isso faz com que as combinações sejam infinitas. Nada é novo, tudo é velharia empoeirada. Mas tudo é sempre novo, porque novas combinações podem trazer sempre à luz novas propriedades, e novas propriedades geram mais elementos que podem, eles próprios, gerar mais combinações... e nós? Nós somos tudo isso sendo ao mesmo tempo.