segunda-feira, 30 de julho de 2007

Como bem nota, caro X, e como a própria Mary-Louise Parker diz, essa é a eterna fatalidade humana. Não existe propriamente nada de novo, as ideias novas são simplesmente uma combinação de elementos que já existem. Até aqui já tinham chegado os empiristas ingleses do século XVII. Mas o brilhantismo da Genética foi o de vir mostrar o número absurdo de combinações que podem ser feitas com esses mesmos elementos. A isso chamamos imaginação humana. E isso leva-nos de rompante à pergunta que apetece logo fazer: então mas há ou não há evolução? Claro que há. As coisas mudam, e mudam bastante. O século XX não tem nada que ver com o século XV. Cada um é extraordinário à sua maneira. Mas nota-se evolução, sim, a nível macrocósmico. O macrocosmos humano muda, adapta-se, e a tecnologia é prova disso, e hoje mais que nunca. Mas será que cada indivíduo, em si, muda? Isto é, será que os microcosmos que existem dentro desse macrocosmos mudam? O conjunto de pessoas muda, claro, umas nascem, outras morrem. Mas será que cada uma das pessoas, considerando apenas uma pessoa, muda? Não me parece. E aqui tenho que fazer a vénia a Parménides. O ser, isto é, aquilo que é, de facto, alguma coisa, não pode deixar de o ser. Ou não pode passar a ser outra coisa porque senão teria forçosamente que deixar de ser o que é para não ser. E é por isso que gosto tanto da Biologia, e neste aspecto da Ecologia. Existem vários níveis de organização biológica, desde o indivíduo, população, espécie, comunidade,... e o mais incrível é que, de uns níveis para outros, surgem propriedades novas, propriedades que não se encontravam em cada um destes sistemas, quando considerados de forma isolada, mas que, em conjunto, e por processos dinâmicos, de interacção recíproca, emergem - são os chamados princípios emergentes, o 1+1=3. Isto é, é o facto de existir uma interacção entre dois sistemas distintos que faz com que determinada propriedade seja revelada. Podemos então pensar, mas será que essa propriedade que se revela já pré-existia, era anterior à interacção? Bem, se tomarmos como princípio que uma coisa só pode provir de algo que já pré-exista, então temos que concordar que a propriedade já existia, pelo menos em parte. Quer dizer, um dos elementos que possibilita a propriedade já existiria, e como são esses elementos que, combinados, dão origem à propriedade, temos que concluir que, pelo menos, haveria a priori a possibilidade ou a potencialidade da propriedade se manifestar. Mas ela só existe, de facto, quando se manifesta, no acto. Como dizia Aristóteles. E isso faz com que as combinações sejam infinitas. Nada é novo, tudo é velharia empoeirada. Mas tudo é sempre novo, porque novas combinações podem trazer sempre à luz novas propriedades, e novas propriedades geram mais elementos que podem, eles próprios, gerar mais combinações... e nós? Nós somos tudo isso sendo ao mesmo tempo.

Sem comentários: