domingo, 2 de dezembro de 2007

a publicidade é o lixo mental do nosso século. Ela instala-se no nosso cérebro, bem pronta a atacar quando menos esperamos. Esta nova forma de condicionamento neopavloviano procura criar redes de associações mentais que emparelhem estímulos neutros com sentimentos bons e agradáveis em relação aos produtos que se procuram vender. Os hipermercados estão construídos de tal forma que deixam a mente num estado dormente: as suas grandes dimensões aglomeram muitas pessoas, o que cansa muito a mente porque ela mal consegue compreender uma pessoa de cada vez; a sua música de elevador, comercial, para grandes massas, segue os compassos da música popular, de modo a ficar no ouvido e a adormecer a nossa atenção instilando soporíferos; a nossa já degradada concentração percorre prateleiras e prateleiras infinitas do labiríntico capitalismo de modo a que não consigamos encontrar aquilo que pretendemos e de modo a que fiquemos presos naquela masmorra horrível; os locais onde se encontram os produtos mudam sucessiva e ciclicamente para que ainda nos percamos mais nesses labirintos e não saiamos dali sem encontrar, pelo menos, trezentos minotauros; as coisas que se querem vender estão mesmo ao nível dos olhos, à mão de semear, bem como as promoções de produtos que estão quase fora de prazo; toda esta dormência mental é necessária para que, quando a nossa memória passa em revista um produto, se lembre do anúncio mais assim ou mais assado ao qual associou sentimentos favoráveis e acabe por levá-lo, a favor ou contra a sua vontade, faça-lhe esse produto falta ou não, e sobretudo para que leve cada um de nós ao endividamento extremo, que é o penhor em punho. Por isso detesto a publicidade e detesto quem a publicita, detesto a imposição externa e a serenidade acrítica, detesto a imposição forçada e a obediência extrema, por isso detesto a televisão com os seus anúncios intermináveis, por isso detesto letreiros luminosos de néon, por isso detesto aqueles que querem que nós pensemos da maneira que eles pensam, por isso detesto frases e ideias já feitas, e por isso também não sigo, e me recuso terminantemente a seguir, qualquer caminho que já foi traçado, qualquer caminho que já foi percorrido, e qualquer caminho que já foi pensado. A publicidade é a inimiga do homem: é a corrupção da mente, a infantilidade do juízo. E não admira nada que a publicidade seja algo horrível e deturpador, nasceu de mentes nacionais-socialistas que eram a versão capitalista da ditadura.

Queimem todos os panfletos capitalistas!

Morte aos produtos do consumismo!

Bombas para os hipermercados e supermercados!

Curto-circuitos para as televisões!

Morte às embalagens de plástico!

Vómitos para cima das grandes empresas!

Não, não e não a tudo o que for embalado!

Não às sopas instantâneas!
Mijo para cima das comidas já preparadas!
Desconfiança para tudo o que cheirar a dinheiro, e sobretudo quando europeu!

Vivam os rissóis da vizinha de baixo!
E as frutas e os legumes da praça ao princípio do dia!
Vivam os queijos ilegais e as vacas malhadas!
E os canteiros e as hortas maninhos e daninhas!
Vivam os caracóis que comem as couves!
E as lagartas que são as mães das borboletas!
Vivam os pulgões e as joaninhas que os comem!
Vivam a Lua, o Sol, as estações do ano e os cometas!

2 comentários:

Cataclismo Cerebral disse...

Tudo é um jogo (política, economia,...) e a Publicidade claro que faz parte desse rol. Mas acho que este teu discurso cai um pouco no simplismo: parece-me que, de acordo com este post, as pessoas são como que autómatos sem capacidade de discernir seja o que for. Na realidade, o que acontece é que todos temos consciência do que se passa (caso contrário não veríamos tanta gente a apupar as diversas formas de publicidade e, por exemplo, a rasgar os direct mails e a evitar telefonemas de hard selling), mas não racionalizamos de forma tão radical. A Publicidade é um veículo de informações, que tenta despertar desejos ou necessidades que estão ou não estimuladas. Além disso, tenta também corresponder às reais necessidades e exigências de um mercado cada vez mais heterógeneo e obriga a uma fasquia de qualidade e controlo bem alta. Se existe Publicidade desleal ou enganosa, daquelas que nos deixam mesmo irados, aí o apontar de dedo não pode ser direccionado a esta técnica de comunicação mas sim aos seus principais elementos: as pessoas responsáveis por tais ideias; esses sim têm de carregar com a culpa. Confesso que este tema me pisa os calcanhares (já que sou um licenciado em Publicidade e apaixonado pela profissão), mas sinceramente acho que este discurso já está muito batido exactamente por não mostrar confiança nem fé nas capacidades intelectuais das pessoas. Acho que a história do anti-consumo é louvável, mas não tem grande base na realidade: geralmente quem a apregoa está invadido pelo consumo desenfreado, pois tem o "carro topo de gama", o computador "xpto", a roupa da marca "tal",... Há que respeitar os outros, mesmo que não os compreendamos na totalidade. Ah, quanto ao queijo ilegal: tem cuidado com isso porque não sabes as condições de produção de tal bem ;)

Abraço

Daniel disse...

Tudo é um jogo, é verdade, não porque seja mesmo um jogo, na realidade, mas porque nos impõem um jogo e nos obrigam a jogá-lo. Ora nós não somos nenhuns autómatos para nos condicionarmos a jogar jogos que não gostamos de jogar. Quem é autómato, que se cuide, que abra os olhos, e para isso não preciso de dizer nada. A vida, ela mesma, se encarregará de dar tantas bofetadas quantas as necessárias até que o juízo abra caminho por entre uma noite iluminada. Agora, que a publicidade joga com o nosso inconsciente, isso basta ter olhos na cara e saber dar-lhes uso para ver. Uma coisa é aquilo que a publicidade é, agora, e em todo o lado, outra coisa, e muito diferente, é o que a publicidade deveria ser. A publicidade deveria ser informação, mas ela é agora imposição capitalista. Não que ela seja intrinsecamente má; pelo contrário, é aproveitada pelo capitalismo de uma forma torpe e mesquinha. A questão é que nós não podemos escolher se queremos ou não queremos levar com a publicidade em cima, a menos que tenhamos uma força de vontade enorme, ou a menos que procuremos viver como eremitas. Nem sequer falemos da manipulação estatística que é continuamente usada na publicidade para criar este ou aquele efeito, nem precisamos de ir tão longe! Basta ficarmo-nos pelos anúncios televisivos, pelos cartazes, pelas porcarias que nos vão parar ao correio. Somos continuamente bombardeados com a publicidade a martelar-nos a cabeça. E o excesso de informação só dá numa coisa: a desinformação. A desinformação é informação que em vez de informar, ou clarificar, confunde e aliena. Ninguém está aqui a dizer que todas as pessoas são autómatos sem cabeça nem coração, apenas se diz que a compreensão humana, a concentração, é limitada, e portanto não é capaz de resistir a consecutivos bombardeamentos por todos os lados. Tudo tem o seu peso, conta e medida, e a publicidade de hoje em dia está completamente prostituída por esse grande proxeneta que é o capitalismo. Não quer isso dizer que a situação seja irremediável, apenas quer dizer que falta uma reflexão com pés e cabeça que ponha travão na promiscuidade que hoje anda solta por todo o lado. a história do anti-consumo não existe, o que existe é uma história de consumo consciente. Pena é que seja apenas uma história, hoje, e nada mais. A vida de um texto está naquilo que ele quer dizer, e não naquilo que ele diz. O que é preciso é que as pessoas parem, de uma vez por todas, para pensarem naquilo que lhes estão fazendo. Mais, quem gosta assim tanto de publicidade, mas quem gosta daquilo que a publicidade deveria ser, não deveria fazer outra coisa senão fazer tudo o que houvesse ao seu alcance para depurar o que há de bom e o que há de mau. E, olha, se o fizeres tão bem quanto escreves e quanto falas de cinema, já o mundo por cada volta que dá daria duas. Sugiro que faças um belo anúncio para reabilitar aquilo que realmente interessa, que são os queijos ilegais que se fazem por aí. E se ainda restarem dúvidas eu trago-te um lá da terra que aí é que quero ver o que dizes depois :P

Abraço ;)