domingo, 6 de abril de 2008

estaremos eternamente condenados a viver em subúrbios de nós-mesmos? A deixar as nossas terras natais e partir para cidades infectas que fervilham na podridão dos seus despojos? A ser atirados de um lado para o outro sem descansar e sem parar para viver? A morar em cubículos de pessoas conservadas em latas prontas a consumir? A viver cada vez mais para dentro, e mais sós, cada vez mais distantes do mundo, cada vez mais descontentes com as nossas conquistas, cada vez mais alheios à vida que passa por nós sem nos perguntar para onde queremos ir?... Viver neste tempo, esta vida, cansa - quase que faz perder a vontade de viver o que quer que seja. O que quero, o que procuro, não encontro em lado nenhum... tudo esquece. Tudo parece ser uma perda de tempo. Todo o dia é igual a qualquer dia, excepto em mim. Se vivo para dentro tudo se renova. Se não vivo para dentro, morro. Quando não tenho tempo para viver para dentro então começo a adoecer, e adoeço com uma doença que mata lentamente, que corrói, que vai minando as frestas da alma, que se vai infiltrando devagar e perigosamente até chegar ao último reduto, ao sítio que não pode ser manchado. Não é o medo em manchar-me até esse sítio que me mata, é o medo que nasce em duvidar se esse sítio é imaculadamente imperturbável mesmo depois da sombra marchar teimosamente e vezes sem conta sobre ele. Talvez haja alguma parte de nós que nunca morra. Talvez haja alguma parte de nós que nunca morra porque se mata continuamente, e continuamente se renova. Há qualquer coisa que me escapa e que não consigo exprimir-me. Há qualquer coisa que me separa da vida que todos levam todos os dias para um qualquer destino num qualquer canto do mundo. Deve ser porque prefiro estar parado quando toda a gente parece não dormir de um lado para o outro. Às vezes, no silêncio, ouço um som longínquo de uma realidade que se parece rir de mim. Podia rir-me também, mas permaneço à escuta. Quem sabe o que isso quer dizer.

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