terça-feira, 1 de abril de 2008

A Evolução segundo Agostinho da Silva

Quais são as principais diferenças entre os animais racionais e os irracionais? O Professor acha que nos somos a continuação de uns gatos com um bocadinho mais de inteligência, de cérebro e cerebelo...

Querido amigo, ninguém sabe. É evidente que pelo lado exterior, por aquilo que é possível averiguar em vértebras ou patas, temos que ver com os lémures de Madagáscar, por exemplo - e alguns bem pequenos e que parecem bem desinteressantes. Depois as coisas se foram desenvolvendo por aí e nem há certeza, hoje, de que o Darwin tenha razão, de que tenha havido evolução das espécies animais. O que pode suceder é que tenha havido várias criações sucessivas sobrepondo-se no tempo. Quando olhamos um filme de cinema podemos ter duas hipóteses: que foi o homem que estava com um braço em certa posição na fotografia A e que na fotografia B apareceu com outra posição; mas na realidade o que houve [foram] duas criações diferentes: a fotografia 1 e a fotografia 2. Pode ser que aquilo que o Darwin supôs que era a passagem de um animal a outro animal fosse a criação dum animal novo extremamente semelhante a outro e que podia ser tomado por homens como o Darwin como tendo tido uma evolução. Essa coisa é muito complicada...

Pois é. E nós, acha que saímos de uma linha de fabricação um bocado mais sofisticada [do] que os outros animais, só por causa disso?

Ó meu querido amigo, aí há uma coisa ainda mais importante do que isso: é que nós somos dos últimos animais que apareceram na Terra. A Terra já estava bem constituída, com os seus Terceário e Quaternário e essas coisas geológicas todas, e de repente aparecemos nós; e desde que nós aparecemos já há várias espécies de gente, de homens, que se podem classificar pelos restos que deixaram. Para não falarmos de outros mais antigos vamos falar do homem de Neanderthal. Parece que por análises da caveira do homem de Neanderthal é possível supor que ele já tivesse algum pensamento metafísico; depois o homem de Neanderthal desapareceu, aparecemos nós, com outra espécie de pensamento científico, mais umas técnicas que usamos para ir construindo a vida; mas como somos os últimos não podemos ter nenhuma ideia do que pode ser homem no futuro, como aqueles que ainda andavam a quatro patas, e já, segundo parece, raciocinavam, eram capazes de já ter alguma geometria elementar, desapareceram também. Eles, que ideia podiam ter do futuro de um homem de quatro patas? - que outros homens com quatro patas se portariam desta ou daquela maneira. Amanhã podemos, em lugar de braços, aparecer gente com asas.

Ah, era óptimo, eu adorava.

Não sei se era óptimo ou se não atrapalhava as companhias de aviação...

Se a gente não voasse muito alto era capaz de não haver problema... atrapalhavamo-nos era uns ao outros, não é?...

Não... meu querido amigo, a obrigação de um homem é voar alto - mas sem nunca perder a linha de terra. Temos que ter as duas coisas ao mesmo tempo: ter o chãozinho em baixo, tão objectivo e tão nítido como se fosse um mapa em relevo; e ao mesmo tempo voarmos alto. Uma só das coisas não é humana. Seria dum bicho adaptado ao chão só, ou adaptado ao céu doutro lado.



Conversas vadias com Agostinho da Silva

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