quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Biografias I - Agostinho da Silva

George Agostinho Baptista da Silva (1906-1994), entre nós conhecido como Agostinho da Silva, é um dos portugueses mais notáveis do século XX. Com um rigor e lucidez analítica únicos, Agostinho da Silva foi um dos mais brilhantes professores e pedagogos que Portugal já conheceu. O pensamento de Agostinho da Silva é cada vez mais actual, e a sua visão original e polémica é capaz de provocar espanto e admiração até nos mais jovens – em grande parte por causa das suas apuradas críticas em relação à escola que hoje temos e sobretudo em relação àquilo que deverá ser a escola do futuro para contemplar realmente o desenvolvimento do potencial de cada aluno em toda a sua plenitude. O maior dom de Agostinho da Silva talvez fosse mesmo a facilidade e a clareza com que conversava e se tornava compreensível às pessoas, dom esse que terá sido aperfeiçoado ao longo dos anos em que foi professor de várias disciplinas de história e cultura. Durante e após a conclusão da licenciatura na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Agostinho da Silva defendeu a cultura portuguesa e procurou aproximá-la de todas as pessoas: participou em revistas literárias como a Seara Nova, deu aulas em instituições públicas e privadas, deu palestras por todo o país, escreveu livros sobre os temas mais diversos (para além de estudos sobre história e cultura grega escreveu poesias, ensaios filosóficos, reflexões sobre religião, textos pedagógicos, traduções de autores clássicos, biografias de personalidades célebres que vão desde Pasteur a Da Vinci, etc.) e fundou Universidades e Centros de Estudos no Brasil, país onde viveu grande parte da sua vida. Para além do Brasil e Portugal, passou por outros países no decurso dos seus estudos e projectos culturais, como Espanha, França, Uruguai, Argentina, Japão ou Macau. Não se limitando à sua área de formação, falava quinze línguas e interessava-se pelos assuntos mais diversos: geometrias não-euclidianas e matemática fractal, física quântica, a evolução geológica do nosso planeta, entomologia, antropologia; em suma, a sua curiosidade incansável empurrava a sua inteligência em todas as direcções – era um verdadeiro espírito universal. No final da sua vida gravou uma série de entrevistas para a RTP, as “Conversas Vadias”, que o tornaram muito popular. Mas Agostinho da Silva não se deixava prender a modas: simplesmente tentava cumprir, o melhor que sabia, as ideias que lhe entravam na cabeça. Vamos a ver se neste século tomamos consciência de que muito do que ele disse era na verdade profecia; ou se, por algum acidente do caminho, ainda teremos de esperar outros séculos para que a verdade seja reposta.

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