quinta-feira, 31 de julho de 2008

as palavras nunca dizem o que somos.
o segredo da felicidade é não guardar segredos sobre nada.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

A Genialidade por Salvador Dalí



What do you think you've contributed to Art?
Al Arte, absolutamente nada.
Nada?
Nada. (...) Como digo siempre, soy muy mal pintor por la razón de que soy demasiado inteligente para ser buen pintor. Para ser buen pintor hay que ser un poco burro. (...) a menos Velázquez, que es un genio que pasa de mucho el acto pictórico... y a la vida, pués le debo todo; porque el día que Dalí hiciera un cuadro bien hecho como Velázquez o como Vermeer, o como Raphael; o una música como Mozart, en la semana siguiente el se muere. Entonces, yo prefiero hacer cuadros malos y vivir más tiempo.


agradecemos a preciosa contribuição do linguista d. na revisão desta fixação da entrevista de Dalí.

Fascinam-me muito mais as pessoas mais novas. Há qualquer coisa no mundo que corrompe as pessoas à medida que vão crescendo. Possivelmente será o contacto com outras pessoas. Certamente será o contacto com pessoas mais velhas. Quando alguém pensa que já sabe tudo, torna-se velho. A maior parte das gentes que encontrei por aí são velhos dos pés à cabeça. Os mais perigosos são aqueles que se vestem com roupas de gente nova para esconderem a velhice que têm em cima. É preciso despir as pessoas para não ter surpresas desagradáveis.
Se algum dia me fizerem uma estátua será certamente sem o meu consentimento.
o amor é eterno, a relação é temporal.
até na cama, e especialmente aí, são as pessoas iguais a elas próprias.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Detesto a subserviência com que algumas pessoas se cobrem somente para poderem esconder de si aquilo que não querem dar aos outros. Detesto de igual modo a superior arrogância daqueles que tomam essa subserviência nas mãos como um dado adquirido e monopolizam para si toda a importância e validade lógica dos seus pretensos raciocínios lógicos. Mas o que mais detesto, e mais ainda que estes dois casos anteriores, é a miséria em que estão afundados aqueles que não sentem uma ponta de estranheza por isto ser tudo assim quando o é.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

o individualismo é uma extensão natural do desenvolvimento cultural da humanidade. O homem só pode ser plenamente o que é a sós, livre da influência que as ficções sociais exercem sobre ele no contexto social em que vive. O que é prejudicial é que só exista o individualismo. Mas o que nós temos que ver é que não há outra solução para que o potencial de cada um se cumpra senão passar pelo individualismo. Exactamente como defende Pessoa na sua obra O Banqueiro Anarquista, basta que o homem se situe num contexto colectivo para que se estabeleça uma subtil ditadura, mesmo que as intenções de cada um desses homens que formam o colectivo possam ser puras. Temos, portanto, que trabalhar incansavelmente para o avanço da humanidade a sós connosco, e procurando libertar-nos de toda e qualquer ficção social que possa atrasar o cumprimento da revolução anarquista.

Por outro lado, dadas as características da sociedade em que vivemos, os agrupamentos sociais poderiam ter muito mais força mobilizadora do que a força individual. Assim, propõe-se que as próximas revistas literárias que surjam no meio intelectual, ou qualquer outro mecanismo que tenha como ideal máximo a liberdade absoluta, sejam construídos pela única e exclusiva contribuição individual de cada um dos seus intervenientes. A união deve existir em espírito, não na prática. A única coisa que é realmente necessária para que a contribuição individual de cada um se possa fazer ouvir é que exista alguém honesto que colija, imprima e distribue os panfletos libertários. E quando nós falamos em congressos científicos já estamos a ter um vislumbre de uma situação que terá de ser mais bem cultivada no futuro.

sábado, 26 de julho de 2008

a competição é a maneira mais rápida de atingir a comunhão.



Um dia, quando a Biologia, e especialmente a interessantíssima área da Sociobiologia, estiver mais desenvolvida, vamos chegar à conclusão de que todos os seres, em todos os momentos, tendem para a comunhão, e não para a competição. Como advoga a Professora Lynn Margulis, a sobrevalorização da competição em detrimento da comunhão deve-se essencialmente à tacanhez do espírito humano, pois encontra-se este no mundo em que hoje vivemos impregnado de terríveis conceitos e princípios económicos, na sua maioria capitalistas, e que minam todo o pensamento que se quer perfeitamente científico. Aliada a esta deturpação dos fenómenos que leva ao menosprezo dos processos simbiogénicos, está a pretensa atitude ateia, tantas vezes escorregando no antirreligiosismo, e que não deixa de ser mais uma forma de fanatismo religioso disfarçado com equações matemáticas. Curiosíssima é a constatação de que até o próprio Darwin, tantas vezes apontado como o sacerdote do "salve-se quem puder" social, deixou claro nos seus escritos, num prenúncio que até se poderia classificar como poético, que a divergência das espécies mais parece mostrar que elas são avessas a essa mesma competição: divergindo, isto é, modificando-se, podem passar a especializar-se de modos diferentes e ocupar diferentes nichos ecológicos dentro de um mesmo ecossistema, evitando a todo o custo esse peso que é ter de competir com o seu semelhante por alimento e espaço.

a vida é um trade-off

a vida é um trade-off, e é por isso que é importante ser um bom comerciante.
No Country for Old Man é um péssimo filme, e só deverá ser superado pelo livro que lhe serviu de suporte. Ou isso ou alguém conseguiu estragar um livro mediano. Na verdade, esse filme é um grande monumento à cultura light que hoje temos: espreme-se a laranja seca para ver se sai sumo, mas não corre nem uma pinga. Até os romances do Saramago são melhores que esse filme. Pelo menos têm, ainda que não seja transcendente, algum conteúdo.

o Artista

o Artista não escreve para ninguém, senão para ele próprio. Prova disso é que ele apenas usa a sua língua.

o Artista escreve para que todos o leiam. Prova disso é que ele arranja todos os meios para que as pessoas leiam aquilo que escreve.

o Artista, se é Artista, não pede permissão a ninguém. Nunca a imaginação pediu permissão para se expressar.

o videoclip: elemento de uma estética superior

porque será que conseguimos sentir no videoclip algo que escapa às restantes estéticas? Deve haver certamente algo mais no videoclip que faz com que ele seja um elemento estético superior. Debruçando-me um pouco sobre o assunto descobri por meio de um insight o que era esse algo. No videoclip, assim com o não acontece em nenhuma outra forma de expressão estética, três elementos completamente diferentes concorrem para o mesmo ponto: a letra, que é um texto construído a partir da linguagem escrita; a imagem, que é uma construção feita a partir dos estímulos visuais que podemos receber dos objectos do quotidiano; e a música, que é uma composição construída a partir de vibrações sonoras. Cada um destes elementos possui uma natureza diferente e não sobreponível, incomensurável. Mas o que é admirável é que, quando juntos, a interacção de uns com os outros transcende a sua própria condição singular, transforma essa condição singular em algo mais, revela propriedades emergentes únicas, e as redes semânticas e os jogos semânticos que se criam transcendem a própria semântica de cada um dos elementos isolados.


Experimental evidences (interacções):

- O texto escrito é musicado, e portanto o ritmo da música imprime no texto falado (notar que o facto do texto escrito passar a falado já faz com que este se transforme em música, e, portanto, em vibração) uma nova cadência, uma cadência que pode levar a que o original significado das palavras, ou o original significado que as palavras tinham no texto, seja dilatado ou contraído (estendendo a sua importância, ou escolhendo-a); a ênfase modifica-se - mas o que é importante notar é que esta nova ênfase não destrói a anterior, antes se constrói em cima da outra, e portanto o resultado final é um edifício com vários níveis semânticos, que dependem da capacidade do analista para compreender e para ver essas interacções, as subtilezas que transcendem a condição finita do texto. Como as palavras são, cada uma delas, um símbolo a sós, apoiamos este arrazoado nas análises de Eliade: os símbolos podem adquirir novos significados dependendo do contexto cultural, mas não perdem os seus significados mais ancestrais; são aliás esses que fundamentam os actuais. A matriz cultural, a mais ancestral, permanece.

- A conexão entre imagem e música pode não ser tão óbvia, mas se dissermos que a imagem apresenta movimento então aí já é possível haver uma conexão, e bem vincada, com a música. O movimento, a alteração de posição de determinados objectos, pode ocorrer a vários ritmos, do mais rápido ao mais lento. De igual modo, a música também pode correr a um ritmo mais rápido ou mais lento, dependendo do compasso que se segue. Portanto, assim como na interacção entre letra e música, a imagem (ou imagem em movimento) e a música podem interligar-se de tal forma que as duas se tornam interdependentes, não fazendo sentido quando isoladas - como argumento veja-se o excelente videoclip Star Guitar dos Chemical Brothers.

- A conexão entre imagem e letra pode parecer mais difícil dada a sua substancial e diferente natureza, mas é possível compreender de que forma é que as duas se interligam se analisarmos alguns aspectos que têm em comum. Ambas são símbolos físicos, a letra escrita e o objecto que serve de suporte à imagem; ambas servem como representação de alguma semântica; ambas são partes integrantes do nosso dia-a-dia. Na verdade, a imagem pode apoiar a palavra reforçando o seu significado, estendendo ou encurtando a sua ênfase, ou mesmo acrescentando outros efeitos de sentido, assim como na interacção entre música e letra. A imagem pode tornar-se no símbolo físico tornado abstracto de uma realidade concreta descrita pela palavra. De qualquer modo, transcende-se uma vez mais a condição de ambas. Sobre este jogo semântico poder-se-á ver, a título de exemplo, e sobretudo enquanto sólido argumento, a interacção entre palavra e imagem no filme Os Sonhadores de Bertolucci.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Dear Prudence, won't you open up your eyes?

A imaginação é a memória que enlouqueceu.
(Mário Quintana)


a imaginação é memória porque não existe nada a que chamemos imaginação que não se encontre primeiro na nossa memória. A imaginação não tem nada de verdadeiramente original, trata-se apenas de uma reorganização dos elementos (das partes) com as quais já tivemos contacto, assim como a imagem de um pégaso resulta da combinação de dois elementos perfeitamente banais que já existiam na imaginação: um cavalo e umas asas. A combinação de diferentes partes é mais sublime quando a loucura se apodera de nós, ou quando a ela estamos mais receptivos. A desordem é a força motriz da imaginação. E a imaginação só não é memória quando de uma nova combinação surge uma propriedade completamente diferente, um princípio emergente.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Tudo o que fazemos é pequeno demais para tudo aquilo que sonhamos.

because love is all, love is new



a provar que ainda há quem faça autênticas obras de arte, está este magnífico Across The Universe inexoravelmente marcado na minha cabeça. E em tudo aquilo que a cabeça transcende.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Apologia ao surfista

o próximo ensaio a ser construído será a Apologia ao Surfista e nele irão constar todos os argumentos que existem, e que são cada vez mais válidos nos tempos que correm, em defesa dessa grande arte que é ser surfista. Segue aqui um pequeno excerto para abrir o apetite a quem quiser.


Se outrora foi Portugal reino de grande e abundante navegador que, apesar de analfabeto e sem saber declinações latinas ou diálogos gregos conseguiu cruzar os oceanos que separavam o mundo e unir as terras que havia separadas, hoje, diremos nós, é o nosso Portugal tão digno de reverência como esse das glórias passadas; e tudo se deve, ainda, à magnífica costa e às belíssimas praias que doiram a orla das suas vestes. Que esse minério precioso que tanto general espanhol cobiçou fosse valioso; que essa talha que orna o altar-mor da basílica de S. Pedro seja digna de admiração; que os tesouros de Versailles sejam de um luxo sumptuoso que pasmou príncipes e princesas; nada disso pomos nós em causa; mas a verdade é que nenhum desses tesouros, já de si tão grandes e elevados, se compara ao ouro verdadeiro das areias do nosso Portugal. Curiosa afirmação esta, poderá pensar o incauto leitor que deve reverência, assim como todos nós, aos ombros dos gigantes do passado nos quais nos sentamos ou alegremente nos empoleiramos para ver mais longe; curiosa afirmação que vota todas essas criações da natureza para um patamar inferior ao da vulgar areia de qualquer praia portuguesa; é esta, porém, afirmação ponderada e em tanto verdadeira como o leitor verá já de seguida.

Elogio ao Surfista (inédito)
a vida é o poço onde todas as contradições são reais.

strawberry fields forever

domingo, 20 de julho de 2008

vivo só em minha casa, mas tenho uma janela voltada para o mundo.

I only live in my house, but my window sweeps across the universe.

sábado, 19 de julho de 2008

Porque é que o programa de Português é hoje obsoleto?

Quando eu era aluno do secundário, uma das poucas coisas que me agradava era o modo como o programa de português estava construído. Do 10º ano ao 12º tudo fazia sentido: começava-se pelos inícios da literatura, ou do registo escrito, que está na tradição oral dos contos populares; caminhava-se então para o nascimento daquilo a que academicamente se pode chamar o registo escrito português ou galaico-português, que dança para os lados dos cancioneiros medievais com as suas cantigas para amigos, amores e escárnios; passava-se pela história da literatura como pelo contexto histórico na qual surgiu, e do qual depende, irredutivelmente, tal como a ciência e todas as outras formas de arte. Depois do grande Gil Vicente, renascia-se no gosto pela cultura grega que mostrava em Camões e em tantos outros o seu brilhantismo; passava-se, já no 11º, pelo Barroco desse gigante que é Vieira, pelo Neoclassicismo que transita das Arcádias para o nosso Bocage, caminhando inevitavelmente para a natureza do Romantismo que encontrou em Garrett sua expressão portuguesa, e sem esquecer o grande contributo de Herculano para a história nacional. Hercúleo também fora o nosso Eça com suas descrições realistas exímias, Ortigão com as suas Farpas bem cravadas na moral das consciências; e impressionando subjectivamente, o nosso Cesário que abria caminho a todo esse desenvolvimento cultural do século XX, palco de profundas transformações. Todo este passado glorioso e riquíssimo em cultura tem vindo a ser trucidado pelas políticas educativas - que tanto têm de educativo e tão pouco de instrutivo. Para ter uma noção do anacronismo que é o actual programa de português, pegue-se no 12º ano, e analise-se aquilo que é exigido decorar pelo Ministério de quem lá manda.



PROGRAMA DO 12º ANO

"Textos informativos diversos"
- WTF is this?? E o que é que isto faz aqui?!

"Textos líricos" - Fernando Pessoa ortónimo e heterónimos
poesia do século XX. modernismo. monarquia. república. ditadura

"Textos épicos e épico-literários" - Camões e Pessoa: Os Lusíadas e Mensagem
ah a Mensagem é um texto épico? Olha a grande novidade! ficava melhor se dissessem que era um texto mítico, porque é justamente isso que representa. Metemos então no mesmo saco a análise a uma obra sobre o passado, como o é a do Camões, e a análise a uma obra sobre o futuro, como o é a do Pessoa. Deve ser engraçado tentar comparar coisas que não podem ser comparadas. Dois contextos históricos completamente distintos, separados por cerca de 400 anos... Duas obras completamente diferentes.

"Textos de teatro" (de teatro ou dramáticos?) - Sttau Monteiro, Felizmente há luar!
portanto, uma peça de teatro épico no contexto de século XX; clima de oposição à ditadura salazarista que faz um paralelo com os episódios da ocupação inglesa do pós-napoleão no século XIX; tudo isto sem um fio condutor que o organize, sendo apenas uma sucessão descoordenada de momentos, personagens e ideias

"Textos narrativos" - Saramago, Memorial do Convento
que é uma narrativa também do século XX, mas contando uma história que se passa por volta da centúria de setecentos, numa linguagem completamente diferente daquilo a que estamos habituados; e mais uma vez totalmente descoordenada da contextualização histórica e de uma análise evolutiva que são a única maneira de compreender realmente uma obra...

Em jeito de balanço...
Temos, portanto:
- uma obra do século XVI inserida no Renascimento: Os Lusíadas
- uma obra do século XX que se reporta ao século XVII, Barroco: Memorial do Convento
- uma obra do século XX que se reporta ao século XIX, entre as invasões francesas e as guerras liberais: Felizmente há luar!
- uma obra do século XX entre monarquia, república e ditadura: Mensagem

e é então exigido que os professores ensinem num só ano o significado das estéticas renascentistas, que falem dos Descobrimentos, de D. João II, da estética do Barroco, de D. João V, da passarola (e inovações científicas), das invasões francesas de oitocentos, da ocupação inglesa, do absolutismo e da ditadura, da queda da monarquia, da instauração da república, da ditadura salazarista, do sebastianismo místico e do V Império, de Pessoa e dos heterónimos, do século XX e da actualidade do prémio Nobel da literatura?!?!?! O Ministério de coisa alguma deve pensar que os professores são sobre-humanos para conseguir explicar tudo isto num só ano; e que os alunos são sobre-dotados para conseguirem compreender tudo isto num só ano, e ainda por cima decorar o que irão vomitar no tão badalado Exame Nacional. Portugal é um portento, realmente! Claro que nenhum destes tópicos é explorado numa perspectiva evolutiva, apenas exposto acriticamente de um ponto de vista pseudoliterário e limitado. É isto que é a educação em Portugal, já nem sequer se toma atenção à evolução da cultura e do pensamento. Estamos enterrados em papas amorfas cada vez mais nebulosas que só podem levar ao desinteresse dos alunos por temas em que, de outro modo, poderiam tirar sublime prazer em disfrutar. Esta situação não é só estúpida, é vergonhosa; e mais vergonhosa ainda é a atitude daqueles que não fazem nada para gritar a sua indignação contra este atentado ao que resta da cultura portuguesa. Hoje tiram-nos o contexto histórico para que nos esqueçamos de tudo o que houve e de todos os erros que foram cometidos, amanhã tirar-nos-ão a liberdade de ser português em todos os múltiplos aspectos da nossa identidade única e universal.

MAS ENQUANTO HOUVER UMA VOZ A CUSPIR CONTRA AQUELES QUE QUEREM DESTRUIR A CULTURA PORTUGUESA A BATALHA TERÁ SIDO VENCIDA E A GUERRA ESTARÁ UM PASSO MAIS PRÓXIMA DA VITÓRIA
Para sobreviver no mundo temos de recorrer muito mais à nossa sensibilidade estética do que ao nosso raciocínio lógico-matemático. Mesmo se estamos numa área científica.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

quinta-feira, 17 de julho de 2008

life is too simple for people not complicate it.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

por um qualquer processo místico que desconheço, a verdade aparece-me enquanto falo com alguém. Talvez seja porque quem fala, quando me perguntam algo, não seja eu, mas uma outra realidade (talvez ela a única real) que não se pode privar de se expressar livremente e da melhor maneira que lhe convier.
O ateísmo é uma outra forma de religião. É a religião daqueles que acreditam que não existe um deus.
Uma obra de arte não é bonita. Ou é bela, ou não é.
todo escritor, porque é escritor, vive atormentado com alguma coisa. Se não vivesse atormentado, o que teria para escrever? Quem contempla o mundo como ele é não escreve coisa nenhuma. Não precisa de escrever. Aceita o mundo como é, e contempla. O escritor não tem sossego. Sente que alguma coisa, algures, talvez num passado distante, num passado tão distante que nem sequer se pode dele lembrar sem tremer, algo correu mal. O escritor vive na ânsia de que a escrita possa calar esse desassossego, embora saiba que é impossível. É por ter consciência da impossibilidade da sua condição que ele escreve. Se não conseguir encontrar esse algo que foi perdido, pelo menos pode pôr outros à procura...

terça-feira, 15 de julho de 2008

Já por diversas vezes tenho reparado que quando o contador diz que duas ou mais pessoas (duas ou mais, mas nunca muito mais que isso) estão visitando a página, quando procuro conhecer de onde vêm aparece a mensagem pomposa de que afinal ninguém o está visitando. De facto, é motivo de regozijo: se se quer fazer alguma coisa grande tem que se ser completamente desconhecido, uma nulidade à vista de toda a gente. Só depois é que se pode chegar ao céu.

para ser grande, sê inteiro

A favor do acordo ortográfico

Se bem que não seja uma prioridade face a tanto outro domínio que necessita tão mais urgentemente de ajuda, a implantação de um acordo ortográfico entre os países da comunidade lusófona seria algo muito interessante para os destinos do mundo. Não faz sentido que o português seja a língua oficial de tanto país e os seus habitantes não se consigam entender porque as grafias não batem certo umas com as outras. Não encontrei ainda nenhum argumento válido que justificasse a manutenção da actual grafia. Se formos ao princípio do século XX, ainda em Portugal se escrevia pharmácia ou bello. A função da língua é facilitar a comunicação, não dificultá-la. A utilização desta ou daquela grafia é apenas uma questão de hábito. A língua evolui como qualquer ser vivo, de acordo com o uso que os poetas lhe dão e também de acordo com o uso que as pessoas lhe dão todos os dias. A língua escrita deve ser intuitiva e facilitar a transcrição daquilo que se diz para aquilo que se escreve. E como já vários o defenderam, e ainda defendem, a grafia brasileira é muito mais prática que a portuguesa - vamos até substituir aqui o prático, que pode ser entendido apenas numa perspectiva capitalista, por outra palavra: diremos que a mudança de grafia torna muito mais intuitivo o modo de escrever. Se o cê de exacto não se lê, para quê escrevê-lo? Exatamente. Se o cê de facto se lê, então mantém-se o facto. Portugal e todas as comunidades lusófonas só têm a ganhar com o facto de se uniformizar a língua para a simplificar: este pode ser o primeiro passo para uma maior aproximação de culturas lusas que do tanto que têm em comum apenas muito pouco têm acarinhado. Além do mais, as grafias das palavras só desaparecem quando as pessoas não as quiserem escrever, não é assim? Elas podem manter-se comodamente como estão num tom mais literário ou erudito; mas para o quotidiano não fazem sentido. E a tendência segue naturalmente a simplificação, não num sentido económico, embora também o exista; mas sobretudo num sentido lógico. Deixemos o exacto para os literatos e filólogos: exatamente escreve-se tão bem como quando lhe púnhamos o cê, e percebe-se melhor. Então para quê complicar? Segue em frente como se diz e já está!
Quando escrevo, escrevo para contrapor àquilo que já foi escrito. Uma das maiores missões é a de encontrar nos outros os erros que, segundo nós, nos parecem saltar para o centro e minar o perfeito cumprimento da centelha do divino que em nós vive. As lisonjas nunca ajudaram ninguém. Só a crítica pode mostrar aos outros o que falta ainda conquistar, a aresta que urge limar. É pela crítica que nos vamos aperfeiçoando.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Nos tempos que correm até a digníssima arte da representação é manchada por meia-dúzia de rapazes imberbes e raparigas inúteis que alimentados por promessas ocas e vãs de fama fácil pela vida fora saem disparados de agências de modelos e vão para capitalistas estações de televisão que só obedecem a uma e mais nenhuma lei, na verdade a pior de todas, a lei dos mercados e dos mercadores.

domingo, 13 de julho de 2008

I'm feeling...


este é certamente o melhor cartaz de todos os tempos...

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Vladimir Bukovski já viveu no nosso futuro



Não posso deixar de mostrar o testemunho de alguém que sabe realmente do que fala: Vladimir Bukovski viveu na pele aquilo que a URSS conseguiu, e traça agora interessantes pontos de contacto entre as duas ideologias.

1- Tudo aquilo que pode degenerar ou decompôr-se parece fazê-lo.
2- Todas as acções que são na sua origem bem intencionadas podem ser deturpadas e aproveitadas para favorecer o benefício pessoal e egoísta à custa da liberdade de cada um.

A evolução da história é algo extremamente interessante. Ela parece funcionar por ciclos. Primeiro vem a paz entre os povos. Depois, alguém começa a ter ideias de poder e de mando e começa a restringir as liberdades. Mais tarde ou mais cedo, impõe-se a tirania. Restringem-se então todas as liberdades. Passamos a viver no medo. São cometidas as mais gritantes atrocidades. Forma-se um Imperador, que passa a governar um Império. O Império tenta anexar todos aqueles que o rodeiam. Tenta converter tudo aquilo que é diferente do Império em algo igual ao Império. O Império expande-se e conquista. O Império cresce desmesuradamente até não poder crescer mais. Como esse Império não tem base sólida, assim que pára de crescer toma consciência de que não tem capacidade para se auto-regular. O Império se desmorona, sempre pagando mais os que dele são prisioneiros. Formam-se grupos de oposição e estalam guerras por todo o lado. Até que, um dia, o Império morre. E depois recomeça outro governo de paz que desemboca noutro Império. Tem sido assim desde sempre. E pessoas lúcidas já começam a traçar correlações entre o Império Americano que hoje existe, que é o Império Capitalista, e o Império Romano. Na verdade, o Império Americano não é mais do que o desenvolvimento do Império Romano até a um nível tecnológico extremamente poderoso. E talvez se descubra, daqui a algum tempo, e se calhar nem tanto quanto isso, que a profecia bíblica de Daniel estava correcta, e que é este o único dos Quatro Grandes Impérios que falta ruir para dar origem ao Quinto e último, como tanta gente já previu e, sobretudo, tanto português já sonhou.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Birth



Não me lembro de ter alguma vez visto um filme em que houvesse uma simbiose tão perfeita entre som e imagem, diálogo e significado, símbolo e mensagem, como este Birth. Não é totalmente perfeito apenas porque podia ir mais longe na história do que aquilo que vai; mas não deixa, contudo, de ser uma excelente obra de arte.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Já estive com muitas pessoas. Já estive com pessoas que tinham muita educação, e já estive com pessoas que tinham muito pouca. Mas de todas as vezes sempre ressaltou a mesma característica que uns e outros tinham bastante presente e demasiadamente vincada: a tacanhez do seu espírito. Seja entre aqueles que pensam que sabem muito, ou entre aqueles que pensam que sabem pouco, parece existir sempre uma barreira, que é sempre uma barreira mental, e que vive impedindo as suas mentes de se abrirem à contemplação daquilo que é realmente grande. Tanto nuns como noutros encontrei a formatação precisa daquilo que a si próprios impuseram: os seus amigos falavam como eles, pensavam como eles, sentiam como eles. Todos eram os mesmos robôs caminhando por um mesmo passo ao sair de uma e a mesma fábrica. Quem não fosse como eles, só podia sobreviver de uma maneira: ou se tornava igual a eles, vivendo o mesmo estilo de formatação para o resto da vida e vendendo o resquício de liberdade que soçobrasse ao claustro das frases feitas; ou então tornava-se diferente deles, e para sempre tão diferente que era impossível granjear-lhes a amizade, já para não falar da confiança, estando eternamente condenado, qual Sísifo errante, a errar também, sozinho, pelas planícies do desconhecido. Agora que me dou conta, noto que sempre escolhi o segundo caminho, e que outro caminho não haveria para mim se quisesse ser aquilo que realmente sou. Se lamento tê-lo feito, isso nunca, porque está escrito que o caminho da liberdade se caminha a sós consigo, e não há outra maneira de nos tornarmos conscientemente, e pelo desenvolvimento das nossas próprias capacidades inatas, a chama celeste que um dia escolheu como morada, ainda que provisória, esta terra que por agora ainda pisamos.

O filme é grandioso quando transcende o símbolo que o representa


















Filosofia - O Clube dos Poetas Mortos (1989)






















Música - Mr. Holland's Opus (1995)






















Literatura - Dangerous Minds (1995)






















Pintura - Mona Lisa Smile (2003)
Todo o realizador de cinema ou mero crítico tem de ser instruído na arte da representação. Não é possível dirigir actores numa peça, seja ela filmada por câmaras ou não, se não se sabe o significado da palavra representação. O realizador tem de sentir aquilo que o actor sente para poder criar uma peça de teatro autêntica, ou um filme que viva e respire como algo verdadeiro. A matriz do cinema é o teatro. Não é possível ser-se autêntico sem compreender o que está na matriz. O crítico de cinema precisa de ser instruído na arte da representação por, sobretudo, duas razões: primeiro, para saber o que é o sentimento e o que é sentir, e não se esquecer de que a intensidade dramática das personagens é apenas o meio pelo qual elas comunicam entre si e se tornam comunicáveis a todos; segundo, para compreender a intensidade que a palavra pode ter, não como elemento dramático ou representação de uma emoção, mas sim como símbolo de uma realidade conceptual, de uma mensagem que se cumpre pela palavra apenas para se tornar inteligível; de um signo limitado e finito que representa uma realidade infinita e abstracta, e que é a única coisa pela qual vale a pena produzir uma obra de arte.

domingo, 6 de julho de 2008

Um filme não é proporcionalmente grandioso à intensidade dramática dos actores, apenas à mensagem que representa.
A diferença entre o comum mortal e o artista é que o artista tem consciência da poesia que há no mundo. A diferença entre o artista e o criador é que o criador não só tem essa consciência como também a perpetua criando a poesia e sendo essa mesma poesia que cria: sendo poeta e poema num só.
At least till now, all experimental evidences and cases of study point out that irish culture is much more diversified and interesting than british culture will ever be. On that account, we must profoundly welcome british dominion for being such a great driving force in inciting the expression of a nation's most wonderful imagination by the development of witty and freed personalities.

Are you not convinced? Let's take a look, shall we?

- Oscar Wilde was irish
- James Joyce was irish
- Samuel Beckett was irish
- Róisín Murphy is irish
- ...
O filme, ou a experiência cinematográfica, (que é a única coisa que podemos avaliar: é impossível anular a influência da nossa personalidade na observação de um acontecimento), vale enquanto símbolo ou representação de uma mensagem que transcende o que há no filme de físico e limitado. Portanto, a grandeza dum filme é tanto maior quanto maior é a sua mensagem e o desejo de se tornar mensagem inteligível e contribuir para o avanço da humanidade. A arte cuja função não ultrapassa uma simples contemplação estética da obra física (e não do símbolo) é pura masturbação intelectual e pode ser descartada a qualquer altura sem perigo de detrimento para o observador.

sábado, 5 de julho de 2008

Toda a filosofia que não tenha em conta os mais recentes desenvolvimento científicos é uma filosofia ultrapassada. Se é certo que a filosofia nada pode contra a verificação experimental científica, a verdade é que a ciência pode resolver e já resolveu várias controvérsias filosóficas que surgiram ao longo da história. Conseguimos apontar como exemplos o desenvolvimento da bomba de vácuo e a confirmação experimental de que o vácuo existe - que ele existe, já o sabemos; falta agora saber qual a sua natureza - , os estudos sobre histeria de Charcot e Breuer que mostram ser verdadeira a existência de uma dimensão psíquica que está para além do estado consciente humano, o desenvolvimento de uma termodinâmica assente na ideia de que a entropia do universo cresce sempre em qualquer reacção espontânea e, talvez a mais badalada e importante de todas, especialmente no contexto histórico em que vivemos; a ideia de que a competição entre indivíduos existe e é necessária para a evolução da espécie - que aliás está na base do desenvolvimento da economia capitalista, sobretudo, e que fez surgir outras formas de pensar a economia, como aquelas que ficaram conhecidas por comunismo. Da filosofia pode a ciência aprender a maneira como resolver os impasses racionais a que chega, tanto pela crítica às conclusões que podem ser elaboradas a partir de um resultado experimental como pela consciência dos processos dialécticos de inspiração marcadamente hegeliana que orientam e estruturam a sua evolução conceptual. Mas, de facto, se o filósofo pretende construir um sistema que lhe permita entender como funciona esse éter inominável que liga as diferentes partes de um mundo indiviso, tem forçosamente de olhar para a ciência como fonte das observações e premissas a partir das quais poderá ser reconstruída uma saída, um caminho a direito, para que a humanidade possa evoluir até ultrapassar as mais utópicas idealizações que nos possam discorrer pela mente.

terça-feira, 1 de julho de 2008

toda a poesia inglesa me sabe a pouco mal oiço a portuguesa
queres mudar o mundo, vai para poeta - pode ser que morras.