sexta-feira, 9 de março de 2007
não me parece que o mundo tode gire à volta das profecias maias, ou das profecias de Nostradamus, ou seja de quem for, mas, de facto, é interessante notar em vários acontecimentos que se têm vindo a manifestar no nosso tempo, e que merecem a nossa reflexão por ser possível traçar determinados padrões específicos nos quais esses acontecimentos se encaixam. A questão ambiental é um deles. Tem havido uma crescente consciencialização acerca do papel do nosso planeta e dos seus processos intrínsecos que são tão fundamentais à nossa vida, para não falar da vida de tudo o mais que cá existe. Essa consciência surge devido às duas grandes guerras que vivemos, à descoberta da bomba atómica, à descoberta da radioactividade, da utilização de minérios radioactivos para produção de energia e à procura de soluções para eliminar os resíduos que deles resultam... a chegada do homem à lua também teve o seu papel, isto é, começam a surgir as primeiras imagens de satélite acerca do planeta, o planeta passa a poder ser visto do espaço, passa a poder ser contemplado, e é preciso notar que esta noção de que temos do nosso planeta ser "o planeta azul" vem dos anos 60 da última década, isto é, nem 50 anos nos chegam a separar entre uma situação e outra, e tudo isto está relacionado com um sentido estético, com um sentido de contemplação da beleza que há no mundo natural, e com a descoberta, também, do DNA como sendo a molécula que transporta a informação genética dos seres vivos - e aqui está outra descoberta que ainda nem um século tem; portanto, tratam-se de fenómenos recentes, e é assim que devem ser considerados. Os avanços, sobretudo na área da genética e regulação de processos, os avanços na ecologia, os desastres ecológicos - não só da bomba atómica, mas também por causa da revolução industrial, a poluição, o desenvolvimento dos plásticos a partir do petróleo, o desenvolvimento da indústria petrolífera, o crescimento das cidades, a crescente produção de resíduos, enfim, um sem-número de factores concorre para isto que temos hoje, e não nos devemos basear apenas em profecias disto ou daquilo. O que a profecia maia - e aqui dizemos maia, mas podíamos dizer cristã, ou podíamos dar o nome de muitas outras, isso não está em causa nem interessa - nos diz é que o mundo vai mudar. Ora, mas o mundo está sempre a mudar, o problema é que o mundo vai mudar pela passagem por uma série de cataclismos, ou de catástrofes, e isso encontra paralelo com algumas ideias que se têm vindo a desenvolver, como a Hipótese Gaia proposta por James Lovelock no contexto da Ecologia, isto é, a noção de que a Terra, enquanto planeta, é uma imensa teia (olhem, como a internet) de interrelações que se encontram todas ligadas entre si, e umas influenciam as outras. Mas não só na ecologia, há conceito interessantíssimos na Matemática e na Física a emergir, o conceito de fractal, por exemplo, ou o conceito do efeito borboleta, a teoria do caos, a própria interpretação dos fenómenos face à teoria da relatividade, os avanços na Termodinâmica, os conceitos de entropia e neguentropia, são tudo noções que subvertem as noções já instituídas e tomadas como certas e verdadeiras (será que o próprio Teorema da Incompletude é o expoente máximo de tudo isto?), tudo isto indica que estão a ocorrer imensas e intensas revoluções, e catástrofes, e cataclismos ao nível das ciências, mas também ao nível das artes, do ambiente, das sociedades, do mundo. O que é preciso é ver tudo isso como fazendo parte de um todo, porque o mundo é um todo, não é apenas umas pequenas partes todas somadas que dão um grande conjunto de partes, e, mesmo agora, já se vai tendo essa noção na Ecologia, isto é, já se vai percebendo que quanto maior é o nível de complexidade de um sistema, quanto mais variáveis estão em jogo numa equação, quantos mais elementos e maior a sua riqueza, a sua especificidade intrínseca, surgem propriedades especiais, interessantes, que não estão presentes em nenhuma das partes separadas. Este facto, só por si, já é extraordinário - então de onde nascem essas propriedades, será que elas já estão contidas nas partes mas precisam do meio certo para se desenvolverem, será que só quando todas as condições estão reunidas é que se podem expressar os altos e complexos e verdadeiramente inteligentes potenciais mais remotos, inconscientes e absolutos? Talvez seja isso que a vida nos quer mostrar, mas, de qualquer forma, cá estamos nós vivendo o nosso dia, um de cada vez, e descobrindo as surpresas que o hoje nos reserva.
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