terça-feira, 6 de março de 2007

quando penso na habilidade com que os Antigos pensavam e recriavam o mundo, nas suas inovações técnicas, não posso ficar menos que abismado. Como é que com tão pouco ao seu dispor eles puderam fazer tanto, uma quantidade infindável de coisas interessantes e, por vezes, que requerem uma destreza tão fina, uns movimentos tão precisos, que mesmo nós com a nossa tecnologia temos dificuldade em executá-las... os modos de transmissão de conhecimento eram diferentes, e os saberes passavam de mestre a ajudante, como manda a Tradição, e o conhecimento era mantido por sucessões de gerações. Mas agora vieram as fábricas e os automóveis, a produção em série e a cibernética, a robótica e a electrónica, e o primeiro sai igual ao segundo, e tudo deixa de ser único para ser pré-feito, pré-fabricado, pré-comprado e, por vezes, pré-vendido. Não se faz nada de original, o que temos é uma cópia da cópia que foi copiada - mas não por uma pessoa, por uma máquina, precisamente, de forma igual, com a mesma altura e a mesma largura, a mesma estatura e comprimento, os mesmos átomos e a mesma resistência, os mesmos moldes e os mesmos polímeros. Onde é que haverá nesta sociedade tecnológica, nesta sociedade que vive, que se alimenta da tecnologia pré-fabricada, espaço para a originalidade, para a produção individual, para a espontaneidade, para o relógio que não anda e o tempo que não passa? Talvez na ciência esteja a resposta. Talvez mesmo o molde não seja sempre exactamente igual ao último que foi usado, talvez que o imprevisível sempre possa ocorrer e fazer variar as condições da experiência, talvez seja possível medir o contributo imperceptível da flutuação sinusoidal que a probabilidade de ocorrência de erros aleatórios e gerados pelos humano provoca, talvez as oscilações invisíveis da matéria possam ainda fazer das suas e trocar-nos as equações matemáticas, talvez um mais um não seja igual a dois. E, se assim for, teria que se reescrever toda esta matemática.

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