segunda-feira, 5 de março de 2007
Cartas a um Jovem Filósofo II - ainda a questão entre a tradição e o progresso
A obra O Sagrado e o Profano é um autêntico estudo antropológico acerca dos arquétipos que figuram no imaginário (individual? colectivo? talvez individual e colectivo!) de cada homem - portanto, tema em tudo relacionado com o conceito de Tradição. E lembrei-me desse texto porque ele adianta uma ideia que me pareceu muito interessante, a ideia de que o homem é um ser fortemente religioso: o valor dado a rituais de passagem (criança/adolescente, adolescente/adulto, etc.), aos ritmos da vida (nascimento/morte), à mudança das estações, às uniões, aos acontecimentos marcantes (primeiro beijo, casamento, morte dos pais, aniversários, etc. etc.), tudo isso faz parte de um resíduo (será que o poderemos chamar assim?, talvez uma reminescência) sagrado ou sacralizado que está tão bem impregnado na nossa consciência que até em tribos que muito pouco evoluíram tecnologicamente se manifesta. Que o homem se afaste dessa religiosidade intrínseca (ou arquetípica, atávica) é apenas fenómeno recente - mas a verdade é que ela permanece lá, mesmo nos mais simples actos do quotidiano. A valoração, ou significação, o significado que damos aos acontecimentos, o modo como os vivemos, permite-nos transformar a face da natureza, e talvez a tecnologia seja isso mesmo, uma extensão da dimensão significante humana que se quer tanto manifestar (por que mecanismos obscuros?) que acaba tendo representação última e somente plena de satisfação no plano físico. E contudo, estamos sempre à procura de mais...
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