quarta-feira, 4 de abril de 2007

Diário de Bordo ao Opiário

Farto eu do que apodrece
quis ver a vida como apetece
fazer o que queira, pensar
nada, viver deitado na esteira
manso à borda d'água
mas de todos falho e de todos findo
neste mar que não tem bravura
o meu corpo é todo procura
sem encontrar porto ou destino
passam gentes, por sinal
passam cães e macacos
e eu, lavando a vida em pratos
quero fazer o que não é normal
mas a vida humana é curta
e pequena, demais para os actos
de pura loucura, os assassínios
e os suicídios, só fruta
que vendam em qualquer novela
o melhor será não tê-la, mas
que é dela? Não existe! é só farpela
não resiste ao gosto nem a não vê-la
é mais metade de coisa que ficou inacabada
prostrada no chão, de saia levantada
e que já não estende a mão
ah, pudesse dizer uma só palavra
pudesse pensar em querer dizê-la
(seria a fortuna não tê-la), mas não
o meu destino está traçado
desde que mo puseram na mão

Resta-me um consolo, ainda que breve
ter na alma o sono e o sonho leve
doces como um grande bolo
que como com sofreguidão

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