terça-feira, 3 de abril de 2007

Todos os homens não são iguais

Proclama-se o seguinte:

«TODOS OS HOMENS NÃO SÃO IGUAIS.»

e apresentam-se aqui os três argumentos fundamentais que permitem explicar o supracitado. Foram utilizados três argumentos de três naturezas diferentes, de modo a que não pudesse haver dúvida nenhuma quanto à justificação da proposição.

ARGUMENTO N.º 1 - O Argumento Físico
Todos os homens não são iguais porque não existem dois homens iguais fisicamente. Não se trata aqui de estabelecer a distinção entre homens e mulheres. E, para que não se comece aqui a formar a sombra da dúvida, proclama-se da seguinte forma: Não existem dois Homens iguais fisicamente. Nem as mulheres são iguais aos homens, nem os homens são iguais às mulheres, é certo. Mas nem cada homem é igual a outro homem e nem cada mulher é igual a outra mulher. Para Homens de constituição genética diferente, esta proposição é óbvia: diferentes constituições genéticas expressam-se de modos diferentes. Mas podemos ainda pensar no caso dos gémeos verdadeiros, ditos univitelinos, que possuem a mesma constituição genética. Nesse caso, e para que não restem dúvidas, proclama-se: Nem mesmo são iguais os gémeos verdadeiros. O que a ciência nos mostra é exactamente que, apesar de iguais constituições genéticas, estas podem sofrer alterações (mutações) ao longo do tempo. Mas este argumento pode ser contornado se se disser que, na ausência de tais mutações, os gémeos univitelinos são iguais. Para isso, proclama-se o seguinte: Todos os Homens são diferentes fisicamente porque a expressão do seu conteúdo genético é diferente consoante os estímulos que recebem do meio em que se encontram. Os desenvolvimentos na epigenética permitem-nos concluir isso, e também os estudos psicológicos de casos. Existe adaptação individual dos Homens ao ambiente em que se encontram. Os conteúdos genéticos que um Homem expressa não são iguais aos conteúdos genéticos que outro Homem expressa. Apenas se dois gémeos univitelinos forem submetidos aos mesmos estímulos ambientais pela mesma sequência espacial e temporal é que ambos poderiam ser iguais. Ora, como esses gémeos não andam agarrados durante toda a sua vida, eles nunca podem ser iguais. Mas ainda o caso particular de gémeos univitelinos siameses não separados pode fazer-nos crer que esses seriam iguais. Proclama-se o seguinte: Nem mesmo os gémeos univitelinos siameses não separados são iguais fisicamente porque o simples facto de permanecerem agarrados um ao outro leva a que os estímulos do meio, embora sendo os mesmos para ambos, nas ocasiões em que são distribuídos de forma diferencial, isto é, quando são distribuídos em diferentes quantidades, levam a diferentes expressões genéticas. Como os estímulos do ambiente são, pela sua própria natureza, caóticos, dada a distribuição geológica e biológica do planeta, então a proposição anterior é confirmada eliminando a possibilidade da existência de estímulos ambientais constantes e iguais em sentido e direcção, distribuição qualitativa e quantitativa, pelo espaço e pelo tempo.

ARGUMENTO N.º 2 - O Argumento Psicológico
Todos os homens não são iguais porque não existem dois homens com igual psiquismo. Para além de haver como prova o psiquismo de todos os homens do mundo, sujeito à mudança no tempo e no espaço, o homem, como já mostrou Piaget, nunca visualiza uma situação como ela é, mas sim como ela é para si. Isto é, cada homem nunca vê a realidade, apenas o fenómeno, apenas aquilo que dá significado ao captar de cada situação. Assim é formado o psiquismo individual e assim se constituem as redes de associação psíquicas já desde o tempo de Freud conhecidas. Para cada estímulo do ambiente, as múltiplas percepções desse estímulo são infinitas, porque são construídas com base nas percepções anteriores e nas interpretações dessas mesmas percepções, também elas únicas a cada homem. O psiquismo humano interfere no acto de conhecer, de tal modo que é impossível que dois interpretem exactamente da mesma maneira todos os estímulos que cheguem até eles. Este é o grande erro da Sociologia, que procura explicar o indivíduo através do Todo, quando deveria antes fazer o caminho inverso.

ARGUMENTO N.º 3 - O Argumento Espiritual
Todos os homens não são iguais porque não existem dois homens com o mesmo espírito. Se todos os homens são filhos de deus, e deus é infinito, e igual a si mesmo, portanto, não podendo deixar de ser o que é, então todos os seus filhos deveriam participar da mesma natureza do seu pai. Errado! Deus é infinito porque se move na eternidade; ora, os homens movem-se num contexto espácio-temporal, finito. Portanto, nunca poderiam ser infinitos. Deus é sempre igual a si mesmo, e portanto cada parte de deus é sempre igual a outra parte que se lhe queira comparar. Mas os homens nascem e morrem em diferentes contextos, e são, portanto, finitos. Não podem expressar o seu carácter infinito, se é que o têm, porque estão condenados à finitude que é ter de nascer e ter de morrer. Assim, cada homem não pode, numa vida humana, expressar um carácter infinito, mas apenas um carácter finito. Mas se admitimos que os homens são realmente filhos de deus, então também o que eles expressam, isto é, também os seus filhos são filhos de deus, porque todos provêm da mesma origem. Assim, apesar do seu carácter divino, os homens expressam não o infinito da divindade, visto que só o poderiam fazer na eternidade, e, nesse caso, seriam o próprio deus, mas apenas expressam um aspecto dessa divindade, que é tudo o que é possível expressar num contexto finito. Como os contextos de finitude entre os homens nunca são iguais (os estímulos do ambiente), então cada homem expressa diferentes aspectos da mesma divindade e, logo, não é possível que cada um deles seja igual espiritualmente.

Proclama-se, assim, que

Todos os Homens são diferentes física, psíquica e espiritualmente. Cada um deles é único no seu modo de expressar na obra física, na obra psicológica e na obra espiritual. Nenhuma delas é igual à outra, e nenhuma delas é igual entre eles.

TUDO É UM OUTRO.

TUDO É ÚNICO.

TUDO É UM.

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