sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Ode ao Tempo Modernizado

Ah, maravilhosa vida das grandes cidades,
Vida em que todos se cruzam e ninguém se fala,
Vida amorfa e vegetativa, como a da máquina ensebada,
Vida de engrenagens e rodas dentadas da rotina,
Vida socialista e tumba do indivíduo,
Asfixia da liberdade e prazer do indistinto,
Morte da vida completa, grande e libertada,
Rua onde todos se olham e ninguém se vê,
Desconhecimento de si, do outro e de todos,
Competição darwiniana por um pedaço de nada,
Luta pela sobrevivência quando a vida já foi há muito esquecida,
Charco de água estagnada que só sabe lançar seu fedor para as alturas desconhecidas,
Prazer de mortificação apagada, de falta de luz na rua, de camisa-de-força exangue...


O homem moderno já não vive, apenas sobrevive.
Apenas vive sobre a vida, e já não no cerne dela,
limita-se a passar-lhe por cima sem nunca se sentir uno nela,
limita-se a dar-lhe um tímido olhar fugidio enquanto o empurram pela passadeira rolante da linha de montagem,
é um filho do seu tempo que nasceu morto ainda antes de ser parido.

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