terça-feira, 4 de março de 2008

Deu-nos Deus o tempo e o espaço como grandes lições de quem ensina a ver. O espaço todo, na imensidão da terra que pisamos, para que nos lembremos de que para além do chão onde nascemos e por onde fomos paridos muita mais terra há para pisar em vida; o espaço todo, na imensidão da terra que há debaixo das águas, para que nos lembremos que a maior parte dessa terra que há está escondida dos nossos olhos, e que só depois de usarmos da Ciência a poderemos alcançar; o espaço todo, na imensidão do universo que há para além de nós, para que nos lembremos que nem o espaço que vemos nem o espaço que não vemos completam o todo, e que esse todo que existe é um espaço que ultrapassa a capacidade de nossos passos. Deu-nos Deus o tempo todo, no instante em que nascemos, para que nos lembremos de que é de um instante que se insufla a vida e que em todos os instantes ela pode voltar a ser insuflada; o tempo todo, na sucessão de instantes em que vivemos, para que nos lembremos que em cada instante temos em nossas mãos a escolha de insuflar também a vida ou escoá-la e que são os resultados dessas escolhas finitas que definem a vida temporal que havemos de levar; o tempo todo, no instante em que damos o último sopro, para que nos lembremos de que é também de um instante que se apaga a vida e que este empréstimo que nos foi concedido tem seu prazo de validade na hora do ajuste de contas. E olhai a grande dádiva que foi esta criação de Deus: depois de nossa queda do Paraíso Celestial e da cegueira a que nos submetemos por vontade das imperfeições que gerámos na alma, deu-nos Deus o Tempo e o Espaço em toda a sua imensidão, e acorrentou-nos a ambos, para que soubéssemos carregá-los como Cristo carregou a sua Cruz e, por nossa vontade, a levássemos ao Calvário da Eternidade, que é a casa e o trono do próprio Deus, e nela nos despojarmos das roupagens com que nos vestimos. É grande esta honra em carregar tão pesada Cruz e em subir tão íngremes degraus, pois que a cada passada o Tempo e o Espaço se mortificam em nós e se vão esvanescendo até que alcancemos o Reino de Deus. Porque não podem então o Tempo e o Espaço com as leis da própria Eternidade, que é a casa de Deus? Porque o Tempo e o Espaço foram dados ao homem como carapaça de seu corpo, e por isso a sua acção está limitada ao mundo físico que podemos observar. Longe deste nosso mundo físico com que olhos nos olham e com que olhamos com nossos olhos está o mundo do espírito, que é a casa de Deus; a essa casa não pode ir passo nenhum, e nem instante floresce ou desabrocha; tudo é eterno ao mesmo tempo - e esses olhos com que olhámos o mundo físico não podem suster a visão da Eternidade: só os olhos da inteligência, os olhos do verdadeiro intelecto da alma, podem contemplar a visão da infinita Casa de Deus.



Sermão do Tempo e do Espaço

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