quarta-feira, 26 de março de 2008

A incapacidade para estabelecer uma relação interpessoal duradoura reside em traumas afectivos não superados. O importante não é garantir um desenvolvimento afectivo até à idade adulta isento de traumas; na verdade os traumas fazem parte deste próprio processo de desenvolvimento. Assim, uma constituição psíquica que permita o estabelecimento e desenvolvimento de relações interpessoais construtivas não é aquela que não sofreu com os traumas do passado - será possível evitar qualquer trauma? - , mas sim aquela que é capaz de, autonomamente, reconhecer, identificar e aceitar os traumas por que passou. A aceitação é o mecanismo psíquico fundamental e necessário para a plena compreensão da história de vida individual e para o saudável desenrolar do processo de aprendizagem.

Tratado sobre as relações humanas

6 comentários:

Masturbatrix disse...

Será por falta dessa "aceitação" que a nossa época se tornou tão incompetente, feia, cruel, mesquinha, estúpida, depressiva e, potencialmente mortal?

Hummm...não creio.
A verdadeira razão deve estar noutro lugar.

Daniel disse...

trauma é toda a memória daquilo que nos acontece na vida e que nos faz sofrer. Viver é sofrer. Mas isso não significa que viver, ou até mesmo sofrer, seja mau. Se procurarmos apenas o que de mau existe em nós ou nos outros, então veremos coisas más. Mas ninguém nos diz que só existam coisas más; pode muito bem ser que a nossa percepção das coisas esteja num dado momento mais ofuscada e que entendamos aquilo que nos acontece de uma maneira que não é correcta. Faríamos muito melhor em dizer que aquilo que a vida nos traz acontece - ao invés de dizermos nós que tal assunto é bom ou é mau. Porque sucede muitas vezes que aquilo que nos parecia a nós, ou que tínhamos entendido nós como alguma coisa ruim seja, na verdade, um degrau que a vida nos lança para que exercitemos os nossos músculos a um tal ponto em que sejamos capazes de subir aos patamares mais altos. E se isso for assim, então a razão por que existe tanta gente negativa, ou que só dá valor às coisas que entende como más daquilo que a vida lhes mostra, é simplesmente o facto dessas pessoas não quererem exercitar os seus músculos para chegar a esses patamares. Se se entende como uma aceitação, ou um reconhecimento, essa acção de esticar a perna para pular para o degrau de cima, então podemos dizer que aquilo que há de mau foi aquilo em que quiseram ficar aqueles que assim o acharam. Isto é, não devemos nós deixar nunca de masturbar a nossa imaginação.

Do éter para o éter disse...

Nascemos para aprender,
E só há uma maneira de aprender, que é errando!
Só quando aprendemos uma lição podemos transitar para a seguinte!
Há algumas dificeis de aprender, mas podemos sempre tentar de novo, até conseguir!

Gostei do teu blog, voltarei...
Um abraço

Cataclismo Cerebral disse...

A Aceitação é a solução, a Negação é o erro...

Daniel disse...

do éter para o éter, como do pó para o pó. Se o sol atrai o âmbar, o âmbar atrai o éter, o éter atrai o íman, o íman atrai o ferro, certamente subiremos nessa passarola até à eternidade. Sê sempre bem-vinda; mas volta apenas se aqui tiveres algo a aprender.

Daniel disse...

Caríssimo Cataclismo, a grande Negação é o estado em que tanta gente vive: o estado em que não se ouve, não se vê, não se fala. Só se pode estar realmente vivo se se aceita a vida e tudo o que ela nos dá. Crescer é aceitar que se deixe lapidar por um cinzel cujo objectivo, se é que ele existe, é o de tirar ao diamante toda a pedra pardacenta e bruta que só empobrece o nosso brilho. Seja com a imagem ou com a palavra, lapide-se!

Um abraço