segunda-feira, 10 de março de 2008

os beijos técnicos televisivos são das coisas mais ridículas que há. Não há neles um gesto que possa revelar alguma autenticidade, nem sequer da mais caduca. Ou é o rapazote que se afiambra demasiado, enrolado na sua própria gula adolescente, e mete mais a língua dentro desse receptáculo cândido e escorregadio que depressa que fecha e se afasta, ou é o rapazito tímido que não consegue chegar o seu linguado ao vaso de receber da donzela, que anseia sofregamente por essa água de pecado que lhe queima com ardor. Na verdade, os únicos beijos que podem merecer menção de tal título devem mesmo ser os beijos homossexuais que tão levemente são escamoteados das puritanas almas portuguesas. Felizmente para esses já fez a publicidade e também a televisão a multiplicação dos pães e a transformação das águas de cada lar português em vinho: como o que escandaliza mais, o que causa sensação, por mais mesquinha que seja, por mais aviltante ou debochada, é aquilo que dá mais dinheiro, então até esses podem estar descansados nos seus beijos técnicos e desfigurados, na desmembração do amor, na fraude das amizades que não existem, dos amantes que não existem, na grande contemplação da Grande Ausência Individual, a perversão dos nossos tempos que é natural a cada um...

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